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Lula pedirá a Obama menos protecionismo durante a crise global
Presidentes do Brasil e dos EUA se encontrarão no sábado; brasileiro insistirá no fim de restrições à importação de etanol
Pauta do encontro incluirá o estreitamento de laços com países da América Latina; Planalto espera que ocorra "boa química" entre os dois
KENNEDY ALENCAR
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No primeiro encontro pessoal com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva pretende propor que o
americano se empenhe para
concluir a Rodada Doha, evite
medidas protecionistas da
maior economia do mundo no
momento de crise e tenha ação
mais efetiva sobre os bancos-
sem descartar eventual estatização temporária.
No Palácio do Planalto, há
preocupação em que ocorra
uma "boa química" no encontro deste sábado em Washington, no qual Lula pretende insistir no fim das restrições
americanas à importação do
etanol brasileiro e sugerir a
Obama que faça gestos de boa
vontade para a América Latina,
sobretudo para países com forte sentimento anti-EUA.
Ontem, o ministro Celso
Amorim (Relações Exteriores)
demonstrou otimismo quanto
a este aspecto, porque há, segundo ele, uma "afinidade indiscutível de pensamento" entre Lula e Obama. "Nós identificamos até semelhanças, às vezes, nas frases usadas em relação à esperança, à mudança. Há
uma afinidade, eu diria, intelectual, que vai permitir que esta
relação [entre EUA e Brasil],
que já é boa, possa ser muito
mais aprofundada", afirmou.
Ministros e assessores de Lula disseram à Folha que o brasileiro tem na carreira aspectos
simbólicos como Obama. Lula
é um retirante que conheceu a
pobreza, fez carreira sindical e
chegou à Presidência. O americano é o primeiro negro a presidir os Estados Unidos.
Pauta
Na pauta de Lula e Obama,
segundo Amorim, deve entrar
um debate sobre "os remédios
para a crise financeira", o que
inclui a necessidade de aumentar e facilitar o crédito para o
comércio entre países em desenvolvimento. Segundo Marco Aurélio Garcia, assessor da
Presidência para assuntos internacionais, "será uma agenda
de poucos pontos".
Lula pretende pedir a Obama
que se empenhe e não faça exigências excessivas para viabilizar a conclusão da Rodada Doha, as negociações para liberalização do comércio internacional que estão paradas no âmbito da OMC (Organização Mundial do Comércio).
O brasileiro também aconselhará Obama a tomar uma atitude mais definitiva em relação
aos bancos americanos que estão em dificuldade. A intenção
é sugerir que ele não descarte a
estatização.
No campo energético, Lula
priorizará o álcool. O Brasil levará mais uma vez aos EUA o
pleito sobre a necessidade de
eliminar, ainda que gradualmente, as tarifas de importação
sobre o álcool combustível.
Por ora, o governo manterá o
discurso de que não tem como
substituir a Venezuela como
fornecedor de óleo cru aos
EUA, já que não tem excedente
para exportar. O petróleo do
pré-sal ainda vai demorar a ser
explorado em larga escala, e a
prioridade do país é agregar valor -refinar aqui e criar uma
indústria do petróleo.
O terceiro ponto da agenda
desejada pelo Itamaraty será a
América Latina. Hugo Chávez,
presidente da Venezuela, pediu
a Lula que o ajude a melhorar
relação com EUA e o aproxime
de Obama. Lula pretende fazer
isso, mas num contexto de
maior "conciliação" com a
América Latina, no sentido de
ajudar Obama a olhar para cá
"com a lógica certa", nas palavras de Amorim.
Sobre Cuba, o presidente deve sinalizar que são positivas as
medidas para suavizar ou encerrar o bloqueio americano.
A ministra Dilma Rousseff
(Casa Civil) integrará a comitiva de Lula nos EUA. A Casa
Branca reservou pouco mais de
uma hora para o encontro, segundo o chanceler Amorim.
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