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Doação oculta é a preferida dos maiores financiadores
Empreiteiras, bancos e setor de lixo deram a siglas 55% mais que a candidatos em 2008
Estratégia legal impede que empresas sejam vinculadas a políticos, já que doam às siglas, que repassam verba; TSE estuda barrar a prática
FERNANDA ODILLA
ALAN GRIPP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Principais financiadores das
eleições municipais de 2008,
empreiteiras, bancos e empresas de coleta de lixo utilizaram
em larga escala o artifício das
doações ocultas no ano passado. Deram aos partidos, camuflando os verdadeiros destinatários dos recursos, R$ 85,9 milhões, 55% a mais do que o repassado diretamente a candidatos e comitês de campanha.
Ao contribuir com as legendas, as empresas evitam vincular o seu nome a candidatos. O
dinheiro entra no caixa do partido, que, por sua vez, repassa
os recursos às campanhas. A sigla é que aparece como doadora. O TSE (Tribunal Superior
Eleitoral) estuda barrar a estratégia, permitida pela lei.
Representantes dos três setores lideram as doações feitas
aos partidos em 2008. Essas
mesmas empresas foram mais
comedidas nas contribuições
diretas a candidatos e a comitês
financeiros -R$ 55,5 milhões.
Nesse caso, os repasses são publicados na internet 30 dias
após as eleições. Na doação ao
partido, a prestação de contas
só é feita no ano seguinte.
Maiores financiadores de
2008, as empreiteiras distribuíram R$ 60,1 milhões aos
partidos e R$ 46,2 milhões a
políticos e comitês. No caso de
bancos e empresas de lixo, a
proporção de doações ocultas
cresce -os repasses foram, em
média, três vezes maior. Quase
todas as grandes empresas desses setores, líderes tradicionais
em doações, optaram pelos
dois meios de financiamento.
Na semana passada, dez partidos apresentaram ao TSE as
prestações de contas de 2008
com a lista de seus financiadores. Dos R$ 150 milhões arrecadados por essas siglas com doações, 64% foram repassados
por empresas que atuam na
construção civil, instituições financeiras e na coleta e tratamento de lixo. O PSB não entregou a lista de doadores.
O Banco Alvorada, que pertence ao Bradesco, foi o maior
doador entre as instituições financeiras. Repassou R$ 8,55
milhões a PT, DEM, PSDB, PR,
PMDB, PTB e PPS e nenhum
centavo a candidatos e comitês.
O Santander, que investiu
R$ 3,9 milhões nas siglas, doou
só R$ 11,4 mil a candidatos.
Procurados pela Folha, os
dois bancos não explicaram a
opção pela doação oculta. Apenas informaram, via assessoria,
que observaram todos os aspectos da legislação eleitoral ao
fazer as doações.
A Revita Engenharia, do grupo Solví, foi a representante do
ramo de lixo que mais contribuiu com os partidos. Foram
R$ 7,2 milhões, sendo R$ 4 milhões ao PT. Não doou a candidatos e comitês. A empresa não
falou com a reportagem.
Entre as empreiteiras, a Andrade Gutierrez deu R$ 13,6
milhões a partidos e R$ 321 mil
a políticos e comitês. Questionada se tentou com isso evitar
a exposição, disse em nota que
"reserva-se o direito de não comentar o processo de doação".
Grande parte das empresas
tem ou já teve contratos com o
poder público. A lei permite isso, mas veta contribuições de
concessionárias de serviço público, como telefonia e rodovias. Por mais de uma vez, o
TSE permitiu doação de empresas acionistas de consórcio
dono de concessões.
As empresas de lixo aumentaram sua participação se comparados os números das eleições municipais com os de
2006. Naquele ano, contribuíram com 3,2% do total arrecadado pelos quatro principais
partidos. Em 2008, PT, PSDB,
PMDB e DEM receberam
R$ 10,7 milhões (7,7% da receita). Os municípios são responsáveis pelos serviços de limpeza urbana e tratamento de lixo.
Os bancos, cuja atuação é regulada pelo governo federal, tiveram atuação parecida nas
duas eleições. Em 2008, a participação foi puxada pelo DEM
-cresceu de 7,8% para 18,8%.
O PT, por sua vez, viu cair as
doações. O tesoureiro Paulo
Ferreira diz que bancos não
têm tradição de doar ao partido
em campanha municipal.
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