|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Interpol pede vigilância sobre instrutor de voo
Suspeito de ser ex-militante de grupo ligado à Al Qaeda, franco-tunisiano que vive em SC nega acusação
ANDRÉA MICHAEL
ENVIADA ESPECIAL A JOINVILLE (SC)
A Interpol diz que ele é ex-militante de "organização terrorista" ligada à Al Qaeda. Seu
nome consta dos arquivos do
órgão, que integra polícias de
todo o mundo. Está num documento chamado "difusão azul",
que orienta que o suspeito seja
encontrado e sua localização,
informada. Serviços de inteligência brasileiros, que criaram
anteontem um núcleo para o
estudo do terrorismo, o monitoram há cinco anos -sem ter,
até agora, detectado sinais que
confirmem as suspeitas.
O franco-tunisiano Manar
Mohamed Skandrani, 48, casado, pai de dois filhos brasileiros, dirige uma oficina de carros e acaba de montar sua segunda escola de treinamento
para pilotos de aviões e helicópteros em Joinville (SC).
Ele nega envolvimento em
planos ou ações terroristas. Declara ter sido simpatizante da
organização Al Nahda, mas, ao
contrário do que pensa a Interpol, diz achar que ela não tem
relações com a Al Qaeda -o
grupo responsável pelos atentados de 11 de Setembro.
De inspiração fundamentalista, a Al Nahda despontou em
reação ao regime presidencialista vitalício instalado na Tunísia em 1956, quando o país se
tornou independente. Foi, então, declarada ilegal. O site da
organização, que atua no norte
da África, informa que seu propósito é falar sobre política,
cultura e ideias relacionadas ao
mundo islâmico e árabe.
"Na minha vida lá [na Tunísia], tinha mais simpatia pelo
Nahda do que por qualquer outro partido. Mas deixei a atividade política em 1999."
Em Joinville, Skandrani, ou
"seu Manar", como é chamado
pelos 17 empregados, comanda
a oficina Dreicar. A empresa está em nome da mulher, Maria
Cristina de Almeida. "Olha essa
máquina [elevador de carros].
Custou R$ 220 mil, coisa de
primeiro mundo. Tenho câmeras que permitem o cliente observar o serviço pela internet."
Sobre a origem do seu dinheiro, afirma que "é tudo legal", economias dos tempos em
que trabalhava, na Europa, como importador de carne. Diz
que chegou a ganhar entre R$
30 mil e R$ 40 mil por mês.
Sua nova escola de aviação, a
Dreifly, foi criada em dezembro, também em nome da mulher. Tem autorização da Anac
(Agência Nacional de Aviação
Civil) para ministrar aulas teóricas de voo até 2014 e funcionará no endereço da oficina.
"Vim para o Brasil trabalhar
com kebab [sanduíche típico
árabe]. Mas sempre tive paixão
por aviação. Por ideia de um
amigo, abri a primeira escola."
Trata-se da Asa Azul, hoje inativa. Por que a segunda? "É para
dizer que um muçulmano tem
direito a viver em paz. Após o 11
de Setembro, só uma pessoa
louca vai abrir escola de aviação
para terroristas. Mas não vou
deixar o alvo do kebab."
Inicialmente reticente ao ser
procurado pela Folha em Joinville, Skandrani depois cedeu e
se pôs a falar. Deu quatro horas
de entrevista pessoalmente e,
depois, por telefone. Em um
português misturado com inglês, espanhol e francês, conta
que mantém a Polícia Federal a
par de todos os seus passos.
Afirma que pratica sua religião em casa e, às vezes, vai a
mesquitas em Curitiba ou Florianópolis. Não convive com os
poucos árabes da vizinhança.
Quanto aos atentados de
2001, ele diz que o governo dos
EUA foi o responsável, para
"criar um inimigo da vez".
Skandrani conta que perdeu
o visto de permanência no Brasil. Diz que esteve na PF e no
Ministério das Relações Exteriores, em Brasília, para descobrir o porquê. Sem sucesso.
"Na minha cabeça, isso aconteceu para evitar conflito com
os americanos. A PF sabia de
tudo que eu fazia. O Brasil não
quer problema, e está certo."
Quando ainda tinha visto,
Skandrani foi preso no Brasil
em 31 de outubro de 2007, sob
a acusação de crime de falsidade ideológica. Ele desembarcava em Guarulhos, vindo da Alemanha, sem declarar que levava consigo 14,7 mil, conforme
o processo judicial relativo ao
caso. A lei manda informar
quantias acima de US$ 10 mil.
Foi denunciado. Responde a
ação que tramita na 4ª Vara da
Justiça Federal em Guarulhos.
Apesar de não ter visto, ele não
poderia ser deportado. Na
ação, há uma determinação para que fique no país.
Procurada, a Embaixada da
Tunísia não respondeu aos e-mails. A PF não quis comentar
a situação de Skandrani.
Texto Anterior: Saúde: Alencar retoma tratamento contra câncer nos EUA Próximo Texto: Frase Índice
|