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"Não preciso do cargo para me defender"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O anúncio do afastamento de
Renan foi feito em um pronunciamento de dois minutos na
TV Senado, veiculado às 19h.
"Decidi me licenciar da presidência do Senado Federal, pelo
prazo de 45 dias, a fim de demonstrar de forma cabal e respeitosa à nação, e a todos os
ilustres senadores, que não
precisaria do cargo de presidente do Senado Federal para
me defender."
Na fala, lembrou a constrangedora sessão da última terça,
quando foi pressionado a se
afastar da presidência por 12
senadores. Também fez questão de dizer se tratar de "gesto
unilateral" e rechaçou a acusação de que vinha usando do poder do cargo para manipular o
andamento dos processos dele.
"Agindo assim, afasto de uma
vez por todas o mais recente e
injusto pretexto usado para
tentar dar corpo à inconsistência das representações, enviadas sem qualquer indício ou
prova ao Conselho de Ética",
disse. "Não lancei mão das
prerrogativas de presidente do
Senado em meu benefício ou
contra quem quer que seja."
Dois fatores foram cruciais
para o agravamento da crise
nas duas últimas semanas: 1) a
denúncia de que teria armado
esquema de arapongagem e
montado dossiês para intimidar senadores; e 2) a crise na
bancada do PMDB após ele ter
apoiado a manobra que derrubou Pedro Simon (RS) e Jarbas
Vasconcelos (PE) da Comissão
e Constituição e Justiça.
Ontem, numa determinação
do Planalto, as vagas da CCJ foram devolvidas aos senadores
pelo partido. Jarbas aceitou
voltar à comissão. Simon afirmou que só vai se decidir na
próxima semana.
Foram 139 dias de uma crise
que explodiu com a entrevista
da jornalista Mônica Veloso,
com quem ele tem uma filha.
Na ocasião, ela afirmou que o
dinheiro que custeava a pensão
paga por Renan vinha de um lobista ligado a uma empreiteira.
Dessa denúncia, Renan foi absolvido no plenário em votação
secreta -40 votos a favor, 35
contra, e seis abstenções.
Desde então, sua resistência
em ficar no cargo e a interferência nos processos gerou perda substancial de apoio no PT e
no PMDB. Ele ainda enfrenta
três processos no conselho e
um quarto deverá ser aberto na
semana que vem. Daí o prazo
de 45 dias que ele avaliou ser o
necessário para que todos os
processos estejam concluídos.
A oposição estipulou 2 de novembro. A expectativa é que a
licença fosse de 120 dias, mas
ele temeu não conseguir voltar.
Renan teria prometido ao governo que, se preciso, estenderá a licença por mais 45 dias. Se
a situação continuar complicada, ele poderia então renunciar
ao cargo para preservar seu
mandato, exigência feita reservadamente por tucanos.
Apesar da incerteza quanto
ao seu futuro político, Renan
lembrou sua vitória no plenário. "Prevalecerá a verdade, como aconteceu na minha absolvição. O poder é transitório, enquanto a honra é um bem permanente que eu não sacrifico
em nome de nada."
O distanciamento de antigos
aliados abateu Renan. Na polêmica sessão da última terça, nenhum senador saiu em sua defesa. Nesse mesmo dia, ironicamente, foi publicada a edição
da revista "Playboy" com o ensaio de Mônica Veloso.
A decisão do peemedebista
não tem amparo no regimento
interno da Casa. O suporte é
um acordo entre líderes.
Ontem, em seu discurso, Renan disse não se sentir abandonado. "Resistirei firme na minha defesa, honrando a confiança da minha família, do povo de Alagoas, dos meus amigos, dos meus colegas do Senado Federal e daqueles, que
mesmo sem me conhecer, com
seu apoio, suas mensagens,
suas orações, me deram força
até agora. A estes, certamente
não decepcionarei."
Segundo aliados que o acompanharam pouco antes do discurso, Renan estava consternado e calado. Depois, ao deixar o
Senado, às 19h45, não quis dar
entrevistas. Disse só uma frase,
atacando a imprensa. "Vocês
não foram gentis comigo."
(SILVIO NAVARRO, VALDO CRUZ, ANDREZA MATAIS E RANIER BRAGON)
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