|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Dossiê não é crime e todos fazem, diz Tarso
Ministro, para quem dossiê era "questão de conceito", afirma que lei não criminaliza os que coletam dados de adversário
Prática, para ele, é normal no debate político e apenas vazamento deve ser punido; criminalistas confirmam interpretação do petista
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O ministro Tarso Genro
(Justiça) afirmou ontem, durante evento em São Paulo, em
que esteve presente a ex-primeira-dama Ruth Cardoso, que
fazer dossiê não é crime e que
todo governo faz a mesma coisa. Crime, disse, é funcionário
público vazar dado sigiloso.
"Não existe no Código Penal
brasileiro um crime chamado
dossiê", afirmou o ministro,
que há duas semanas havia dito
não ver razão para a Polícia Federal entrar no caso. Na ocasião, disse que o dossiê era uma
questão de "conceito, não de fato determinado".
Ontem, o ministro deu uma
nova definição: "Dossiê é um
conjunto de dados que pode ser
feito pela oposição, pelo debate
político, pelo governo e inclusive pela própria imprensa, como
eventualmente ocorre".
Os gastos pessoais de Ruth e
do ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso foram incluídos no material produzido
em fevereiro por servidores da
Casa Civil subordinados a Erenice Guerra, braço direito da
ministra Dilma Rousseff.
A PF só investiga o vazamento, e não a montagem do dossiê.
"Jamais me reportei ao dossiê da Casa Civil, ao eventual
dossiê ou à coleta de dados. Isso
está sendo examinado pela PF.
O que eu disse sempre é que
não existe uma tipificação penal chamada dossiê, lamento
pela oposição e pela imprensa
que têm insistido nisso", disse
Tarso. Sobre a fabricação do
documento, insistiu que todo
governo tem o direito de "coletar dados para compará-los
com governos anteriores e
mostrar a lisura de seu comportamento".
"Tanto é que isso vem sendo
praticado há anos por outros
governos e de forma aprovada
por tribunais de contas", afirmou o petista.
Sobre as anotações existentes no material, detalhando
gastos de Ruth e de FHC, Tarso
disse não saber se isso será investigado no inquérito policial.
Durante o almoço ontem,
oferecido pela Fundação Santillana no Brasil, Tarso e Ruth se
cumprimentaram e conversaram rapidamente. Eles ficaram
em mesas diferentes.
Consultados pela Folha, os
advogados criminalistas Antônio Cláudio Mariz de Oliveira e
José Roberto Leal afirmaram
que montar dossiê não é crime.
"Não conheço nenhum dispositivo de lei que classifique
isso como crime. Por outro lado, o vazamento de dado sigiloso é crime", disse Leal.
Os advogados citaram o artigo 325 do Código Penal, que
criminaliza a violação de sigilo
profissional -a pena é de seis
meses a dois anos de prisão,
além de multa.
"Se na elaboração do documento houve violação de sigilo
profissional, isso é crime", afirmou Mariz de Oliveira.
Texto Anterior: Holandesas Próximo Texto: Reprodução de tela provoca mal-entendido Índice
|