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Iesa, investigada por fraudes em estatal, deu R$ 1,6 mi a PT
Empresa que tem contrato sob suspeita com Petrobras diz que foi beneficiada por Lula
Levantamento de doações feitas aos maiores partidos mostra que Iesa só ajudou o PT em 2006; sigla diz que doações foram espontâneas
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Iesa Óleo e Gás, uma das
empresas implicadas pela Polícia Federal na Operação Águas
Profundas, que investiga fraudes em licitações da Petrobras,
foi uma das maiores doadoras
do PT no ano passado. De acordo com dados registrados pelo
partido no Tribunal Superior
Eleitoral, foram três doações
em 2006, totalizando R$ 1,562
milhão. A Iesa foi a sexta maior
contribuinte ao partido no ano.
A Folha analisou as contas
de 2006 dos maiores partidos
do país (PT, PSDB, DEM,
PMDB, PP e PR), e apenas o PT
recebeu doações da Iesa. A empresa admite que fez a doação
por ter sido beneficiada no governo Luiz Inácio Lula da Silva.
"A empresa quis prestigiar o
PT porque o governo abriu o
mercado de óleo e gás para empresas nacionais, obrigando todas as obras contratadas pela
Petrobras a terem índice de nacionalização elevado, contrariando orientação de governos
passados. A Iesa é filha direta
dessa política", disse a empresa, por meio de sua assessoria.
O PT disse que as doações foram "legais e espontâneas". Para o tesoureiro do PT, Paulo
Ferreira, a doação da Iesa é o
reconhecimento de que a indústria naval cresceu sob a gestão de Lula. "A indústria naval
teve um impulso e um vigor
enorme no nosso governo. A
doação tem a dimensão do reconhecimento disso."
O dinheiro foi doado ao partido, mas se destinava a campanhas. Usando uma brecha da
legislação, o PT recebeu os recursos, teoricamente, para financiar atividades do dia-a-dia,
mas os repassou a candidatos.
A contribuição "indireta" traz
duas vantagens: elimina os limites legais de doação para
campanhas (2% do faturamento bruto) e evita o "carimbo" de
empresas como doadoras.
Duas das doações ao PT foram feitas em setembro. A terceira parcela foi em novembro.
A Iesa, que nega participação
no suposto esquema desmontado pela PF, é do setor de
construção naval. Entre seus
contratos com a Petrobras está
a prestação de serviços para a
plataforma P-14. Segundo a Iesa, antes de Lula o índice mínimo de participação de empresas nacionais exigidos pela Petrobras era de 45% por obra.
Com o petista, subiu para 65%.
Além da doação ao PT, a Iesa
Óleo e Gás contribuiu com apenas uma campanha em 2006, a
do senador Delcídio Amaral
(PT) ao governo do Mato Grosso do Sul. Delcídio, ex-diretor
de Gás da Petrobras, recebeu
R$ 50 mil. Procurado pela Folha, ele não telefonou de volta.
Doações a deputados
Outros personagens da Operação Águas Profundas da PF
ajudaram petistas em 2006. O
estaleiro Mauá Jurong doou
para três deputados federais
petistas do Rio (Jorge Bittar,
Chico D'Angelo e o líder da
bancada na Câmara, Luiz Sergio) e a um estadual, Rodrigo
Neves. A Mauá Jurong, procurada, não quis se manifestar.
"Comecei minha carreira como trabalhador da construção
naval e naturalmente tenho relação com esse setor, vital para
a economia do Rio. O importante é que são doações legais e
registradas", disse Luiz Sergio.
Bittar disse ter sido procurado à época por representantes
da Mauá Jurong. "Faço há muito anos um trabalho de defesa
do setor naval. Hoje há um renascimento do setor graças aos
presidente Lula e aos parlamentares que o defendem.
Acho lamentável os fatos noticiados, mas não tem nada a ver
uma coisa com a outra", disse.
Chico D'Ângelo afirmou que
não tem "relação pessoal" com
ninguém do estaleiro: "Recebi
uma doação oficial. É uma empresa da minha cidade, moro lá,
fui secretário de Saúde lá".
A Folha deixou recado no gabinete de Rodrigo Neves, mas
até a conclusão desta edição ele
não havia telefonado de volta.
O principal acusado de operar o esquema, Ruy Castanheira, preso na operação, deu dinheiro para campanhas do deputado federal Carlos Santana
(PT-RJ) e da deputada federal
Solange Almeida (PMDB-RJ).
Santana disse que não conhece Castanheira. "A doação
partiu dele e seguiu todos os
trâmites legais." Solange afirmou que pediu a doação a Castanheira. Eles teriam se conhecido em 2005, quando ela presidia o Instituto Vital Brazil e
ele era o diretor-administrativo. "Pedi ajuda, e ele deu."
Colaborou SERGIO TORRES, da Sucursal do Rio
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