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Litoral entre RJ e ES pode ter novas usinas nucleares
Região foi selecionada pelo grupo que define o Programa Nuclear Brasileiro
Segue indefinido local do depósito para o combustível queimado nas usinas, ainda radioativo; cidade escolhida pode ter prêmio financeiro
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A região entre o litoral norte
do Rio de Janeiro e do Espírito
Santo foi pré-selecionada pelo
governo para abrigar as duas
novas usinas nucleares planejadas para entrar em operação
nas próximas duas décadas na
região Sudeste, disse o ministro
Edison Lobão (Minas e Energia), integrante do grupo que
define a nova fase do Programa
Nuclear Brasileiro.
"Em primeiro lugar, é preciso
água, água e muita água nas
proximidades", afirmou o ministro a respeito dos critérios
usados na seleção, pautada em
estudos da Eletronuclear, estatal responsável pela construção
de Angra 3 e pela operação das
duas primeiras usinas nucleares brasileiras.
Lobão disse que está descartada a construção de uma usina
em São Paulo por causa da
grande concentração urbana (o
Estado tem aproximadamente
40 milhões de habitantes distribuídos em 645 municípios).
O ministro citou como áreas
preferenciais para a instalação
de usinas os municípios de Macaé e Campos, no norte fluminense, que já se destacam hoje
pela exploração de petróleo.
Outras duas usinas, de um
pacote de quatro a serem construídas até 2030, estão planejadas para o Nordeste. Mapeamentos de satélite orientam a
escolha do local, prevista para
ocorrer até 2010, entre o litoral
da Bahia e de Pernambuco.
Depósito radioativo
Segue indefinida, no entanto,
a localização do depósito para o
combustível queimado nas usinas, ainda radioativo -cujo
projeto detalhado é uma exigência ambiental para a entrada em operação de Angra 3,
prevista para 2014. A construção da usina, interrompida nos
anos 80, será retomada nos
próximos meses. Está entre as
obras do PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento).
O Ibama (Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) concedeu no mês passado a licença
de instalação de Angra 3. O documento é necessário para o
início das obras. Em julho do
ano passado, o órgão havia concedido licença para a construção do canteiro de obras da usina Angra 3.
Em dois anos, a Eletronuclear começará a construir, no
município de Angra dos Reis,
um protótipo do depósito, desenhado para estocar o combustível já resfriado por um período de 500 anos.
A ideia em discussão no governo é que haverá um leilão
entre os municípios que se dispuserem a abrigar o depósito
de lixo nuclear, em troca de
uma compensação financeira.
A Folha teve acesso ao modelo do depósito planejado pela
Eletronuclear. O presidente da
estatal, Othon Luiz Pinheiro da
Silva, descreve o projeto como
uma espécie de "pombal" feito
de concreto e isolado do solo.
O combustível usado nos
reatores, depois de resfriado
em grandes tanques instalados
no interior das usinas, será
acondicionado em ampolas de
aço inoxidável blindadas, que,
por sua vez, serão levadas à estrutura de concreto.
"Essa estrutura será construída em uma caverna, a salvo
de um eventual ataque por
aviões, totalmente segura",
sustenta o presidente da estatal. "É uma solução simples e
engenhosa."
O arranjo permitirá a reciclagem do combustível usado pelas usinas, baseado em urânio.
A tendência é que o depósito
venha a ser construído na região Sudeste, próximo de onde
funcionam as três primeiras
usinas nucleares brasileiras. A
construção de um depósito definitivo para o rejeito de alta radioatividade foi descartada na
licença do Ibama (Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis), que autorizou a retomada
das obras.
A definição de onde ficarão
as novas usinas gera movimentos antagônicos. Governadores
do Nordeste já disputam a primazia, sobretudo pela movimentação da economia local e a
perspectiva de aumento de arrecadação de impostos.
No Sudeste, porém, a ampliação do número de usinas é
objeto de polêmica.
O presidente da Aben (Associação Brasileira de Energia
Nuclear), Guilherme Camargo,
defende mais usinas em Angra
dos Reis. "Não vejo por que não
fazer lá, onde já existe toda a
infraestrutura, seria o ideal",
questiona Camargo. Segundo
Othon Silva, da Eletronuclear,
essa opção está descartada.
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