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Não se pode reduzir juros "feito maluco", diz Dilma
Pré-candidata diz que manter política econômica é "mais do que compromisso"
Petista ironiza promessa de
Serra de que vai "fazer mais",
diz que adversário não pode
se dissociar de FHC e que ela
"carregou piano" no governo
MARIA CRISTINA FRIAS
COLUNISTA DA FOLHA
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pré-candidata petista à Presidência da República, Dilma
Rousseff diz que manter a política econômica do governo Lula "é mais do que compromisso" e que não pretende mudar a
política monetária atual. "Você
não pode sair por aí reduzindo
os juros feito maluco", diz.
Ex-chefe da Casa Civil, responsável pelo PAC, Dilma rebate o discurso dos tucanos de
que o ex-governador José Serra
(PSDB) mostrará que é capaz
de fazer melhor do que ela. "O
que ele [Serra] foi? Ele não pode dizer que a biografia dele
não passa pelo governo FHC. A
minha biografia é o governo
Lula. Eu carreguei o piano nesses cinco anos [na Casa Civil],
eles não podem me tirar isso."
Dilma sugere que as empreiteiras desistiram do leilão de
Belo Monte porque "o pessoal
está estofadinho de obras", o
que aumentaria o poder de escolha do empresariado.
Sobre a possibilidade de surgir um novo consórcio para disputar o leilão, ela se esquiva:
"Eu já não estou acompanhando isso mais, sabe". Mas deixa
claro que não é intenção do governo ceder e mudar regras.
A ex-ministra afirma que dará prioridade ao aumento das
exportações, principalmente
de manufaturados, e que vai
procurar desonerar o setor.
Por fim, ela defende a política
de criação de grandes grupos
empresariais, sob estímulo do
BNDES. Dilma conversou com
a Folha por mais de duas horas, na quinta-feira, na casa do
marqueteiro João Santana, que
servirá de escritório para a pré-candidata, em Brasília.
POLÍTICA ECONÔMICA
De olho nas dúvidas que o
mercado levanta sobre sua posição a respeito da política econômica, Dilma diz que manter
o tripé metas de inflação, câmbio flutuante e rigor fiscal "é
mais do que compromisso" e
que não há motivos para mudar
o que deu certo. "Por que eu iria
abandonar? O que eu ganharia
com isso? Vou manter as bases
da nossa estabilidade."
A ex-chefe da Casa Civil, que
no primeiro mandato de Lula
chegou a ter divergências com a
equipe do ex-ministro Antonio
Palocci sobre o tamanho do superavit primário, afirma que irá
manter a meta de 3,3% do PIB
de economia de gastos para pagar juros da dívida durante um
eventual governo seu. "Queremos inclusive ter superavit nominal, de 0,4% do PIB até
2014", afirma, acrescentando
que tem a "ambição" de reduzir
a dívida pública dos atuais
42,9% do PIB para 28,7%.
JUROS ALTOS
A petista diz que a manutenção do superavit primário permitirá a continuidade da redução das taxas de juros pelo BC,
mas que não esperem dela tentativas de "dar um golpe de forma artificial nos juros", porque
"você não pode sair por aí reduzindo os juros feito maluco"
-uma alfinetada em tucanos
que defendem queda brusca na
taxa de juros. "Isso não é sustentável", diz ela, que antes não
poupava críticas ao presidente
do BC, Henrique Meirelles.
AUTONOMIA DO BC
Vista com reservas por boa
parte do sistema financeiro por
conta de suas críticas ao conservadorismo do Banco Central, Dilma diz que não vai alterar o modelo de autonomia informal adotado no governo Lula, mas não irá além disso.
"Acho que a lei que existe hoje é
muito boa. Não pretendo passar nenhuma lei [sobre autonomia do BC], não vejo por que. A
que existe hoje é perfeita."
Dilma diz que não pretende
tirar o status de ministro que o
presidente do BC ganhou durante o governo Lula -na época, para Meirelles ter foro privilegiado e evitar problemas com
o Ministério Público. "Por que
vamos tirar isso?", questiona.
Indagada se o BC não perdeu
em 2008 uma janela para reduzir ainda mais os juros, afirma
"que é muito difícil raciocinar
assim". "Hoje eu posso até
achar isso, mas depois que a
coisa aconteceu".
PÓS-MEIRELLES
Indagada sobre quem escolheria para substituir Meirelles, a ex-ministra evita o tema.
