São Paulo, domingo, 12 de agosto de 2007

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Massacre está ligado à extração ilegal de diamante; 200 índios teriam participado

Lalo de Almeida - 7.mai.04/Folha Imagem
Índios cintas-largas durante reunião com delegado da PF na reserva Roosevelt, em Rondônia


DA SUCURSAL DO RIO

O massacre dos garimpeiros está ligado à extração ilegal de diamante na área indígena dos cintas-largas. A legislação proíbe o garimpo em terra indígena, mas os próprios índios facilitam a exploração ilegal.
Cerca de 200 guerreiros indígenas teriam participado do massacre, no dia 7 de abril de 2004. Na época, os chefes declararam que eles mataram para defender o território, as mulheres e as crianças. "Quando um bandido entra na casa do branco, o branco mata o bandido. Assim é na nossa casa", afirmou à reportagem da Folha, na ocasião, o chefe João Bravo Cinta-Larga, uma das lideranças mais influentes da etnia.
O inquérito policial está sob segredo de Justiça, e é proibido o acesso aos depoimentos dos acusados, entre os quais lideranças como os caciques Oita Matina Cinta Larga e Nacoça Pio Cinta-Larga. O indiciamento foi por homicídio triplamente qualificado: por emboscada, com uso de tortura e ocultação de cadáveres. Dos 29 mortos, segundo a polícia, 26 corpos estavam com as mãos amarradas com cipó, o que indica que não tiveram chance de defesa.
Os índios atacaram um grupo de garimpeiros, que extraíam diamante sem autorização dos cintas-largas dentro da reserva. O primeiro a morrer no local foi o líder do grupo, Baiano. Os outros 26 foram amarrados e seriam levados até uma base da polícia, mas no caminho decidiu-se pela execução. Segundo um dos caciques, eles teriam entendido garimpeiros dizer que, depois de soltos, matariam os cintas-largas.
Um texto do procurador da República Reginaldo Trindade, de Porto Velho, especialista nas questões dos cintas-largas, diz que o garimpo ilegal de diamantes nas terras indígenas retoma com mais força a cada tentativa do governo federal de erradicá-lo. Após a morte dos garimpeiros, houve uma mega-operação do Estado, com participação das Forças Armadas. Em dezembro daquele ano, o garimpo estava parado, mas seis meses depois já havia máquinas e garimpeiros.
"O vácuo deixado pela deficiência do Poder Público vem sendo preenchido pelo crime organizado, em que políticos, servidores corruptos, atravessadores, empresários e multinacionais, ansiosos por lucrar às expensas do povo cinta-larga, alimentam o círculo vicioso", escreveu o procurador.


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