São Paulo, sexta-feira, 12 de agosto de 2005

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"MENSALÃO"/ LULA NA MIRA

Deputados dissidentes divulgam nota dura; Berzoini, secretário-geral, se diz "estupefato"

PT reage com lágrimas na Câmara e fala em traição

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O PT reagiu ontem com frases fortes, indignação e lágrimas à revelação de que campanhas do partido foram pagas com recursos do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza.
A revolta atravessou facções internas, unindo a direção e as alas dissidentes. O secretário-geral do PT, Ricardo Berzoini, se disse "estupefato". "É uma coisa gravíssima. Essa forma de financiamento da campanha é de uma irregularidade extrema", afirmou, em Brasília, antes de embarcar para uma reunião de emergência no PT em São Paulo.
Tão logo veio a confissão de Duda Mendonça à CPI dos Correios -de que recebeu dinheiro de caixa dois pelas campanhas que fez para o PT em 2002-, cerca de 20 deputados que se declaram em dissidência interna fecharam-se em uma reunião.
De lá saiu uma dura nota, acordada em tempo recorde -cerca de uma hora- pelos deputados. O documento diz que o esquema revelado por Duda Mendonça "trai a esperança de mais de 52 milhões de votos concedidos em 2002 [ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva], frustra e impede a realização dos verdadeiros compromissos historicamente assumidos pelo PT em sua trajetória política no país".
As lágrimas vieram em seguida, no plenário da Câmara. Orlando Desconsi (RS), Maninha (DF), Chico Alencar (RJ), Iara Bernardi (SP), Nazareno Fonteles (PI), Walter Pinheiro (BA) foram alguns dos que choraram. Alguns dos assessores fizeram o mesmo.
"Entramos em parafuso", disse o deputado Ivan Valente (SP). "É um projeto histórico sendo destruído", afirmou Alencar, com os olhos marejados.

Apoio do PFL
Os petistas acabaram recebendo apoio de onde menos esperavam. Sensibilizado com a cena, o pefelista José Thomaz Nonô (AL) subiu à tribuna para solidarizar-se. "Este é um dia triste para todos nós. Uma esquerda mais humilde vai surgir", disse, para aplausos dos petistas.
A alternativa de sair do partido, migrando para o PSOL, que já vinha sendo debatida pelos deputados dissidentes, ganhou força ontem. Nenhuma decisão ainda foi tomada, no entanto.
O bloco reúne 21 dos 91 deputados federais, que não seguem mais as orientações da liderança na Câmara. Tem ainda alguns membros eventuais no Senado, como Eduardo Suplicy (SP), Cristovam Buarque (DF) e Saturnino Braga (RJ).
Pela manhã, ainda antes das informações trazidas pelo marqueteiro da campanha de Lula, eles já haviam expressado seu descontentamento ao presidente nacional do PT, Tarso Genro, em reunião. "Reconheço e compreendo muitas das reclamações de vocês", afirmou.

Abertura de processos
Na nota que divulgaram, os integrantes do bloco pediram a abertura de processos na Comissão de Ética do partido contra todos os deputados citados no escândalo do "mensalão", o que poderia resultar em expulsão. Isso incluiria José Dirceu (SP), João Paulo (SP), Paulo Rocha (PA), Professor Luizinho (SP), João Magno (MG), Josias Gomes (BA) e José Mentor (SP).
Da tribuna do plenário, o líder interino do PT, Fernando Ferro (PE), pediu aos deputados da ala dissidente que façam a disputa internamente na bancada.
"Temos de pedir desculpas à sociedade pelo o que está acontecendo com o partido, mesmo que não estejamos diretamente envolvidos", declarou.


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