|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
IMPRENSA
Segundo nota do Ministério da Justiça, reportagem de Rohter é "leviana"
Governo cancela visto e bane
do Brasil jornalista do "NYT"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo brasileiro considerou "inconveniente" a presença
em território nacional do jornalista Larry Rohter, do jornal "The
New York Times", e determinou
ontem o cancelamento do seu visto temporário. O correspondente
fez uma reportagem sobre supostos excessos alcoólicos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo nota oficial do Ministério da Justiça, divulgada ontem
à noite, o cancelamento do visto é
necessário "em face de reportagem leviana, mentirosa e ofensiva
à honra do presidente da República" e que traz "grave prejuízo à
imagem do país no exterior".
A Folha apurou que a ordem
veio de Lula. A nota é assinada pelo ministro interino da Justiça,
Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto.
O titular, Márcio Thomaz Bastos,
está em viagem oficial à Suíça.
Segundo a Folha apurou, Thomaz Bastos foi informado e ficou
preocupado com a repercussão
da medida, deixando transparecer que não concordava com ela.
Mas orientou sua equipe a executá-la por ser atribuição de sua pasta, de acordo com a legislação.
A nota oficial informa que a decisão foi baseada no artigo 26 da
lei 6.815, que diz respeito ao "Estatuto do Estrangeiro". Pela lei, "o
visto concedido pela autoridade
consular configura mera expectativa de direito, podendo a entrada, a estada ou o registro do estrangeiro ser obstado ocorrendo
qualquer dos casos do artigo 7º ou
à inconveniência de sua presença
no território brasileiro, a critério
do Ministério da Justiça".
De acordo com o ministério, a
Polícia Federal deve notificar
Rohter da decisão e, a partir daí,
terá oito dias para deixar o país.
Hoje, ele estaria na Argentina.
Ontem, minutos antes de a decisão ser divulgada, Lula comentou
com jornalistas a reportagem. Ele
falava sobre sua viagem à China
no fim de maio e foi indagado se
sua imagem internacional tinha
sido afetada. Os jornalistas que
participavam da entrevista ainda
não sabiam da decisão da expulsão. Lula respondeu o seguinte:
"Primeiro, não peça para o presidente responder a uma sandice
daquela. Segundo, certamente, o
autor daquilo -que não me conhece, que eu não conheço- deve estar hoje mais preocupado do
que eu. Sabe? Só isso".
Perguntou-se então ao presidente o que ele queria dizer com
Rohter estar mais preocupado do
que ele. O presidente estão disse:
"Não, não comento. Isso quem
comenta é o Ministério da Justiça.
O governo brasileiro deve tomar
as decisões que a lei permitir que
tome. Eu acho que não merece
resposta, merece uma ação".
Após a entrevista, quando se
tornou pública a expulsão, a Folha quis mais explicações do Planalto. A assessoria de Lula não falou mais sobre o caso, que seria
tratado pelo Ministério da Justiça.
O "NYT" chegou a publicar ontem carta enviada anteontem ao
jornal pelo embaixador do Brasil
nos EUA, Roberto Abdenur, na
qual ele se diz "perplexo" e "indignado" com o caso. Segundo o
secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência, Ricardo Kotscho, que falou sobre o assunto à
noite ao programa da TV Cultura
"Observatório da Imprensa",
além da carta, o embaixador compareceu à Redação do jornal.
Kotscho disse que, como jornalista, acha que a decisão de cancelar o visto de Rohter não foi a melhor, mas, "como é do governo", a
apóia. Também à noite, o site do
"NYT" reproduziu texto da agência de notícias Reuters sobre a
medida anunciada em Brasília.
Na sede do FMI, o assunto foi
tratado ontem em tom de brincadeira na entrevista do novo diretor-gerente, Rodrigo Rato. Questionado se já havia tomado "caipirinhas" com Lula, ele disse que,
com o presidente brasileiro, só tomou café, mas que toma "caipirinhas" por conta própria.
A reportagem do jornal, que foi
publicada no último domingo
com o título "Hábito de bebericar
do presidente vira preocupação
nacional", já havia sido classificada no mesmo dia pelo Palácio do
Planalto como "caluniosa", "da
pior espécie de jornalismo, o marrom". Leia a seguir a nota divulgada pelo Ministério da Justiça:
Em face de reportagem leviana, mentirosa e
ofensiva à honra do presidente da República
Federativa do Brasil, com grave prejuízo à imagem do país no exterior, publicada na edição de
9 de maio passado do jornal "The New York Times", o Ministério da Justiça considera, nos
termos do artigo 26 da lei nº 6.815, inconveniente a presença em território nacional do autor do referido texto. Nessas condições, determinou o cancelamento do visto temporário do
sr.William Larry Rohter Junior.
Brasília, 11 de maio de 2004
Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto
Ministro interino da Justiça
Colaboraram o correspondente em Washington e a Sucursal do Rio
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Entidades dos EUA criticam decisão Índice
|