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São Paulo, quarta-feira, 12 de março de 2003

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CASO SILVEIRINHA

Próximos a depor ocupavam cargos de chefia quando principal suspeito já não fazia parte do comando da Fazenda

CPI "esquece" Garotinho e foca gestão Benedita

MURILO FIUZA DE MELO
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Criada em função do escândalo do "propinoduto" envolvendo fiscais da Secretaria de Fazenda do Rio durante o governo Anthony Garotinho (1999 a abril de 2002), a CPI da Assembléia Legislativa está perdendo o foco inicial.
A maioria dos nove deputados da comissão pertence à base aliada da governadora Rosinha Matheus (PSB), mulher de Garotinho -até agora preservado nas investigações. A CPI derrubou um requerimento para convocar o ex-governador, embora ele tenha sido citado em vários depoimentos.
Nesta semana e na próxima, a CPI ouvirá pessoas que ocuparam cargos de chefia na gestão de Benedita da Silva (PT), que ficou no governo entre abril e dezembro de 2002 -período em que o fiscal Rodrigo Silveirinha Corrêa, acusado de comandar o esquema de corrupção, já não fazia parte do comando da Fazenda.
Na lista de depoimentos, foram chamados nove pessoas do governo Benedita e apenas cinco do de Garotinho. Desde que iniciou os trabalhos de investigação, em 4 de fevereiro, a CPI ouviu 38 pessoas.
Segundo o deputado Carlos Minc (PT), a lista de pedidos de quebra de sigilos bancário, fiscal e telefônico aprovados pela CPI atingem 20 integrantes do governo Benedita e seis da gestão Garotinho. Minc reclamou com o presidente da comissão, Paulo Melo (PMDB), e o presidente da Assembléia, Jorge Picciani (PMDB), que prometeram modificar a lista.
"Não queremos cordão de segurança em torno da Benedita, mas não podemos permitir que se desvie o foco, porque daqui a pouco a CPI do Silveirinha vai virar a CPI da Benedita", disse Minc.
Melo rebateu a crítica. Segundo ele, a CPI foi montada para apurar casos de corrupção na Fazenda de 1999 até hoje. "Estamos investigando a conduta funcional de fiscais, e não o governador A ou B."
Antes de assumir a presidência da comissão, Melo chegou a dizer, em entrevista à Folha, que a CPI iria "acrescentar pouco" às investigações do caso que vêm sendo feitas pelo Ministério Público Federal. Ontem, a comissão cogitou a possibilidade de convocar Benedita para depor, mas não decidiu.
Ontem, o fiscal Raul Tardin, suspeito de participar de um esquema de extorsão à Light, em 1999, chorou ao falar de seu afastamento da Inspetoria de Grande Porte após ter aparecido em fitas gravadas pela empresa.
Tardin alegou que nas fitas gravadas pela Light ele aparece apenas falando sobre os detalhes técnicos da fiscalização.
Depuseram ontem também o ex-presidente da Junta de Revisão Fiscal na gestão Benedita, Alfredo de Souza Plácido, e Vanderley Guedes, ex-assessor tributário da Light. Plácido disse não se lembrar do cancelamento de 58 autos de infração contra a rede de supermercados Carrefour, durante a sua gestão, no valor de R$ 3,4 milhões.


Colaborou FERNANDO MAGALHÃES, free-lance para a Folha


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