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MALAS SUSPEITAS
Total detido em aeroporto com deputado pefelista, bispo da Universal, chega a R$ 10,2 milhões
PF apreende 7 malas de dinheiro com deputado
SILVIO NAVARRO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Polícia Federal apreendeu ontem, em Brasília, sete malas de dinheiro com mais de R$ 10,2 milhões que estavam em poder do
deputado federal João Batista Ramos (PFL-SP), bispo da Igreja
Universal do Reino de Deus. Ele
estava em avião particular, no
hangar da TAM, e se preparava
para decolar rumo a São Paulo.
Depois de passar dez horas e
meia contando o dinheiro, às
21h30 a PF divulgou o total
apreendido: R$ 10.202.690.
O deputado João Batista passou
o dia na Superintendência da Polícia Federal em Brasília, onde
prestaria esclarecimentos, juntamente com outras seis pessoas
que o acompanhavam na viagem.
O transporte do dinheiro, que,
segundo o deputado, é fruto do
dízimo recolhido dos fiéis, foi
abortado por causa de uma denúncia anônima.
Na noite de ontem, o delegado
David Sérvulo Campos, chefe da
Delegacia de Crimes Financeiros,
disse que encaminharia o caso ao
Supremo Tribunal Federal (STF)
por envolver um deputado federal. Caberá ao tribunal avaliar se
instaura inquérito para apurar se
foram praticados os crimes de lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, crime contra a ordem tributária e contra o sistema financeiro.
A base da suspeita é que o único
documento apresentado pelo deputado para justificar a origem e a
legalidade do dinheiro é uma declaração da igreja, assinada pelo
próprio deputado, que é o presidente da instituição. O documento diz que o dinheiro resulta do dízimo, mas não faz referência ao
valor transportado. Nem o parlamentar soube dizê-lo de pronto.
Segundo o delegado, as explicações dadas pelos acompanhantes
do deputado são "insuficientes":
"Não recebemos nenhuma comprovação veemente de que o dinheiro seja da Universal".
As malas de viagem estavam lotadas de cédulas de diversos valores - variavam de R$ 5 a R$ 100.
O volume de dinheiro era tão
grande que foram requisitadas do
Banco do Brasil cinco máquinas
para contagem de cédulas, duas
das quais tiveram problemas.
O advogado Sebastião da Costa
Val, que acompanhava o deputado, disse que "não existe nenhuma ilegalidade", que "o dinheiro
não é dele [do deputado]" e seria
encaminhado para São Paulo. À
noite chegaram à PF quatro advogados da Igreja Universal que vieram de São Paulo à Brasília tentar
a liberação do dinheiro.
Vigias de dinheiro
No final da tarde, a PF deteve
onze homens armados -oito
pistolas e dois revólveres- na
área externa das instalações da
Superintendência. São policiais
militares -dez do Distrito Federal e um de Goiás- que, à paisana, prestavam serviço de segurança para a Rede Record (braço de
comunicação da igreja). Disseram
que escoltavam o deputado e vigiavam o dinheiro apreendido.
Os documentos dos dois carros
nos quais estavam os supostos seguranças estão em nome da Igreja
Universal. A jornada dupla de policiais militares é irregular e eles
deverão ser alvo de processo administrativo na corporação.
A Folha tentou contatar a Universal no início da noite de ontem,
mas ninguém atendeu às chamadas. Sobre as malas, eles divulgaram uma nota na qual afirmam
que a origem de dinheiro foi a coleta de doações dos fiéis por ocasião de cerimônias celebradas no
dia 9 de julho, em comemoração
aos 28 de fundação da Universal.
Primeiro mandato
Antes de chegar ao Congresso,
em 2002, Ramos foi diretor-presidente da Rede Mulher de Televisão e da Rede Record. Economista, exerce seu primeiro mandato.
De acordo com a PF, Ramos e o
grupo viajariam para Goiânia e,
na sequência, seguiriam para São
Paulo num jatinho arrendado pela igreja por US$ 90 mil mensais.
Antes de pousar em Brasília, o
avião passou por Manaus (AM) e
Belém (PA). O contrato com a
TAM é somente para atendimento e abastecimento da aeronave
em solo, o que aconteceu uma hora antes da batida policial.
Todas as sete malas possuíam
papéis indicando diferentes cidades, mas a PF não informou se os
nomes indicariam a origem e o
destino do dinheiro.
Segundo informaram a assessoria de imprensa da PF e o assessor
jurídico da Câmara dos Deputados, Marcos Vasconcelos, o parlamentar teria permanecido na superintendência por sua livre e espontânea vontade. O dinheiro será depositado em uma conta judicial, segundo disse a PF.
PFL
Em reação para conter os danos
à imagem do partido, o PFL convocou para hoje uma reunião extraordinária da Executiva para
analisar o afastamento ou até a
desfiliação de João Batista.
Após os esclarecimentos feitos
pelo senador Marcelo Crivella
(PL-RJ), em nome da Igreja Universal, sobre a origem e o destino
do dinheiro, a principal preocupação do partido era se desvincular ao suposto "mensalão", denúncia de pagamento de mesadas, em malas de dinheiro, a deputados da base aliada.
Para isso, os membros do partido querem pedir que o deputado
se licencie do PFL durante as investigações.
Segundo o presidente do PFL,
senador Jorge Bornhausen (SC), a
Executiva irá analisar tecnicamente se o deputado está envolvido em algum ilícito e já pediram à
PF cópia do auto de apreensão do
dinheiro. Se houver ato criminal,
será feita uma expulsão sumária.
"Lamentamos o estrago político. Mas não vamos ser transigentes. Manteremos a atitude de oposição fiscalizadora e responsável",
disse Bornhausen, que interrompeu uma viagem por causa do incidente.
Colaboraram LEILA SUWWAN e
RANIER BRAGON
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