São Paulo, domingo, 12 de novembro de 2000

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FORTALEZA
Maria Luiza foi expulsa do PT por causa do caos na prefeitura cearense, em 1987, durante sua administração
Ex-petista diz que tem "trauma" de gestão

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

Fazer de Fortaleza a primeira cidade brasileira a dizer não ao capitalismo. Essa era a intenção de Maria Luiza Fontenele, ex-PT, ao assumir a prefeitura da capital cearense em 1986, aos 44 anos.
Ela queria organizar frentes populares para revolucionar a administração, combater o poder e contrariar os interesses econômicos. As ações resultaram em conflitos: houve greve nos transportes e na coleta de lixo, oposição da elite e da esquerda: "O trauma (da administração) ainda existe".
Maria Luiza, 58, foi a primeira mulher e a primeira petista eleita prefeita de uma capital. Ela também foi deputada estadual (1979-1985) e federal (1991-1995). Hoje não se candidataria a mais nada.
O desgosto fica evidente quando afirma não ter votado nos dias 1º e 29 de outubro. Para ela, o processo eleitoral tornou-se uma fraude em que os institutos de pesquisa e a elite econômica definem quem são os vencedores.
"As propostas são as mesmas: conciliação. É impossível administrar crises, e essa é a proposta da esquerda. Eu nunca aceitaria administrar crises." Por conta de sua insatisfação, preferiu ficar longe da disputa em Fortaleza: "A política perdeu o colorido".
A pior lembrança da época de sua gestão é o lixo espalhado em Fortaleza. Quando vê lixo nas ruas, Maria Luiza sente um mal-estar. "Mesmo depois de passar a coleta do lixo, alguém colocava mais sujeira na rua e chamava a imprensa. Esse esquema existiu."
Se pudesse voltar ao passado, mudaria duas coisas em sua administração. A primeira seria a área de comunicação. "Praticamente inexistia o marketing da nossa prefeitura." A segunda seria intensificar a organização popular. "Não que fosse acabar com os confrontos. Ao contrário, eles se intensificariam." Maria Luiza foi expulsa do PT, em 1987. Foi para o PSB e o PSTU. Tentou criar o Partido Revolucionário dos Trabalhadores, sem sucesso. "Muita gente acha que é uma utopia acreditar no combate ao capitalismo como uma saída. Achamos que é totalmente utópico e falso dizer que vai se administrar uma crise."


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