|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"MENSALÃO"/ LULA NA MIRA
Deputados dissidentes divulgam nota dura;
Berzoini, secretário-geral, se diz "estupefato"
PT reage com lágrimas na Câmara e fala em traição
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O PT reagiu ontem com frases
fortes, indignação e lágrimas à revelação de que campanhas do
partido foram pagas com recursos do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza.
A revolta atravessou facções internas, unindo a direção e as alas
dissidentes. O secretário-geral do
PT, Ricardo Berzoini, se disse "estupefato". "É uma coisa gravíssima. Essa forma de financiamento
da campanha é de uma irregularidade extrema", afirmou, em Brasília, antes de embarcar para uma
reunião de emergência no PT em
São Paulo.
Tão logo veio a confissão de Duda Mendonça à CPI dos Correios
-de que recebeu dinheiro de caixa dois pelas campanhas que fez
para o PT em 2002-, cerca de 20
deputados que se declaram em
dissidência interna fecharam-se
em uma reunião.
De lá saiu uma dura nota, acordada em tempo recorde -cerca
de uma hora- pelos deputados.
O documento diz que o esquema
revelado por Duda Mendonça
"trai a esperança de mais de 52
milhões de votos concedidos em
2002 [ao presidente Luiz Inácio
Lula da Silva], frustra e impede a
realização dos verdadeiros compromissos historicamente assumidos pelo PT em sua trajetória
política no país".
As lágrimas vieram em seguida,
no plenário da Câmara. Orlando
Desconsi (RS), Maninha (DF),
Chico Alencar (RJ), Iara Bernardi
(SP), Nazareno Fonteles (PI),
Walter Pinheiro (BA) foram alguns dos que choraram. Alguns
dos assessores fizeram o mesmo.
"Entramos em parafuso", disse
o deputado Ivan Valente (SP). "É
um projeto histórico sendo destruído", afirmou Alencar, com os
olhos marejados.
Apoio do PFL
Os petistas acabaram recebendo
apoio de onde menos esperavam.
Sensibilizado com a cena, o pefelista José Thomaz Nonô (AL) subiu à tribuna para solidarizar-se.
"Este é um dia triste para todos
nós. Uma esquerda mais humilde
vai surgir", disse, para aplausos
dos petistas.
A alternativa de sair do partido,
migrando para o PSOL, que já vinha sendo debatida pelos deputados dissidentes, ganhou força ontem. Nenhuma decisão ainda foi
tomada, no entanto.
O bloco reúne 21 dos 91 deputados federais, que não seguem
mais as orientações da liderança
na Câmara. Tem ainda alguns
membros eventuais no Senado,
como Eduardo Suplicy (SP), Cristovam Buarque (DF) e Saturnino
Braga (RJ).
Pela manhã, ainda antes das informações trazidas pelo marqueteiro da campanha de Lula, eles já
haviam expressado seu descontentamento ao presidente nacional do PT, Tarso Genro, em reunião. "Reconheço e compreendo
muitas das reclamações de vocês", afirmou.
Abertura de processos
Na nota que divulgaram, os integrantes do bloco pediram a
abertura de processos na Comissão de Ética do partido contra todos os deputados citados no escândalo do "mensalão", o que poderia resultar em expulsão. Isso
incluiria José Dirceu (SP), João
Paulo (SP), Paulo Rocha (PA),
Professor Luizinho (SP), João
Magno (MG), Josias Gomes (BA)
e José Mentor (SP).
Da tribuna do plenário, o líder
interino do PT, Fernando Ferro
(PE), pediu aos deputados da ala
dissidente que façam a disputa internamente na bancada.
"Temos de pedir desculpas à sociedade pelo o que está acontecendo com o partido, mesmo que
não estejamos diretamente envolvidos", declarou.
Texto Anterior: PT convoca militância para defender presidente Próximo Texto: Frases Índice
|