São Paulo, domingo, 12 de março de 2006

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"MENSALÃO"/ NOVAS CONEXÕES

Tony Garcia diz à "Veja" que Bertholdo recebia dinheiro do PT e o distribuía em sala ao lado da liderança do PMDB na Câmara

Sócio de ex-assessor do PMDB reafirma "mensalão" do partido

DA REDAÇÃO

A revista "Veja" desta semana traz uma entrevista com o empresário Antônio Celso Garcia, sócio informal do advogado Roberto Bertholdo, preso há quatro meses no Paraná e apontado como responsável pela distribuição de uma mesada a deputados do PMDB.
Na entrevista, Tony Garcia, que também esteve preso por 81 dias devido a um processo por fraude em consórcio, diz que Bertholdo tinha reuniões quase todas as semanas com três dirigentes do PT na época -Delúbio Soares, Marcelo Sereno e Silvio Pereira. Ele também mantinha contatos com o então ministro José Dirceu.
Nesses encontros, Bertholdo recebia dinheiro em espécie e viajava para Brasília, onde distribuía a mesada a "mais de 50 deputados do PMDB". Ainda segundo a entrevista publicada pela revista "Veja", entre 2003 e 2004 Bertholdo viajou a Luxemburgo, um paraíso fiscal na Europa, onde teria ajudado a operar contas do PT.
De acordo com Garcia, Bertholdo teria lhe dito que tinha "encontros semanais com as pessoas que operavam essas coisas com o PMDB", quais sejam, "Delúbio Soares, Silvio Pereira e Marcelo Sereno". Segundo Garcia, Bertholdo nunca falou de Marcos Valério de Souza: "O Valério não era fonte dele. Ele dizia que a fonte dele era mesmo a direção do PT".
Os encontros com os petistas, segundo Garcia, ocorriam em "escritórios ou hotéis. O Meliá era um deles. O escritório era o de Silvio Pereira". As reuniões eram quase sempre às segundas-feiras e serviam ainda para discutir indicações políticas para o governo. "Ele dizia que pegava o dinheiro, em espécie, em São Paulo, e depois o transportava a Brasília em jatos particulares ou alugados. Voava pessoalmente com dinheiro vivo. Muitas dessas vezes estava acompanhado do assessor, Guilherme Wolf. O Bertholdo nunca andava com menos de 50 mil, 100 mil reais em dinheiro. Ele falava que era para fazer coisas eventuais, atender um ou outro".
Ainda segundo a revista, Bertholdo teria deixado claro que atendia "mais de 50 deputados do PMDB. Mas ele nunca falou em nomes e eu nunca perguntei". Conforme Garcia, "cada deputado tinha um preço. Havia uns que custavam 10 mil, outros que custavam 20 mil, outros 100 mil, outros 200 mil... Que dependia do grau de importância do deputado e das matérias a ser votadas".
Garcia diz que o dinheiro era entregue aos políticos "numa sala ao lado da liderança do PMDB na Câmara, quase sempre à noite. Ou então numa casa que ele alugou no Lago Sul e onde fazia festas para membros do PMDB, do PT, ministros... Ele dizia que houve festa até com a presença do presidente da República".
O empresário declarou à "Veja" que Bertholdo nunca citou quem eram os beneficiados pelo "mensalão", mas que era fácil descobrir: "Basta ver quem eram os deputados do PMDB que votavam com o governo".
Segundo a revista, Bertholdo teria dito "que levantou 8 milhões de reais junto ao PT para fazer do José Borba líder do PMDB, por exemplo. E tempos depois, quando a turma do Anthony Garotinho destituiu o Borba, ele me disse que gastou outros 6 milhões de reais pagando a deputados do partido para o Borba voltar a ser líder". Ele citou também o caso do apresentador Carlos Massa, o Ratinho: "Bertholdo me contou uma vez que, junto com o Delúbio estava negociando o apoio do Ratinho ao governo. Depois de um tempo, numa conversa ao telefone, ele me disse o seguinte: "Lembra do negócio do Ratinho? Já deu certo. Está fechado... Prestei o maior serviço ao presidente'".
Segundo ele, parte do dinheiro do PMDB vinha de empreiteiros com contratos com Itaipu.


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