São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 2008

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Índios pró-arrozeiros querem bloquear acesso a alimentos

Indígenas contrários à demarcação contínua em reserva chegam a Surumu (RR)

Grupo teria 180 integrantes e pode entrar em confronto com índios acampados na reserva que querem a saída de produtores de arroz


Sergio Lima/Folha Imagem
Índios favoráveis à demarcação contínua saem de caminhão de Surumu para o acampamento

HUDSON CORRÊA
ENVIADO ESPECIAL À RAPOSA/SERRA DO SOL (RR)

Um grupo de índios contrários à demarcação contínua da Raposa/Serra do Sol (RR) chegou ontem à Vila Surumu. Eles são favoráveis à permanência de arrozeiros na reserva e ameaçam entrar em confronto com indígenas que defendem a saída de fazendeiros.
O macuxi Sílvio da Silva, 42, líder do grupo, disse que 180 índios chegaram a Surumu. A intenção, segundo ele, é bloquear o acesso ao acampamento, montado por indígenas favoráveis à demarcação contínua.
Esse acampamento, com 36 barracas de lona, foi montado em frente à cerca da fazenda de Paulo Cesar Quartiero, o líder dos produtores de arroz preso há seis dias sob acusação de mandar atirar em índios.
Com bloqueio acima e abaixo do acampamento, o grupo pretende impedir a chegada de alimentos e água ao local.
Centro do conflito entre índios e fazendeiros, Vila Surumu está dividida em duas trincheiras à espera da decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a demarcação da terra.
Do lado esquerdo de quem chega à vila, estão os índios favoráveis à demarcação, que acamparam em frente à fazenda de Quartiero. À direita, os simpatizantes de Quartiero, que também é prefeito pelo DEM de Pacaraima (RR) .
A trincheira esquerda reúne ao menos 200 índios, incluindo os do acampamento próximo.
Foi a 10 km da vila que, há uma semana, um grupo de cem índios ocupou parte da fazenda do prefeito, localizada na reserva. Funcionários de Quartiero são acusados de atirar contra os índios e ferir nove deles.
O STF deve decidir até o fim do mês se os arrozeiros vão ficar ou sair da área de 1,7 milhão de hectares, homologada como terra indígena contínua pelo presidente Lula em 2005.
Os contrários à demarcação são ligados à Sodiur (Sociedade de Defesa dos Índios Unidos do Norte de Roraima). O macuxi Sílvio, presidente da entidade, nega ligação com Quartiero.
Ligado ao CIR (Conselho Indígena de Roraima), que luta pela saída dos fazendeiros, o líder macuxi Djacir da Silva, 38, disse não acreditar em uma grande mobilização dos rivais.
"Os índios [recrutados pela Sodiur] foram enganados por Quartiero em anos anteriores.
Vinham para comer churrasco e beber e acabavam envolvidos em manifestações contra a demarcação. Agora eles viram que foram enganados", diz Djacir.
Vila Surumu é distrito de Pacaraima, a 60 km de distância, e, na demarcação da Raposa, está na terra indígena.
Com Orçamento anual de R$ 150 mil, a vila tem até um subprefeito, Cícero Francisco Araújo, 36, que é pastor da Igreja Assembléia de Deus. Araújo diz que a Funai propôs, no fim de abril, o pagamento de R$ 25 mil de indenização para ele deixar a igreja e se retirar de Vila Surumu. Araújo não aceitou a proposta.
O ministro da Justiça, Tarso Genro, disse ontem à Folha que, "enquanto o STF não mudar o entendimento sobre a reserva, o governo continuará a considerar a área "terra indígena'". Segundo ele, a PF continuará a atuar para resguardar o direito dos índios.


Colaborou KENNEDY ALENCAR , da Sucursal de Brasília


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