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"Sei que Janene é um dos operadores"
Folha - De onde vem o dinheiro
para pagar o "mensalão" que, segundo o seu relato, era pago pelo
PT a deputados de partidos aliados
do governo no Congresso?
Roberto Jefferson - Vem de operações com empresas do governo
e com empresas privadas.
Folha - Que operações?
Jefferson - Transferência de dinheiro à vista. Esse dinheiro chega a Brasília, pelo que sei, em malas. Tem um grande operador que
trabalha junto do Delúbio, chamado Marcos Valério, que é um
publicitário de Belo Horizonte.
É ele quem faz a distribuição de
recursos. Sei que o deputado José
Janene (PP-PR) é um dos operadores. Ele vai na fonte, pega, vem,
é tido como um dos operadores
do "mensalão". Inclusive eu já vi o
ministro Zé Dirceu [chefe da Casa
Civil] muito irritado com ele porque ele se apresentava como
"operador do Zé Dirceu". Ele
também é um dos homens que
constroem o caixa para repartição
entre deputados do PP e do PL.
Folha - Qual era exatamente o papel de Marcos Valério?
Jefferson - Ele é operador do Delúbio, desde o início do governo.
O Janene faz a mesma operação. É
de conhecimento notório.
Folha - O sr. poderia citar nomes
de deputados que recebiam essa
remuneração mensal?
Jefferson - Isso eu vou deixar para a imprensa investigar. Mas eu
sei que as direções do PP e do PL
recebiam. Não é segredo. Eles insinuaram isso para o Zé Múcio
[deputado por Pernambuco e líder do PTB na Câmara], que não
quis entrar. Eu quero inclusive dizer aqui que, quando o Múcio
veio conversar comigo a primeira
vez, quando o Delúbio Soares [tesoureiro do PT] o procurou, o
Múcio veio a mim e disse: "Roberto, estou com você, sou contra receber "mensalão". Mas nós já sabíamos naquela época, meados
de 2003, que havia esse repasse de
recursos ao PL e ao PP.
Se você perguntar: "Tem prova?
Fotografou? Gravou?". Não. Mas
era conversa cotidiana na Câmara
a repartição de mesada entre os
deputados da base aliada, em especial o PL e o PP. Nunca ouvi falar do PMDB, e tenho certeza de
que os deputados e os senadores
do PT jamais receberam isso.
Folha - O presidente do PL, deputado Valdemar Costa Neto (SP), já
anunciou a decisão de processá-lo.
Jefferson - É um direito dele. Na
colocação que fiz, eu o atingi duramente. Ele tem o direito democrático de me processar.
Folha - Houve problema de dinheiro entre PT e partidos da base
na campanha municipal?
Jefferson - Eu e o líder Zé Múcio
acalmamos nossa base dizendo o
seguinte: o PTB não vai ter "mensalão", que desmoraliza e escraviza o deputado, e nas eleições a
gente compõe com o PT uma troca de apoio e pede o financiamento para candidaturas que nós entendemos que devemos ganhar.
Foi pedida ao PTB, pelo José Genoino [presidente do PT] e pelo
Delúbio, uma planilha por Estados de campanhas a prefeito que
o PT financiaria para nós. Apresentamos uma planilha de R$ 20
milhões. Esse recurso foi aprovado pelos dois e pelo Marcelo Sereno [secretário de Comunicação
do PT]. No princípio de julho de
2004, eu reuni o partido e comuniquei. O repasse do dinheiro se
daria em cinco etapas.
O primeiro recurso chegou na
primeira quinzena de julho: R$ 4
milhões, em dinheiro, em espécie.
Em duas parcelas: uma de R$ 2,2
milhões e, três dias depois, uma
de R$ 1,8 milhão. Quem trouxe o
recurso à sede do PTB foi o Marcos Valério, em malas de viagem.
Eu e o Emerson Palmieri [tesoureiro informal do PTB] dividimos
esses recursos entre candidatos. E
assumimos o compromisso, que
era o do Genoino comigo, que outras parcelas viriam. Elas não vieram, e os candidatos do PTB que
haviam assumido compromissos
de campanha entraram em crise
brutal. Essas coisas foram esticando a corda, tensionando a relação
do PTB com o PT.
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