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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ BASE PARTIDA
Novo presidente do PT diz que partido vive momento dramático, defende aproximação de Lula com a sigla e alerta para situação de anomia
Tarso vê risco de "colombização" do país
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Afirmando que o PT está "no limite", seu novo presidente, o ministro Tarso Genro (Educação),
admite o risco de o partido "perder sua credibilidade e viabilidade
eleitoral". E alerta: "o Brasil pode
entrar numa situação de anomia
semelhante à da Colômbia".
Folha - Como o senhor descreve
este momento?
Tarso Genro - O PT vive um momento dramático e um limite. É
um momento dramático porque
estamos sob cerco político e com
denúncias muito pesadas contra
companheiros e o próprio partido. No limite porque, se não soubermos responder a essa questão,
essa notável experiência democrática e progressista -que é o
PT- pode ser desconstituída. Isso é ruim para a democracia, para
as instituições e para o futuro democrático do Brasil.
Folha - Por quê?
Tarso - Se as classes populares
não tiverem um mediador democrático dentro do Estado de Direito, como o PT, que transforme
suas demandas em lutas com
qualidade dentro da legalidade, o
Brasil pode entrar numa situação
de anomia semelhante à da Colômbia. A destruição ou a diluição
do partido pode levar para uma
desesperança radical e aguçar de
maneira irracional os conflitos de
classe do Brasil, uma radicalização dos confrontos de classe. As
pessoas que eventualmente queiram destruir o PT devem pensar
muito bem quais as conseqüências disso para a história do país.
Folha - As pessoas podem estar
dentro do PT, não?
Tarso - Quem sabe? Quem sabe?
Folha- Quem são?
Tarso - Parto da compreensão
de que há dois movimentos. Um é
um anseio legítimo da sociedade
pelo combate à ilegalidade. E há o
aproveitamento político dos adversários que querem aniquilar o
partido e pretendem usar o momento para tirar o PT da arena.
Folha - O que o senhor quer dizer
com "desconstituída"?
Tarso - Que o PT perca a credibilidade e a viabilidade como partido eleitoral.
Folha - Vencer isso é o desafio de
vocês agora?
Tarso - Agora, até o fim do ano.
Se não, podemos comprometer
essa experiência.
Folha - Que lições podem ser extraídas disso?
Tarso - Por exemplo: reorganizar nossos mecanismos internos,
verificar por que chegamos a essa
situação política defensiva, por
que há um desgaste na relação ético-moral com a sociedade, por
que nossa militância acolhe boa
parte dessas acusações e nos cobra. Temos que tirar lições dessa
crise para nos erguer de maneira
adequada. A democracia não será
a mesma sem a presença forte de
um partido como o PT.
Folha - O PT perdeu a bandeira da
ética?
Tarso - Ainda não. A bandeira é
recuperável. O risco existe.
Folha - O senhor teme prejuízos
eleitorais em 2006?
Tarso - O partido vai sofrer prejuízos eleitorais. O que estamos
tentando é reduzir esses prejuízos. Os prejuízos já são visíveis.
Folha - Por exemplo?
Tarso - São visíveis pela desestruturação do referencial de ética
pública que construímos de uma
maneira um tanto arbitrária.
Folha - Por quê?
Tarso-Porque o Partido dos Trabalhadores se apresentou como o
único referencial de ética pública.
Todo organismo imerso num
meio social reproduz as deformidades desse meio. Nunca fomos
um partido de puros. Não poderíamos jamais ter tido uma atitude até um pouco arrogante como
se fôssemos monopolistas dessa
ética. Isso fez com que esse prejuízo fosse redobrado contra nós.
Folha - Como o partido está desenhando a política econômica?
Tarso - Não está. Estamos lidando com problemas tão urgentes
que questões estratégicas não foram tomadas.
Folha - O senhor concorda com o
ministro Olívio Dutra de que o problema está nas más companhias?
Tarso - Más companhias existem tanto olhando para fora como, até -quem sabe?-, eventualmente, olhando para dentro.
Folha - Como debelar essa crise?
Tarso - Verificar onde estão erros. É evidente que ocorreram.
Erros políticos, no mínimo. Verificar ilegalidades, se houve, e lavarmos roupa suja fora de casa.
Publicamente. Dizer para a sociedade: "Erramos aqui, ali, tomamos tais providências e queremos
pedir desculpas aos eleitores".
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