"Isso, de ficar sentando na cadeira antes, ficar escolhendo
nomes antes, não dá sorte", diz.
CÂMBIO
Lembrando que algumas medidas para o setor serão divulgadas ainda no governo Lula, a
petista diz que o objetivo é reduzir o custo da produção de
manufaturados. "Mesmo sabendo que o que puxa a economia brasileira é o mercado interno, nós vamos ter de dar
uma força imensa na ampliação
das exportações, dar prioridade
para os manufaturados."
O QUE FALTOU FAZER
Fora do governo por conta da
lei eleitoral, a ex-ministra diz
que a "gente sempre acha que
há tanta coisa que deixou de fazer". Cita especificamente o
Programa Nacional de Banda
Larga, prometido para ser lançado em 2009. "Essa questão
da banda larga demorou muito,
porque teve esse problema da
Justiça." "A nossa briga não é
com os acionistas", diz, em referência ao empresário Nelson
dos Santos, que comprou a Eletronet por R$ 1 e assumiu dívida de R$ 800 milhões.
ESTÍMULO A FUSÕES
A ministra defende a política
do governo Lula de incentivar e
estimular com verbas do
BNDES a fusão e criação de
grandes empresas nacionais,
como no caso da compra da
Brasil Telecom pela Oi. "Não
inventamos ninguém, fundiram-se aqueles que tinham envergadura para isso", afirma.
Em seguida, questiona e responde ao mesmo tempo: "Se
você me pergunta se foi bom,
eu digo que, na área de petroquímica, ou ganhamos escala
ou não competimos internacionalmente". Ela defende o raciocínio para outros setores. "Em
celulose, tem de ter escala. No
de carnes, é bom que tenha escala. Na telefonia, também."
PRIVATIZAÇÕES
A petista procura diferenciar
as privatizações do governo
FHC e o estímulo a fusão de
empresas do período Lula. Para
ela, a venda de estatais ocorreu
no passado por falta de recursos. "Fizemos aquilo porque
não tínhamos dinheiro. Se tivéssemos, nós é que teríamos
comprado." Em seguida, porém, defende a presença das
multinacionais no setor de telefonia. "É importante que eles
estejam aqui [os espanhóis da
Telefonica e o mexicano Carlos
Slim da Embratel]. É bom porque força nossas empresas privadas a ter mais musculatura",
para logo depois defender a
criação de uma grande empresa
telecomunicação nacional, como a originada da fusão da Oi
com a Brasil Telecom.
SERRA FAZ MELHOR?
Instada a comentar a tônica
do discurso tucano, de que Serra teria capacidade para fazer
melhor do que ela, Dilma responde em tom de desafio: "Vou
dizer o seguinte. Convence.
Convence [disso] os empresários, os prefeitos. Sabe qual a diferença? Nós fizemos, eles [empresários] sabem que nós fizemos, e sabem das dificuldades
que enfrentamos."
BELO MONTE
Ao comentar a decisão das
empreiteiras Odebrecht e Camargo Corrêa de desistir do leilão da hidrelétrica de Belo
Monte, a ex-ministra sugere
que eles só fizeram isso porque
há muitas obras hoje no país.
"Sabe o que é? Tem muita obra
no Brasil. O pessoal está estofadinho de obras. Antes, tinha só
uma obra, eles sofriam. As empresas hoje têm um leque grande de oportunidades". Segundo
ela, os próximos governos terão
de enfrentar esse desafio, viabilizar um volume grande de
obras. "Nós vamos ter de resolver, porque tem muita obra daqui para a frente." Ainda sobre
Belo Monte, ela diz não saber se
será formado um novo consórcio para disputar o leilão. "Eu já
não estou acompanhando isso
mais, sabe", acrescentando, porém, que não é intenção do governo ceder e mudar o edital
com as regras do leilão.
REFORMA TRIBUTÁRIA
Questionada se a reforma tributária será um dos temas de
sua campanha, ela diz que sim,
mas acrescenta que os "empresários sabem da dificuldade de
se fazer reforma tributária no
Brasil por conta da questão federativa". Quanto à desoneração da folha de pagamentos,
ela, a princípio, diz que não preferia comentá-la. Diante da insistência, afirma que "é fundamental, temos de caminhar para isso, temos de buscar a desoneração, é uma distorção que
temos. Agora não é coisa simples de fazer. É o bom senso".
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