São Paulo, sexta-feira, 12 de outubro de 2007

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"Não preciso do cargo para me defender"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O anúncio do afastamento de Renan foi feito em um pronunciamento de dois minutos na TV Senado, veiculado às 19h. "Decidi me licenciar da presidência do Senado Federal, pelo prazo de 45 dias, a fim de demonstrar de forma cabal e respeitosa à nação, e a todos os ilustres senadores, que não precisaria do cargo de presidente do Senado Federal para me defender."
Na fala, lembrou a constrangedora sessão da última terça, quando foi pressionado a se afastar da presidência por 12 senadores. Também fez questão de dizer se tratar de "gesto unilateral" e rechaçou a acusação de que vinha usando do poder do cargo para manipular o andamento dos processos dele.
"Agindo assim, afasto de uma vez por todas o mais recente e injusto pretexto usado para tentar dar corpo à inconsistência das representações, enviadas sem qualquer indício ou prova ao Conselho de Ética", disse. "Não lancei mão das prerrogativas de presidente do Senado em meu benefício ou contra quem quer que seja."
Dois fatores foram cruciais para o agravamento da crise nas duas últimas semanas: 1) a denúncia de que teria armado esquema de arapongagem e montado dossiês para intimidar senadores; e 2) a crise na bancada do PMDB após ele ter apoiado a manobra que derrubou Pedro Simon (RS) e Jarbas Vasconcelos (PE) da Comissão e Constituição e Justiça.
Ontem, numa determinação do Planalto, as vagas da CCJ foram devolvidas aos senadores pelo partido. Jarbas aceitou voltar à comissão. Simon afirmou que só vai se decidir na próxima semana.
Foram 139 dias de uma crise que explodiu com a entrevista da jornalista Mônica Veloso, com quem ele tem uma filha. Na ocasião, ela afirmou que o dinheiro que custeava a pensão paga por Renan vinha de um lobista ligado a uma empreiteira. Dessa denúncia, Renan foi absolvido no plenário em votação secreta -40 votos a favor, 35 contra, e seis abstenções.
Desde então, sua resistência em ficar no cargo e a interferência nos processos gerou perda substancial de apoio no PT e no PMDB. Ele ainda enfrenta três processos no conselho e um quarto deverá ser aberto na semana que vem. Daí o prazo de 45 dias que ele avaliou ser o necessário para que todos os processos estejam concluídos. A oposição estipulou 2 de novembro. A expectativa é que a licença fosse de 120 dias, mas ele temeu não conseguir voltar.
Renan teria prometido ao governo que, se preciso, estenderá a licença por mais 45 dias. Se a situação continuar complicada, ele poderia então renunciar ao cargo para preservar seu mandato, exigência feita reservadamente por tucanos.
Apesar da incerteza quanto ao seu futuro político, Renan lembrou sua vitória no plenário. "Prevalecerá a verdade, como aconteceu na minha absolvição. O poder é transitório, enquanto a honra é um bem permanente que eu não sacrifico em nome de nada."
O distanciamento de antigos aliados abateu Renan. Na polêmica sessão da última terça, nenhum senador saiu em sua defesa. Nesse mesmo dia, ironicamente, foi publicada a edição da revista "Playboy" com o ensaio de Mônica Veloso.
A decisão do peemedebista não tem amparo no regimento interno da Casa. O suporte é um acordo entre líderes.
Ontem, em seu discurso, Renan disse não se sentir abandonado. "Resistirei firme na minha defesa, honrando a confiança da minha família, do povo de Alagoas, dos meus amigos, dos meus colegas do Senado Federal e daqueles, que mesmo sem me conhecer, com seu apoio, suas mensagens, suas orações, me deram força até agora. A estes, certamente não decepcionarei."
Segundo aliados que o acompanharam pouco antes do discurso, Renan estava consternado e calado. Depois, ao deixar o Senado, às 19h45, não quis dar entrevistas. Disse só uma frase, atacando a imprensa. "Vocês não foram gentis comigo."
(SILVIO NAVARRO, VALDO CRUZ, ANDREZA MATAIS E RANIER BRAGON)

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