São Paulo, quinta, 12 de novembro de 1998

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INVESTIGAÇÃO
Cópia, sem autenticidade confirmada, diz que CH, J & T, sediada nas Bahamas, seria de ministro
Cópia de fax liga Motta a empresa no Caribe

FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília


Cópia de um fax sigiloso obtido pela Folha diz que a empresa CH, J & T, citada em supostas chantagens contra o governo, tinha como diretores Sérgio Motta -que foi ministro das Comunicações e morreu em abril deste ano- e Ray Terrence, uma pessoa desconhecida.
Nada garante que a cópia seja verdadeira. A Folha a publica hoje depois de apurar que fazia parte do dossiê que serviria de suporte para a suposta chantagem.
Segundo bilhetes anônimos recebidos pelo governo, haveria uma conta no exterior no valor de US$ 368 milhões em nome do presidente Fernando Henrique Cardoso, do governador de São Paulo, Mário Covas, do ministro da Saúde, José Serra, e de Sérgio Motta (morto em abril deste ano).
O presidente, o governador e o ministro negam qualquer tipo de associação no exterior e a existência da conta. Eles dizem que as cópias apresentadas são forjadas. O governo já investigou o caso (leia na pág. 1-4).
Nesses bilhetes recebidos pelo governo aparece a sigla CH, J & T, sem maiores informações. Quem diz ter visto o suposto dossiê afirma que são referências às iniciais dos nomes de Covas, Henrique, José e Terrence.
A Folha não conseguiu descobrir quem é Ray Terrence, que foi citado em um dos bilhetes enviados ao governo.
Ontem, a Folha publicou as informações comprovando que a sigla CH, J & T é o nome de uma empresa com sede em Nassau, capital das Bahamas, um país na região do Caribe.
As reproduções publicadas ontem, entretanto, apenas permitiam dizer que a empresa existia desde 19 de janeiro de 94 e que seu agente era outra firma, a Trident Corporate Services, também com sede em Nassau.
Agora, o fax obtido pela Folha e publicado hoje afirma que os diretores da CH, J & T seriam Sérgio Motta e Ray Terrence.
A tradução é a seguinte:
"Nós, Trident Corporate Services (Bahamas) Limited e Fregon Corporation of P.O. Box N-3944, Nassau, Bahamas, sendo os subscritores do Memorando e dos Artigos de Associação da Companhia (CH, J & T), tendo os poderes para apontar os primeiros diretores da companhia aqui descrita apontamos os seguintes primeiros diretores da Companhia:
Ray Terrence
Sérgio Roberto Vieira da Motta".
A Folha não conseguiu descobrir o endereço da Fregon Corporation, por isso não entrou em contato com essa empresa.
A data desse fax é 20 de janeiro de 1994, um dia depois da criação da CH, J & T.
De acordo com cópia do contrato social da CH, J & T, os diretores da empresa são, na realidade, os proprietários. Têm plenos poderes, como atesta o artigo 10 do documento.
O artigo 22 do contrato social da CH, J & T também não deixa dúvidas sobre os poderes dos diretores: "A companhia pode (...) fechar e ser dissolvida por resolução dos diretores".
Nas Bahamas, assim como em outros paraísos fiscais, é possível abrir uma empresa sem declarar para o cartório o nome do proprietário. Por isso, entre outras razões, esse tipo de país é chamado de paraíso fiscal.
O único nome que aparece é o da Trident, como agente representante legalmente constituído da CH, J & T. Essas empresas abertas em paraíso fiscal são o primeiro passo para quem desejar manter algum dinheiro de forma sigilosa no exterior.
Assina o documento cuja cópia foi obtida pela Folha uma pessoa de nome Dulcita Austin, em nome da Trident. Essa mesma pessoa assinou os documentos oficiais da fundação da CH, J & T, e cuja veracidade foi comprovada no cartório de Nassau.
Apesar de a Folha dispor desses fax, na Trident ninguém quis dar informações a respeito. A reportagem falou, por telefone, com a gerente dessa empresa, Phyllis Rolle.
"Nós somos especializados nesse tipo de serviço de representação. Fazemos isso para alguns milhares de empresas", disse Phyllis Rolle.
A funcionária da Trident é a única autorizada a falar com a imprensa, embora se diga impedida de confirmar qualquer tipo de informação a respeito das empresas que representa.
"Por força de contrato, não estamos autorizados a fornecer nenhum tipo de dado. Só com a autorização dos donos da empresa", afirmou Phyllis Rolle.
² Comprovação
Embora não existam dúvidas de que a Trident seja representante legal da CH, J & T, uma nova prova desse fato surgiu ontem.
Uma empresa, cujo nome não será divulgado a pedido de seus proprietários, mandou um pedido para a Trident: queria saber se a CH, J & T está em funcionamento.
A Trident respondeu numa carta, datada de 3 de setembro passado, que a CH, J & T está funcionando. Assina o documento Barbara Carroll, gerente da Trident.
Uma curiosidade: ontem a reportagem da Folha telefonou para a Trident e pediu para falar com Barbara Carroll.
"Ela não trabalha aqui. Saiu há menos de um mês", afirmou uma secretária da empresa. A Folha quis saber a razão, mas não obteve sucesso.



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