São Paulo, sábado, 12 de abril de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Discutir 3º mandato é bobagem, diz Lula

Petista, em visita oficial à Holanda, afirmou que debate sobre esse tema é "falta de assunto" da oposição e voltou a elogiar Dilma

Presidente rejeita hipótese de outro mandato seguido e diz que "qualquer pessoa que se ache imprescindível" põe em risco a democracia


CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A HAIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva rejeitou ontem, de novo, com uma tirada filosófica a hipótese de um terceiro mandato consecutivo: "Qualquer pessoa que se ache imprescindível começa a colocar em risco a democracia. Pobre do governante que começa a achar que é insubstituível ou imprescindível, pois está nascendo dentro dele uma pequena porção de autoritarismo ou de prepotência. E isso eu não carrego na minha bagagem política".
A frase surgiu durante entrevista concedida a jornalistas brasileiros no Palácio Noordeinde, onde se hospedou nos dois dias da visita à Holanda.
Depois, em palestra a empresários brasileiros e holandeses, Lula retomou o tema ao falar da descoberta da jazida de petróleo de Tupi. "Em 2010, nós estaremos tirando o primeiro barril de petróleo dessa nova jazida. E certamente o Brasil passará a ser um dos maiores produtores de petróleo do mundo e exportador. Só lamento não ser presidente do Brasil quando tudo isso estiver pronto", afirmou.
Filosofada e brincadeira à parte, o presidente listou também um conjunto de razões para ser contra um terceiro mandato: "Não me interessa, não é prudente, a legislação brasileira já prevê apenas uma reeleição, a democracia é um valor incomensurável e nós não podemos brincar com esse valor, a alternância de poder é uma coisa extremamente saudável".
Depois, acabou, sem querer, admitindo que pode surgir algum presidente melhor que ele: "O país vai experimentando, experimentando, um dia ele consegue eleger uma pessoa cada vez melhor do que a outra".
Afastada a idéia do terceiro mandato, Lula subiu num palanque imaginário e disparou críticas à oposição sobre diferentes temas.
Primeiro, sobre a própria idéia do terceiro mandato: "As pessoas que estão preocupadas com o terceiro mandato, achando ruim, nervosas, são as pessoas que não achavam ruim quando os militares ficaram 23 anos no poder -aliás, usufruíram muito nesses 23 anos" (numa óbvia alusão ao DEM).
"Posso dizer a vocês uma coisa de coração: eu acho uma bobagem e uma falta de assunto da oposição ficar discutindo o terceiro mandato."
Depois, virou a metralhadora para o PSDB, ao dizer que os "preocupados" são "as pessoas que aprovaram a reeleição para o governo passado".
E voltou a um tema recorrente na sua retórica, o de que a oposição torce para o país dar errado. "Quando um partido tem dez ou 12 deputados e não tem perspectiva de poder, ele pode fazer qualquer coisa, mas um partido que já governou este país por oito anos, ou um partido que já governou este país desde que Cabral o descobriu, não pode agir como se fossem estudantes torcendo para as coisas não darem certo."
Sobre o dossiê com os gastos de autoridades do governo anterior, o presidente repetiu o que vem dizendo a ministra Dilma Rousseff: não é dossiê, mas banco de dados, "que ficará pronto daqui a alguns dias".
Afirmou também que "alguém roubou" um documento do Palácio do Planalto e o vendeu como uma grande novidade, "como se tivesse descoberto a mina do rei Salomão". Considerou "muito grave alguém roubar um documento de dentro do Palácio do Planalto".
Quanto à ministra, acabou caindo em contradição. Uma jornalista perguntou se ela estava forte. Lula respondeu: "Qual a razão para ela não estar forte? A Dilma é uma ministra extremamente importante, é uma coordenadora excepcional, é a mulher que faz o PAC acontecer 24 horas por dia".
Depois, retificou: "Veja, quando eu digo forte, não tem ministro forte, não existe ministro forte em nenhum governo e em nenhum regime presidencialista".


Texto Anterior: Mídia: Justiça proíbe jornal de publicar reportagens sobre inquérito
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.