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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ LULA NA MIRA
Ele falará hoje, antes de reunião ministerial; avaliação do governo é que depoimento de Duda foi ruim, mas insuficiente para impeachment
Crise se agrava e Lula vai à TV hoje dizer que se sente traído
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva e seus principais ministros
avaliaram ontem que o depoimento de Duda Mendonça à CPI
dos Correios foi "ruim para o governo", mas não o suficiente para
resultar em eventual impeachment. Concluíram, porém, ser
inevitável que Lula faça hoje uma
forte menção pública à crise, adotando tom de indignação e dizendo que sua confiança foi traída.
A mensagem será transmitida
na abertura da reunião ministerial, quando Lula fará um discurso em que dirá que foi "traído" e
que alguns companhe
iros "cederam a práticas tradicionais" que
antes eram condenadas pelo próprio PT. A fala será transmitida
pela televisão estatal Radiobras,
com o sinal de TV sendo distribuído para as emissoras privadas.
Apesar de ter sido ruim para o
governo, o Planalto considerou
que Duda protegeu Lula na CPI
ao dizer que a campanha presidencial de 2002 teria sido quitada
com recursos legais. "Ele não tinha saída", afirmou um amigo do
publicitário.
A Folha apurou que Duda avisou o governo que mudaria a sua
linha de defesa por estar se sentindo chantageado por Marcos Valério, que teria vazado para a imprensa evidências de que lhe dera
dinheiro, como o nome da conta
no exterior (Dusseldorf).
Anteontem, quando fez aniversário, Duda avisou membros do
PT e do governo que acompanharia sua sócia, Zilmar Silveira, na
CPI. A interlocutores, Duda disse
que achava que o publicitário tentava apertá-lo para forçar o governo a protegê-lo politicamente.
Duda teria concluído que seria
melhor "contar a verdade", pois,
no seu relato, "Lula não sabia" do
que ele tratara com Valério e Delúbio Soares, o ex-tesoureiro do
PT.
Na visão do governo, haverá no
curto prazo uma batalha política
com a oposição, mas sem brecha
legal para tirar Lula da Presidência ou forçá-lo a renunciar. Membros da cúpula do governo disseram à Folha que o Planalto foi informado de que o PT teria comprovantes de quitação integral da
campanha de TV de Lula com recursos legais.
Reação presidencial
De tarde, quando assistia ao depoimento ao vivo de Duda à CPI,
Lula disse a auxiliares ter tomado
um susto de manhã. Segundo relato do presidente a assessores, o
ministro Márcio Thomaz Bastos
(Justiça) lhe informou que Duda
revelou à Polícia Federal, em depoimento encerrado na madrugada de ontem, que o PT saíra das
campanhas eleitorais de 2002 devendo cerca de R$ 15,5 milhões a
ele e que Valério teria pago mais
de R$ 11 milhões desse total.
"Que coisa é essa? Impossível",
teria reagido Lula. O presidente
contou que tinha ciência de que
havia uma dívida específica de
sua campanha com o marqueteiro no valor de R$ 2 milhões. Em
conversa reservada, Lula disse
que esse valor foi quitado legalmente em 2003.
Segundo a versão ouvida pela
Folha no Planalto, Lula reagiu
com irritação ao tomar conhecimento dos detalhes do depoimento de Duda. Mais uma vez, repetiu que Delúbio agira à sua revelia. "Coisa de pé-de-chinelo" foi
a palavra usada por um membro
da cúpula do governo para descrever como o presidente vê as
ações de Delúbio.
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