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CNBB anuncia apoio a políticas anti-Aids
Documento, porém, não detalha medidas nem menciona uso de preservativo, que sempre foi criticado pela Igreja Católica
Texto, ainda não divulgado oficialmente, reúne quais diretrizes vão nortear igreja no país até 2010 e também aborda ecologia e economia
MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM INDAIATUBA (SP)
Documento da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil) intitulado "Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil", que
norteará os rumos da Igreja Católica no país até 2010, acena
pela primeira vez com a possibilidade de a igreja apoiar "políticas governamentais" de combate à Aids, mas sem detalhar
essas medidas.
O governo federal tem na
campanha pelo uso de preservativos uma de suas políticas de
prevenção contra a Aids e
doenças sexualmente transmissíveis.
No texto da CNBB, os bispos
não usam a palavra preservativo. A Igreja Católica sempre foi
contrária ao uso de preservativos pelos fiéis.
No tópico intitulado "A pessoa, a pobreza, a exclusão e as
ameaças à vida", a CNBB afirma que "a Pastoral da Aids se
realiza em cinco direções: prevenção, intervenção, recuperação, ressocialização, acompanhamento e apoio das políticas
governamentais para combater
esta pandemia [Aids]".
O tópico cita ainda que a
"prevenção, baseada em critérios éticos e cristãos, deve implementar a informação, promover a educação e levar a assumir atitudes responsáveis
diante da epidemia".
A Folha obteve uma cópia do
documento, que tem um total
de 60 páginas e não foi divulgado pela entidade.
O texto aborda também outros assuntos, como a situação
econômica brasileira atual e
ecologia. Foi aprovado pelos
bispos durante a 46ª Assembléia Geral da CNBB, em Indaiatuba (SP), encerrada na
manhã de ontem.
Quando a reportagem obteve
a cópia do texto, a direção da
CNBB já havia concedido entrevista sem abordar o tema.
Durante a tarde, os bispos
que dirigem a entidade estavam em trânsito e não foram
localizados.
Segundo a CNBB, por meio
de sua assessoria de imprensa,
o documento ainda passará por
revisão ortográfica antes de ser
encaminhado para publicação
em editoras católicas.
"Brecha"
Para o secretário-executivo
da Pastoral DST/Aids da
CNBB, frei José Bernardi, o
texto abre uma "brecha" para
que agentes da pastoral possam
indicar o uso de preservativos
em certos casos.
"Eu acho que é uma brecha
que foi deixada de forma até voluntária pelos bispos, embora
não afirmem explicitamente.
Os agentes da pastoral, que trabalham lá na ponta com a epidemia, com pessoas vivendo
com Aids, de repente podem
ter essa liberdade [de indicar o
uso do preservativo]", disse.
De acordo com ele, há situações "em que não há outro jeito" a não ser aconselhar o uso
da camisinha. "Para ser a favor
da vida, às vezes você tem que
se valer dos próprios métodos
da ciência e do desenvolvimento tecnológico, como nos casos
de profissionais do sexo, de casais em que um é portador do
vírus HIV e em presídios, por
exemplo", disse.
O secretário-executivo disse
ainda que "tanto igreja como
governo estão do mesmo lado".
"Nós nos comprometemos a fazer o enfrentamento da epidemia. A igreja também quer colaborar com o governo para controlá-la."
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