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JANIO DE FREITAS
Os modificados
A soja transgênica que na semana passada teve o seu
plantio proibido em toda a Bretanha, França, nas últimas semanas foi plantada (e continua
sendo) em larga escala contra a
proibição legal brasileira, no Rio
Grande do Sul e no Mato Grosso
do Sul.
O plantio aqui é feito com base
em duas leis, tipicamente brasileiras e opostas à da proibição: a
lei da impunidade e a lei do fato
consumado.
Assim como os donos do chamado agronegócio mandam a lei
às favas (de soja e outras favas) e
nisso retratam o valor da legislação, duas frases oficiais retratam
o valor moral dos governantes.
Do presidente da Brasoja,
maior negociadora sulina do
grão, sobre a decisão dos grandes
cultivadores de plantar a soja
transgênica com ou sem aprovação da Lei de Biossegurança ou
medida provisória de Lula: "O
produtor não está preocupado
com o que acontece em Brasília.
O problema é do governo".
A transgressão da lei não é problema do transgressor, que nem
reconhece a autoridade, ou simplesmente a existência, do governo.
Do ministro da Agricultura,
Roberto Rodrigues, sobre a transgressão de ocupar milhões de
hectares com um produto proibido: "O governo sabe disso. E não
vai permitir que a ilegalidade
persista".
Governante ciente de uma
transgressão está obrigado a reprimi-la e aos autores, ou se torna ele próprio transgressor das
leis que jurou defender. Será por
isso que o governo, diz o ministro, "não vai permitir que a ilegalidade persista"? Não. Sua frase seguinte esclareceu que a ilegalidade seria "legalizada" por
Lula "em uma questão de horas", por medida provisória. Tal
como fez pouco depois de assumir.
Está certo, se entendermos que
Lula e o PT atuais são também
transgenicamente modificados.
A obra
Alguns comentários já observaram a semelhança entre as tendências manifestadas pelos paulistanos, antes do primeiro turno,
e os índices de José Serra e Marta
Suplicy no Datafolha de anteontem. A pesquisa traz, porém, negação expressiva a uma das pretensas verdades consagradas sobre a disputa paulistana.
As intenções de voto em Marta
estão tecnicamente divididas em
iguais proporções entre homens e
mulheres. A tão falada dificuldade de Marta com o eleitorado feminino, por força dos seus passos
argentinos, não se mantém. O
que, é a dedução imediata, decorre das gentis exibições do senador Eduardo Suplicy ao lado
da ex-mulher.
Marta continua sendo obra de
Suplicy.
Adeus
Fernando Sabino casou muito
moço, creio que aos 21 anos, com
Helena Valadares, filha do histórico e folclórico prócer do mineirismo político Benedito Valadares. Foi surpreendido, a dada altura, com um presente do sogro:
um cartório no Rio, então capital
da República, pedido por Benedito ao governo federal, na quota
das atenções que lhe eram devidas como governador mineiro.
Ao desquitar, Fernando já era
cronista conhecido, com uma página deliciosa em Manchete. Mas
vivia do cartório, sua consagração como escritor só viria mais
tarde, com "Encontro Marcado",
a partir daí podendo viver do que
escrevia. Consumada porém a
separação, Fernando foi a Benedito Valadares e entregou-lhe o
cartório: considerava que a nomeação não fora para ele, mas
para assegurar à mulher o bem-estar que, no início da vida literária, não teria como proporcionar à família. Um gesto inesquecível.
Fernando Sabino foi mais do
que uma pessoa de atitudes. Sou
testemunha de que foi uma pessoa generosa e um homem de caráter.
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