|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ex-cliente liga Bastos a conta no exterior
Engenheiro afirma ter pago, em 1993, US$ 4 milhões no exterior para o atual ministro da Justiça, que nega a transação
PF abriu investigação em 2003, mas arquivou o caso em 2004 sem ter ouvido o ministro nem quebrado os sigilos das empresas citadas
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A investigação da Polícia Federal sobre uma remessa ao exterior de US$ 4 milhões que teria beneficiado, em 1993, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, foi aberta em 2003
e arquivada em 2004 sem os
procedimentos básicos de uma
apuração de crime financeiro.
A transação não foi rastreada
e não houve pedido de quebra
dos sigilos bancário, fiscal e telefônico dos citados. O ministro
-que nega ter recebido os recursos- nunca foi interrogado
pela PF ou pelo STF (Supremo
Tribunal Federal). O relatório
da PF descartou seu envolvimento, e o caso foi arquivado
pela ministra do STF Ellen
Gracie, que acolheu parecer do
então procurador-geral da República Claudio Fonteles.
Passados dois anos, o dono da
Agropecuária Ermovale, de
Ibaté (SP), Ivo Morganti Jr., 49,
revelou, em três entrevistas à
Folha, que o objetivo da remessa era pagar honorários de Bastos: "Ele [Bastos] falou comigo:
"Me pague em tal conta". E aí
acabou a história. Eu falei: "Tá
bom", disse. A mãe de Morganti
Jr., Maria Dirce, 82, confirmou
o destino dos recursos: "Foi para pagar ele [Bastos], sim. Ele
disse que não foi? (...) Mas foi,
sim. Era para pagar ele". Maria
Dirce nunca foi ouvida pela PF.
O inquérito foi aberto em julho de 2003 por determinação
do ministro da Justiça. Ele telefonou para o então superintendente da PF paulista, Francisco
Baltazar da Silva, para dizer
que estaria sendo alvo de uma
"tentativa de extorsão".
A PF então localizou no centro de São Paulo um ex-contador da agropecuária, Carlos Roberto Alves, e seu amigo Carlos
Umberto Pereira, com os quais
foram encontrados papéis que
documentavam a transação.
Ambos disseram que a operação destinou-se ao pagamento
de honorários de Bastos. Alves,
que deixara a agropecuária em
1994, teria feito cópias dos documentos à revelia da família
Morganti. Os dois amigos também não sofreram nenhuma
acusação. Segundo o delegado
que conduziu o inquérito, Moacir Moliterno, hoje chefe da Interpol em São Paulo, "não houve tentativa de extorsão".
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Frases Índice
|