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FORTALEZA
Maria Luiza foi expulsa do PT por causa do caos na prefeitura cearense, em 1987, durante sua administração
Ex-petista diz que tem "trauma" de gestão
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
Fazer de Fortaleza a primeira cidade brasileira a dizer não ao capitalismo. Essa era a intenção de
Maria Luiza Fontenele, ex-PT, ao
assumir a prefeitura da capital
cearense em 1986, aos 44 anos.
Ela queria organizar frentes populares para revolucionar a administração, combater o poder e
contrariar os interesses econômicos. As ações resultaram em conflitos: houve greve nos transportes e na coleta de lixo, oposição da
elite e da esquerda: "O trauma (da
administração) ainda existe".
Maria Luiza, 58, foi a primeira
mulher e a primeira petista eleita
prefeita de uma capital. Ela também foi deputada estadual (1979-1985) e federal (1991-1995). Hoje
não se candidataria a mais nada.
O desgosto fica evidente quando afirma não ter votado nos dias
1º e 29 de outubro. Para ela, o processo eleitoral tornou-se uma
fraude em que os institutos de
pesquisa e a elite econômica definem quem são os vencedores.
"As propostas são as mesmas:
conciliação. É impossível administrar crises, e essa é a proposta
da esquerda. Eu nunca aceitaria
administrar crises." Por conta de
sua insatisfação, preferiu ficar
longe da disputa em Fortaleza: "A
política perdeu o colorido".
A pior lembrança da época de
sua gestão é o lixo espalhado em
Fortaleza. Quando vê lixo nas
ruas, Maria Luiza sente um mal-estar. "Mesmo depois de passar a
coleta do lixo, alguém colocava
mais sujeira na rua e chamava a
imprensa. Esse esquema existiu."
Se pudesse voltar ao passado,
mudaria duas coisas em sua administração. A primeira seria a
área de comunicação. "Praticamente inexistia o marketing da
nossa prefeitura." A segunda seria
intensificar a organização popular. "Não que fosse acabar com os
confrontos. Ao contrário, eles se
intensificariam." Maria Luiza foi
expulsa do PT, em 1987. Foi para
o PSB e o PSTU. Tentou criar o
Partido Revolucionário dos Trabalhadores, sem sucesso. "Muita
gente acha que é uma utopia acreditar no combate ao capitalismo
como uma saída. Achamos que é
totalmente utópico e falso dizer
que vai se administrar uma crise."
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