São Paulo, domingo, 12 de março de 2000


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SÃO PAULO
Prefeito Celso Pitta nomeou indicado por ex-especulador, que já havia sido demitido anteriormente
Nahas controla diretoria do Anhembi

ROBERTO COSSO
da Reportagem Local

O ex-especulador Naji Nahas -apontado pela mulher do prefeito Celso Pitta (PTN), Nicéa, como tendo aconselhado o prefeito a fazer um "caixa" para depois que saísse do governo- controla cargos na Prefeitura de São Paulo.
Manoel Justino de Almeida Netto, diretor administrativo-financeiro do Anhembi Turismo e Eventos (empresa pública do município), foi nomeado pelo prefeito por indicação de Nahas.
Conhecido como Nelito, ele foi empossado em 7 de janeiro deste ano, mas havia sido exonerado do mesmo cargo, em 30 de abril de 99, quando Pitta demitiu toda a diretoria do órgão em resposta às investigações da Polícia Civil e do Ministério Público que apuravam a existência de funcionários fantasmas na empresa.
Nelito foi sócio de Naji Nahas em um haras e também trabalhou para ele como administrador do haras Inshalla.
"Eu disse ao prefeito que ele (Nelito) é um cara decente e que a demissão dele foi injusta", afirma Naji Nahas.
O ex-diretor, que ainda está sob investigação, foi readmitido pelo prefeito.

Depoimento
O promotor José Carlos Blat, que investiga a contratação dos funcionários fantasmas por parte da empresa, afirma que os inquéritos ainda estão em andamento e que Nelito será intimado a prestar depoimento.
"Todos os diretores da época serão ouvidos porque eram os responsáveis pela empresa quando foram apuradas inúmeras irregularidades", diz Blat.
Nahas afirma ser "amigo" de Celso Pitta e diz que conheceu o prefeito quando ele era empregado do ex-prefeito Paulo Maluf (PPB) na Eucatex. O ex-especulador também se diz amigo de Maluf.
"Tenho relações sociais com o prefeito. Quando eu o encontro, converso. Mas isso é raro, umas três ou quatro vezes por ano. Só pisei na prefeitura uma vez, mas ainda foi na época do Paulo (Maluf)", diz Nahas.

Cheque sem fundo
Quando era especulador, em 89, Nahas controlava a empresa Selecta, que emitiu um cheque sem fundos para pagamento de operações de compra de ações.
A devolução do cheque provocou uma quebradeira de corretoras porque os bancos que financiavam Nahas retiraram o crédito do ex-especulador.
A Polícia Federal concluiu à época que havia uma cadeia de manipulação do mercado.
Nahas chegou a ser condenado à prisão, mas o STJ (Superior Tribunal de Justiça) anulou os processos contra ele, em virtude de irregularidades nas perícias.

Empresas de lixo
Na última sexta-feira, Nicéa Pitta afirmou que ela e o prefeito foram recepcionados por Nahas em Paris, durante a Copa do Mundo de 1998.
A viagem, segundo Nicéa, foi paga pela empresa francesa Lyonnaise des Eaux, dona da Vega, que presta serviços de limpeza pública em São Paulo.
Nahas confirmou à Folha ter intermediado a venda da Vega para a Lyonnaise des Eaux, mas não foi localizado para comentar a afirmação da primeira-dama.
Em 98, o vereador José Eduardo Cardozo (PT) pediu a abertura de inquérito civil pelo Ministério Público Estadual, mas o caso foi arquivado após Pitta apresentar comprovantes das despesas.
Agora, Nicéa afirma que a viagem havia sido paga pela empresa de lixo e que Pitta só resolveu pagar as despesas com cartão de crédito em virtude da repercussão do caso na imprensa paulistana.
O promotor Nilo Spinola Salgado Filho, da Promotoria de Justiça da Cidadania, disse que, se comprovado, o fato de Pitta ter viajado a convite da empresa pode, em tese, configurar ato de improbidade administrava -punível com a perda do cargo público.
"A notícia dada por Nicéa configura prova nova que permite o desarquivamento do inquérito", afirma Salgado Filho.


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