|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO MENSALÃO/HORA DAS CONCLUSÕES
Para procurador, "organização criminosa" operou mensalão
Antonio Fernando de Souza denunciou ao STF 40 envolvidos, entre eles Valério e Delúbio
Lula foi poupado, mas Dirceu é citado no texto como "chefe do organograma delituoso"
ANDRÉA MICHAEL
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao concluir a primeira parte do
inquérito do "mensalão", o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, denunciou 40 pessoas ao STF (Supremo
Tribunal Federal) sob a acusação
de integrarem uma "organização
criminosa" comandada pelo ex-ministro José Dirceu (Casa Civil)
e pelos petistas José Genoino, Delúbio Soares e Sílvio Pereira.
Dentro da organização, os petistas teriam se associado à "quadrilha" do empresário Marcos Valério de Souza, com o apoio de diretores do Banco Rural. O objetivo
seria dar "continuidade do projeto de poder do Partido dos Trabalhadores, mediante a compra de
suporte político de outros partidos", diz o procurador.
Assim como a CPI dos Correios,
o procurador-geral poupou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Não há nenhuma referência ao
presidente Lula que possa ser tomada como elemento capaz de
justificar uma ação penal. O mesmo acontece em relação ao filho
dele", afirmou Antonio Fernando, em entrevista ontem.
A denúncia foi encaminhada no
dia 30 de março ao ministro do
STF Joaquim Barbosa. Somente
se o ministro entender que as acusações têm fundamento, a denúncia se transforma em ação penal e
os seus alvos passam a réus.
Azeredo
O procurador-geral usou na denúncia o termo "mensalão" e
apontou que o pagamento feito a
políticos foi alimentado, entre outras fontes, por dinheiro desviado
do Banco do Brasil. Também afirmou que "todas as imputações
feitas pelo ex-deputado Roberto
Jefferson ficaram comprovadas".
Jefferson, que foi cassado pela Câmara, deu início ao escândalo do
mensalão com uma entrevista à
Folha no dia 6 de junho de 2005.
Na denúncia, de 136 páginas,
Antonio Fernando afirma que o
esquema foi "inaugurado" em
1998, na campanha de reeleição
do senador Eduardo Azeredo
(PSDB) ao governo de Minas Gerais -o tucano não consta da lista de denunciados.
Ele descreve os papéis dos principais personagens da organização depois que o esquema migrou
para o cenário nacional: "José Genoino, até pelo cargo partidário
ocupado, era o interlocutor político visível da organização criminosa, contando com o auxílio direto de Sílvio Pereira, cuja função
primordial na quadrilha era tratar
de cargos a serem ocupados no
governo federal. Delúbio Soares,
por sua vez, era o principal elo
com as demais ramificações operacionais da quadrilha (Marcos
Valério e Rural), repassando as
decisões adotadas pelo núcleo
central. Tudo sob as ordens do
denunciado José Dirceu, que tinha o domínio funcional de todos
os crimes perpetrados, caracterizando-se, em arremate, como o
chefe do organograma delituoso".
Três núcleos
No texto, o procurador-geral
destrincha a suposta organização
em três núcleos. O primeiro, denominado de político-partidário,
é formado por Dirceu, Genoino,
Delúbio e Sílvio Pereira. De acordo com a denúncia, esse núcleo
"pretendia garantir a continuidade do projeto de poder do Partido
dos Trabalhadores, mediante a
compra de suporte político de outros partidos e do financiamento
futuro e pretérito das suas próprias campanhas".
O segundo núcleo, chamado de
"publicitário-financeiro", é composto por Marcos Valério, seus
sócios e funcionários. "O objetivo
do núcleo publicitário-financeiro
era receber vantagens indevidas
de integrantes do governo. Para
isso, quando delineada a vitória
eleitoral do PT em 2002, o senhor
Marcos Valério ofereceu os préstimos da sua quadrilha ao núcleo
político-partidário".
Já o terceiro núcleo, chamado
de financeiro, é formado pela presidência e pela diretoria do Banco
Rural. "Parceiro de longa data do
núcleo publicitário-financeiro na
prática de crimes (1998), o banco
Rural também ingressou na organização criminosa em busca de
vantagens indevidas de integrantes do governo federal." Os bancos Rural e BMG emprestaram
em 2003 e 2004 R$ 55 milhões a
Valério, que repassou o dinheiro
ao PT -operações apontadas pelo publicitário e pelo partido como a fonte do mensalão.
Os integrantes desses três núcleos foram denunciados pelo crime de formação de quadrilha.
Em outra parte da denúncia são
apontados parlamentares e assessores como beneficiários do mensalão (leia na pág. A5), além do
marqueteiro Duda Mendonça e
sua sócia Zilmar Fernandes. Nesse grupo estão empresas "de lavar
dinheiro", como a Bônus-Banval,
que repassou dinheiro a deputados aliados do governo.
Gushiken
O ex-ministro Luiz Gushiken
(Comunicação de Governo) e o
ex-diretor de Marketing do Banco
do Brasil Henrique Pizzolato foram denunciados por peculato
(utilizar-se de cargo público para
apropriação ilegal de dinheiro).
Para o procurador, eles têm responsabilidade em desvio de dinheiro do banco estatal por meio
do fundo Visanet, do qual a instituição é cotista. O fundo é abastecido por instituições bancárias e
usado para bancar publicidade de
cartões de crédito e de débito.
Entre os beneficiários do esquema também está o ex-ministro
Anderson Adauto (Transportes).
Um assessor dele sacou dinheiro
das contas de Valério.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Escândalo do mensalão/Hora das conclusões: STF só deve abrir processos no ano que vem Índice
|