São Paulo, terça, 12 de maio de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Tática agressiva não dá resultado"

BERNARDINO FURTADO
da Reportagem Local

Estudioso da história do sindicalismo brasileiro e testemunha das grandes manifestações que marcaram as greves de 1978 e 1979, o cientista político Leôncio Martins Rodrigues disse ontem que o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC continua a exercer um papel inovador na política nacional, mas se ressente dos impasses criados pela globalização da economia.
"A situação do sindicalismo hoje no mundo é muito difícil. Entre os fatores principais dessa crise estão a automação industrial, a terceirização, o trabalho precário e o crescimento da oferta de empregos em setores de difícil sindicalização como, por exemplo, a informática", afirmou Rodrigues.
Professor titular do Departamento de Ciência Política da Unicamp, Rodrigues considera o atual presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luiz Marinho, filiado à CUT, um representante do sindicalismo que "percebe a necessidade de mudanças na atuação das entidades sindicais e tenta encontrar saídas inovadoras".
Segundo Rodrigues, as greves de 78 e 79 marcaram o rompimento com o sindicalismo tradicional brasileiro que viveu seu auge no governo do presidente João Goulart (1961-1964). "Na era janguista, a negociação direta entre empregados e patrões significava aderir ao modelo americano e isso era veemente rejeitado pelas correntes nacionalistas que dominavam o sindicalismo brasileiro. Essa alternativa era vista por esses líderes como algo reacionário."
Na opinião de Rodrigues, da mesma forma a atual direção do sindicalismo do ABC sabe "que as táticas mais agressivas de pressão não dão hoje muito resultado", ao contrário do que ocorreu no final da década de 70. "Os sindicalistas da ala de Marinho sabem, por exemplo, que precisam ser mais cooperativos num momento em que muitas indústrias estão deixando o ABC e que o setor metal-mecânico perdeu importância na economia brasileira."
"Está havendo uma grande dispersão geográfica da produção e as novas fábricas são menores, dificultando a organização dos trabalhadores pelos sindicatos".



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.