|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
INVESTIGAÇÃO
Cópia, sem autenticidade confirmada, diz que CH, J & T, sediada nas Bahamas, seria de ministro
Cópia de fax liga Motta a empresa no Caribe
FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília
Cópia de um
fax sigiloso obtido pela Folha
diz que a empresa CH, J & T, citada em supostas chantagens
contra o governo, tinha como diretores Sérgio
Motta -que foi ministro das Comunicações e morreu em abril
deste ano- e Ray Terrence, uma
pessoa desconhecida.
Nada garante que a cópia seja
verdadeira. A Folha a publica hoje
depois de apurar que fazia parte do
dossiê que serviria de suporte para
a suposta chantagem.
Segundo bilhetes anônimos recebidos pelo governo, haveria uma
conta no exterior no valor de US$
368 milhões em nome do presidente Fernando Henrique Cardoso, do governador de São Paulo,
Mário Covas, do ministro da Saúde, José Serra, e de Sérgio Motta
(morto em abril deste ano).
O presidente, o governador e o
ministro negam qualquer tipo de
associação no exterior e a existência da conta. Eles dizem que as cópias apresentadas são forjadas. O
governo já investigou o caso (leia
na pág. 1-4).
Nesses bilhetes recebidos pelo
governo aparece a sigla CH, J & T,
sem maiores informações. Quem
diz ter visto o suposto dossiê afirma que são referências às iniciais
dos nomes de Covas, Henrique, José e Terrence.
A Folha não conseguiu descobrir
quem é Ray Terrence, que foi citado em um dos bilhetes enviados ao
governo.
Ontem, a Folha publicou as informações comprovando que a sigla CH, J & T é o nome de uma empresa com sede em Nassau, capital
das Bahamas, um país na região do
Caribe.
As reproduções publicadas ontem, entretanto, apenas permitiam
dizer que a empresa existia desde
19 de janeiro de 94 e que seu agente
era outra firma, a Trident Corporate Services, também com sede
em Nassau.
Agora, o fax obtido pela Folha e
publicado hoje afirma que os diretores da CH, J & T seriam Sérgio
Motta e Ray Terrence.
A tradução é a seguinte:
"Nós, Trident Corporate Services (Bahamas) Limited e Fregon
Corporation of P.O. Box N-3944,
Nassau, Bahamas, sendo os subscritores do Memorando e dos Artigos de Associação da Companhia
(CH, J & T), tendo os poderes para
apontar os primeiros diretores da
companhia aqui descrita apontamos os seguintes primeiros diretores da Companhia:
Ray Terrence
Sérgio Roberto Vieira da Motta".
A Folha não conseguiu descobrir
o endereço da Fregon Corporation, por isso não entrou em contato com essa empresa.
A data desse fax é 20 de janeiro de
1994, um dia depois da criação da
CH, J & T.
De acordo com cópia do contrato
social da CH, J & T, os diretores da
empresa são, na realidade, os proprietários. Têm plenos poderes,
como atesta o artigo 10 do documento.
O artigo 22 do contrato social da
CH, J & T também não deixa dúvidas sobre os poderes dos diretores:
"A companhia pode (...) fechar e
ser dissolvida por resolução dos
diretores".
Nas Bahamas, assim como em
outros paraísos fiscais, é possível
abrir uma empresa sem declarar
para o cartório o nome do proprietário. Por isso, entre outras razões,
esse tipo de país é chamado de paraíso fiscal.
O único nome que aparece é o da
Trident, como agente representante legalmente constituído da CH, J
& T. Essas empresas abertas em
paraíso fiscal são o primeiro passo
para quem desejar manter algum
dinheiro de forma sigilosa no exterior.
Assina o documento cuja cópia
foi obtida pela Folha uma pessoa
de nome Dulcita Austin, em nome
da Trident. Essa mesma pessoa assinou os documentos oficiais da
fundação da CH, J & T, e cuja veracidade foi comprovada no cartório
de Nassau.
Apesar de a Folha dispor desses
fax, na Trident ninguém quis dar
informações a respeito. A reportagem falou, por telefone, com a gerente dessa empresa, Phyllis Rolle.
"Nós somos especializados nesse
tipo de serviço de representação.
Fazemos isso para alguns milhares
de empresas", disse Phyllis Rolle.
A funcionária da Trident é a única autorizada a falar com a imprensa, embora se diga impedida
de confirmar qualquer tipo de informação a respeito das empresas
que representa.
"Por força de contrato, não estamos autorizados a fornecer nenhum tipo de dado. Só com a autorização dos donos da empresa",
afirmou Phyllis Rolle.
²
Comprovação
Embora não existam dúvidas de
que a Trident seja representante
legal da CH, J & T, uma nova prova
desse fato surgiu ontem.
Uma empresa, cujo nome não será divulgado a pedido de seus proprietários, mandou um pedido para a Trident: queria saber se a CH, J
& T está em funcionamento.
A Trident respondeu numa carta, datada de 3 de setembro passado, que a CH, J & T está funcionando. Assina o documento Barbara
Carroll, gerente da Trident.
Uma curiosidade: ontem a reportagem da Folha telefonou para
a Trident e pediu para falar com
Barbara Carroll.
"Ela não trabalha aqui. Saiu há
menos de um mês", afirmou uma
secretária da empresa. A Folha
quis saber a razão, mas não obteve
sucesso.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|