São Paulo, domingo, 12 de junho de 2005

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"Sei que Janene é um dos operadores"

Folha - De onde vem o dinheiro para pagar o "mensalão" que, segundo o seu relato, era pago pelo PT a deputados de partidos aliados do governo no Congresso?
Roberto Jefferson -
Vem de operações com empresas do governo e com empresas privadas.

Folha - Que operações?
Jefferson -
Transferência de dinheiro à vista. Esse dinheiro chega a Brasília, pelo que sei, em malas. Tem um grande operador que trabalha junto do Delúbio, chamado Marcos Valério, que é um publicitário de Belo Horizonte.
É ele quem faz a distribuição de recursos. Sei que o deputado José Janene (PP-PR) é um dos operadores. Ele vai na fonte, pega, vem, é tido como um dos operadores do "mensalão". Inclusive eu já vi o ministro Zé Dirceu [chefe da Casa Civil] muito irritado com ele porque ele se apresentava como "operador do Zé Dirceu". Ele também é um dos homens que constroem o caixa para repartição entre deputados do PP e do PL.

Folha - Qual era exatamente o papel de Marcos Valério?
Jefferson -
Ele é operador do Delúbio, desde o início do governo. O Janene faz a mesma operação. É de conhecimento notório.

Folha - O sr. poderia citar nomes de deputados que recebiam essa remuneração mensal?
Jefferson -
Isso eu vou deixar para a imprensa investigar. Mas eu sei que as direções do PP e do PL recebiam. Não é segredo. Eles insinuaram isso para o Zé Múcio [deputado por Pernambuco e líder do PTB na Câmara], que não quis entrar. Eu quero inclusive dizer aqui que, quando o Múcio veio conversar comigo a primeira vez, quando o Delúbio Soares [tesoureiro do PT] o procurou, o Múcio veio a mim e disse: "Roberto, estou com você, sou contra receber "mensalão". Mas nós já sabíamos naquela época, meados de 2003, que havia esse repasse de recursos ao PL e ao PP.
Se você perguntar: "Tem prova? Fotografou? Gravou?". Não. Mas era conversa cotidiana na Câmara a repartição de mesada entre os deputados da base aliada, em especial o PL e o PP. Nunca ouvi falar do PMDB, e tenho certeza de que os deputados e os senadores do PT jamais receberam isso.

Folha - O presidente do PL, deputado Valdemar Costa Neto (SP), já anunciou a decisão de processá-lo.
Jefferson -
É um direito dele. Na colocação que fiz, eu o atingi duramente. Ele tem o direito democrático de me processar.

Folha - Houve problema de dinheiro entre PT e partidos da base na campanha municipal?
Jefferson -
Eu e o líder Zé Múcio acalmamos nossa base dizendo o seguinte: o PTB não vai ter "mensalão", que desmoraliza e escraviza o deputado, e nas eleições a gente compõe com o PT uma troca de apoio e pede o financiamento para candidaturas que nós entendemos que devemos ganhar.
Foi pedida ao PTB, pelo José Genoino [presidente do PT] e pelo Delúbio, uma planilha por Estados de campanhas a prefeito que o PT financiaria para nós. Apresentamos uma planilha de R$ 20 milhões. Esse recurso foi aprovado pelos dois e pelo Marcelo Sereno [secretário de Comunicação do PT]. No princípio de julho de 2004, eu reuni o partido e comuniquei. O repasse do dinheiro se daria em cinco etapas.
O primeiro recurso chegou na primeira quinzena de julho: R$ 4 milhões, em dinheiro, em espécie. Em duas parcelas: uma de R$ 2,2 milhões e, três dias depois, uma de R$ 1,8 milhão. Quem trouxe o recurso à sede do PTB foi o Marcos Valério, em malas de viagem.
Eu e o Emerson Palmieri [tesoureiro informal do PTB] dividimos esses recursos entre candidatos. E assumimos o compromisso, que era o do Genoino comigo, que outras parcelas viriam. Elas não vieram, e os candidatos do PTB que haviam assumido compromissos de campanha entraram em crise brutal. Essas coisas foram esticando a corda, tensionando a relação do PTB com o PT.

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