São Paulo, sábado, 12 de outubro de 2002

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SEGUNDO TURNO

Presidente afirma em inauguração que mudança com "situação de descalabro e propostas descabeladas" é má

"Para piorar, melhor não mudar", diz FHC

JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Fernando Henrique Cardoso criticou ontem, de forma indireta, o PT e disse que, se o país for "mudar por mudar, é melhor ficar como está". "Para piorar, ai meu Deus, deixe ficar como está, que não está tão mal assim", disse FHC, na cerimônia de inauguração do Rodoanel Mário Covas, em São Paulo.
O presidente foi ainda mais incisivo, alguns minutos depois, em entrevista à imprensa, quando afirmou que mudanças que representam "situação de descalabro" e "propostas descabeladas" são uma "má mudança".
Sem citar o nome do candidato de oposição, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), FHC disse que o Brasil precisa continuar sonhando. "Temos de continuar sonhando que o Brasil vá ficar em mãos competentes e que vá continuar a construir com generosidade, sem ódio, sem mesquinharia."
O PSDB montou, nesta semana, a estratégia de segundo turno na campanha de José Serra, que prevê, entre outras coisas, maior participação do presidente.
Apesar de só ter pronunciado uma vez o nome de Serra, quando disse que ele era o seu candidato, o presidente mostrou mais sintonia com a campanha ao usar expressões comuns no comitê tucano. Falou em "caminho seguro" e pediu mais debates e clareza nas propostas dos candidatos. Criticou o que chamou de "palavras vagas" e "coisas retóricas, que não têm caminho prático".
Ao comentar a falta de envio de verbas para a construção do Rodoanel por parte da Prefeitura de São Paulo, administrada pelo PT, FHC fez uma crítica direta. "A prefeitura não conseguiu colocar um tostão nessa obra da cidade" disse. E completou: "Não se faz nada duradouro com mesquinharia. [Nem" mesmo aqueles que prometem e não cumprem. Deixa para lá. Vão ficar pelo caminho, porque nós vamos levando adiante os programas que são do Brasil". A prefeitura, durante a gestão de Celso Pitta (1996-2000), havia se comprometido a colaborar financeiramente com a obra.
O governo federal gastou R$ 317,5 milhões na obra, cujo custo totalizou R$ 1,25 bilhão, mas não enviou os R$ 80 milhões prometidos para o trecho oeste do anel viário. Leia abaixo trechos da entrevista e do discurso de FHC.
 

PREFEITURA DE SP - "A prefeitura não conseguiu colocar um tostão nessa obra. Dois terços são do Estado e um terço é federal. Não tem importância. Sou paulistano, esse terço vale pela cidade. É assim que nós vamos pouco a pouco reconstruindo este Brasil. Com gente com a fibra de como Mário Covas, com visão, com determinação. Não se faz nada de duradouro com mesquinharia. [Nem] mesmo aqueles que prometem e não cumprem. Deixa para lá. Vão ficar pelo caminho porque nós vamos levando adiante os programas que são do Brasil."

ELEIÇÃO - "Nesse momento, fala-se muito em mudança. Mas precisa ver para que lado. Se for para mudar, para fazer plano que não vai correr para a realidade, melhor não mudar. Nós estamos mudando o Brasil. E vamos continuar mudando. É essa a diferença entre a retórica e o trabalho metódico, o trabalho construtivo, sem placas para anunciá-lo."

CRÍTICAS - "Este país está se fazendo com energia e não pode perdê-la numa crítica estéril. É preciso mudar para melhor, não para pior. Mudar para melhorar sempre. Para piorar, ai meu Deus, deixe ficar como está, que não está tão mal assim."

SONHO - "Sonhar é o que nós fizemos. Mas nós temos de continuar sonhando que o Brasil vai continuar em mãos competentes e que vai continuar construindo com generosidade, sem ódio, sem mesquinharia."

CÂMBIO - "O Banco Central dispõe de muitos recursos [para controlar o câmbio". Não gosto de falar muito de câmbio. Isso é um assunto muito delicado, e qualquer palavra pode servir para especulação. Entretanto nós estamos em uma fase eleitoral, num ambiente de incerteza. Não se sabe quem será o próximo presidente e, sobretudo, a política que o próximo presidente vai tomar."

PROPOSTAS CLARAS - "É preciso que se fale com mais força, com mais ênfase, para que se mostre ao Brasil que o leme vai continuar em mãos firmes."

MUDANÇA - "Eu sou favorável à mudança. Estou fazendo mudanças. O que não pode é andar para trás. Isso sim. Quando a mudança é percebida como voltar para trás, situação de descalabro, sem controle do Orçamento, não honrar compromissos, ter propostas que são descabeladas, que já fracassaram em muitos lugares, aí não é mudança. É uma má mudança."

DEBATE - "Sou um partidário ardoroso do diálogo, da conversa. [Com exceção de uma sabatina promovida pela CNBB em 1994, FHC não participou de debates na campanha daquele ano e na de 1998". É preciso explicar as coisas, dizer cada um a que veio, com muita clareza. A opção que nós vamos fazer precisa ficar clara. O presidente da República não é simplesmente uma pessoa boa, competente, lida, não lida, viajada, não viajada, que fala línguas ou não. Isso não é o problema. O problema é o seguinte: é líder ou não. E é líder, lidera para que lado? Leva o país para que direção? É preciso que a nação saiba e sinta que caminho está sendo trilhado. É um caminho seguro ou não? Não palavras vagas: "Vamos mudar tudo o que está aí"."


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