São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 2006

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JANIO DE FREITAS

O horror

As quase 3.000 vítimas do horror em Nova York mereciam ser reconhecidas por seu legado humanitário

NENHUMA CELEBRAÇÃO e nenhuma expressão de patriotismo, sincera ou política, pode escamotear o fato de que, nos cinco anos desde o ataque às torres em Nova York, os Estados Unidos pioraram como jamais em sua história.
As liberdades democráticas, de que deram notáveis exemplos a partir das batalhas para encerrar, nas décadas de 50 e 60, seus mais de quatro séculos de segregação racial, estão hoje negadas, em vários dos alicerces, por duas forças deletérias. Uma, composta pelas práticas ilegais do agigantado aparelho repressivo, que só agora um ou outro juiz ousa condenar, como há pouco em relação a milhões de escutas telefô nicas sem autorização judicial. A outra, o retraimento dos meios de comunicação, em grande parte espontâneo, ao seu histórico papel na sociedade, frente aos Poderes, em nome da Constituição fundadora dos Estados Unidos.
As tragédias pessoais concentraram a comoção pelo ataque às torres, mas, em outro plano, é ainda mais triste a incapacidade dos Estados Unidos de perceber a noção grandiosa que o horror daquele dia lhe ofereceu. Ali estava, naquela nuvem de pó e fumaça, de detritos de ferro e de carne, que invadia em ondas gigantes as ruas, os prédios, as pessoas, ali estava naqueles prédios que caíam sobre uma multidão de vidas a demonstração, pequena demonstração, do horror que o poder dos Estados Unidos tem lançado sobre tantas cidades e suas populações tão inocentes, no mínimo, quanto as vítimas do 11 de setembro. Mas os americanos não perceberam.
As quase 3.000 vítimas do horror em Nova York mereciam ser reconhecidas por seu legado humanitário. Apenas foram usadas, no entanto, como pretexto para a reprodução do seu horror em milhares de vidas de um país distante.

Procura-se
Em comício na cidade pernambucana de Caruaru, Lula fez forte defesa do seu ex-ministro da Saúde, Humberto Costa. Agora candidato do PT ao governo estadual, Costa está submetido a investigação por possível ocorrência de liberações, durante sua gestão, para negócios com ambulâncias pelos sanguessugas. Para ser definitiva contra dúvidas, a defesa de Lula culminou com esta frase, dedo apontado para Humberto Costa: "Foi este companheiro que mandou uma carta pedindo para a Polícia Federal investigar o sanguessuga".
Seria interessante se, tendo falado como candidato e como presidente da República, Lula comprovasse a lisura de sua afirmação com alguma prova, qualquer prova, da existência de tal carta contra os sanguessugas.


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