|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JANIO DE FREITAS
Fora da linha
Talvez seja o caso de juízes e advogados discutirem a identificação de titulares nos pedidos de quebra de sigilo
|
A DEFESA explicativa que a Polícia Federal apresenta, para a
quebra do sigilo de um telefone usado pela Folha na Câmara e
do celular de uma repórter do jornal, transformou o que poderia ser
um equívoco, ou ato de mera incompetência, em iniciativa suspeita da PF de Mato Grosso. Por coincidência ou não, essa regional da
PF já foi objeto de críticas e noticiário, sobre procedimentos seus
no caso sanguessugas, que a
teriam desagradado além do
habitual.
A inclusão dos dois telefones na
lista de quebras pedidas, e autorizadas pela 2ª Vara Federal em Mato Grosso, diz a explicação da PF,
"é exclusivamente fruto da impossibilidade de verificar previamennte a propriedade dos terminais telefônicos". Argumento amparado
na alegação de falta, na PF, de
"meios de identificar previamente
a titularidade dos telefones".
Podemos dispensar a possibilidade de consulta da PF às empresas
telefônicas, sobre titularidade e local da linha em questão. Seria suficiente a simples providência de ligar para os números de interesse da
investigação, e, com toda probabilidade, já na primeira resposta ter
um esclarecimento ou um modo de
obtê-lo com presteza. Folha/ Câmara/ Imprensa/ Deixe o seu recado -os dois telefones tinham o que
informar ao serem atendidos ou
encaminhar a futura informação.
O argumento da PF desaba ainda
diante de usos da própria PF. Com
freqüência noticia-se que a PF "encontrou ligações de fulano para
beltrano e vai pedir a quebra também do seu sigilo telefônico". Logo,
a PF chegou a um nome de usuário
de linha ao encontrar apenas um
número de telefone. Tem, portanto, "meios de identificar a titularidade dos telefones" a partir do seu
número, e o faz seguidamente.
Não foi por "impossibilidade de
verificar" a identidade dos usuários dos dois telefones que a PF de
Mato Grosso requereu a quebra de
sigilo da Folha e da repórter. Seus
delegados e inspetores fazem todos
os dias identificações dessas. Talvez seja o caso de juizes e advogados discutirem a exigência, nos pedidos policiais para quebra de sigilo telefônico, da identificação dos
titulares. Sem isso, os juizes ficam
expostos a comprometer-se, sem o
saber, com erros e arbitrariedades.
Não deixa de ser interessante,
para encerrar, que a PF de Mato
Grosso não pedisse a quebra de telefones de outros dois grandes jornais, cujos números compartilharam o mesmo documento com os
da Folha. Cada vez parece mais
conveniente um inquérito sobre o
inquérito dos sanguessugas.
A volta?
Sumido, em destino ignorado, há
três anos, dez meses e meio -desde
janeiro de 2003-, Aloizio Mercadante reapareceu. Foi visto e ouvido anteontem, à maneira em que se
fez conhecido antes do repentino
desaparecimento, na tribuna do
Senado onde um sósia físico, mas
não ético nem intelectual, em vão
tentou disfarçar o sumiço. Recomenda-se aguardar um pouco para
saudar o retorno do parlamentar
petista, o que talvez dependa do sósia do velho Lula.
Texto Anterior: Alencar diz que "sacolão" ficou comprovado Próximo Texto: Pastas ligadas a movimentos sociais devem ficar com PT Índice
|