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Massacre está ligado à extração ilegal de diamante; 200 índios teriam participado
Lalo de Almeida - 7.mai.04/Folha Imagem
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Índios cintas-largas durante reunião com delegado da PF na reserva Roosevelt, em Rondônia |
DA SUCURSAL DO RIO
O massacre dos garimpeiros
está ligado à extração ilegal de
diamante na área indígena dos
cintas-largas. A legislação proíbe o garimpo em terra indígena, mas os próprios índios facilitam a exploração ilegal.
Cerca de 200 guerreiros indígenas teriam participado do
massacre, no dia 7 de abril de
2004. Na época, os chefes declararam que eles mataram para defender o território, as mulheres e as crianças. "Quando
um bandido entra na casa do
branco, o branco mata o bandido. Assim é na nossa casa", afirmou à reportagem da Folha, na
ocasião, o chefe João Bravo
Cinta-Larga, uma das lideranças mais influentes da etnia.
O inquérito policial está sob
segredo de Justiça, e é proibido
o acesso aos depoimentos dos
acusados, entre os quais lideranças como os caciques Oita
Matina Cinta Larga e Nacoça
Pio Cinta-Larga. O indiciamento foi por homicídio triplamente qualificado: por emboscada,
com uso de tortura e ocultação
de cadáveres. Dos 29 mortos,
segundo a polícia, 26 corpos estavam com as mãos amarradas
com cipó, o que indica que não
tiveram chance de defesa.
Os índios atacaram um grupo de garimpeiros, que extraíam diamante sem autorização dos cintas-largas dentro da
reserva. O primeiro a morrer
no local foi o líder do grupo,
Baiano. Os outros 26 foram
amarrados e seriam levados até
uma base da polícia, mas no caminho decidiu-se pela execução. Segundo um dos caciques,
eles teriam entendido garimpeiros dizer que, depois de soltos, matariam os cintas-largas.
Um texto do procurador da
República Reginaldo Trindade,
de Porto Velho, especialista
nas questões dos cintas-largas,
diz que o garimpo ilegal de diamantes nas terras indígenas retoma com mais força a cada
tentativa do governo federal de
erradicá-lo. Após a morte dos
garimpeiros, houve uma mega-operação do Estado, com participação das Forças Armadas.
Em dezembro daquele ano, o
garimpo estava parado, mas
seis meses depois já havia máquinas e garimpeiros.
"O vácuo deixado pela deficiência do Poder Público vem
sendo preenchido pelo crime
organizado, em que políticos,
servidores corruptos, atravessadores, empresários e multinacionais, ansiosos por lucrar
às expensas do povo cinta-larga, alimentam o círculo vicioso", escreveu o procurador.
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