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PF vê propina da Alstom em lista com nome de senador
Valdir Raupp e irmão de Palocci são citados em documento apreendido pela polícia
Papel encontrado na casa
do então chefe-de-gabinete
de Raupp traz relação de
nomes ao lado de uma cifra
próxima a R$ 2 milhões
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
É a contabilidade da partilha
da propina. Foi assim que a Polícia Federal classificou os papéis em que os nomes do senador Valdir Raupp (PMDB-RO)
e de Adhemar Palocci, diretor
da Eletronorte e irmão do deputado federal Antonio Palocci
(PT-SP), aparecem, entre outros, ao lado de uma cifra -cerca de R$ 2 milhões. No verso de
uma das páginas, são citados os
nomes da Alstom e da CNO
(Construtora Norberto Odebrechet, segundo a polícia).
O documento foi apreendido
pela PF em 2006 na casa do então chefe-de-gabinete do senador Raupp, José Roberto Paquier, no curso da Operação
Castores. Escutas telefônicas
feitas pela polícia confirmaram
as suspeitas do delegado Fernando Francischini, que chefiou as investigações. Paquier
negociava, por meio de intermediários, com um diretor da
Alstom o pagamento de cerca
de R$ 300 milhões que a Eletronorte devia à empresa. Num
telefonema, os investigados
discutem formas de receber as
parcelas de R$ 46 milhões que
o consórcio esperava receber.
O diretor da Alstom, Osvaldo
Panzarini, e o assessor do senador foram presos pela PF e depois liberados. O assessor foi
demitido; Panzarini foi promovido na Alstom -passou a ocupar a diretoria de operações.
A empresa está sob investigação na França e na Suíça sob
suspeita de pagar propina em
países como o Brasil, Cingapura e Venezuela. Os promotores
daqueles países citam que um
dos casos suspeitos envolve o
Metrô paulistano -a empresa
teria pago US$ 6,8 milhões a
políticos para ganhar uma licitação de US$ 45 milhões.
A dívida era controversa. A
Alstom havia entregue duas
turbinas para a hidrelétrica de
Tucuruí que apresentavam
problemas. Por causa disso, a
Eletronorte decidiu suspender
o pagamento. A Alstom integrou com a Odebrechet o consórcio que construiu Tucuruí,
uma das obras mais caras da última década -R$ 3,7 bilhões.
Foi nesse momento que entrou em cena o assessor do senador, vendendo facilidades.
Numa conversa gravada pela
PF, ele diz que pode arrumar
nota fiscal de uma consultoria
para dar uma aparência legal à
propina que a Alstom pagaria.
Esse negócio, aparentemente, foi abortado pelas investigações. Mas a suposta contabilidade apreendida pela PF traz
indícios de que outros negócios
haviam sido concluídos.
Os documentos citam os seguintes nomes ao lado dos valores: Raupp, Nascimento, "Ademar Paloci" (com a grafia errada), Winter, Hércio e Belém.
Carlos Nascimento era o presidente da Eletronorte. Hércio
José Ramos Brandão ocupava a
diretoria de gestão corporativa
da Eletronorte e foi demitido
em 2006, após seu nome aparecer na operação da PF.
Winter Coelho, funcionário
de carreira da Eletronorte, era
o nome que o senador Raupp
indicou em 2005 para a diretoria de gestão corporativa. A indicação esbarrou em Dilma
Rousseff: ela o vetou por causa
dos processos que Winter respondia na Justiça e no TCU
(Tribunal de Contas da União).
Em 2005, ele foi condenado pelo TCU a devolver cerca de R$
3.753 por contas recusadas
quando era diretor da Centrais
Elétricas de Roraima.
A PF não sabe quem é Belém.
A suspeita é que seria o sobrenome de algum funcionário da
estatal de energia elétrica.
Nascimento, Hércio e Winter têm um ponto em comum:
eram ligados a Raupp. Nascimento saiu da esfera do senador e passou a orbitar sob a influência de Dilma Rousseff,
chefe da Casa Civil, o que lhe
custou o cargo -ele deixou a
presidência da Eletronorte na
última terça-feira.
A suposta contabilidade foi
apreendida em maio de 2006,
mas até agora não foi objeto de
nenhum inquérito específico. A
investigação da Operação Castores não visava a Alstom, mas
um grupo que aplica golpes em
empresas elétricas. Policiais do
Paraná dizem que remeteram a
documentação para Brasília,
com recomendação de que relatórios fossem enviados à Procuradoria Geral da República
-o senador tem foro privilegiado. A PF em Brasília diz não ter
investigação sobre a Alstom.
Colaborou HUMBERTO MEDINA ,
da Sucursal de Brasília
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