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JANIO DE FREITAS
O segundo movimento
O primeiro movimento
de resposta pública ao
eleito Lula da Silva foi feito pelos eleitores de José Serra, com
o aplauso de alívio, levado à
euforia nos setores financeiros,
pela escolha do então insinuado e hoje confirmado futuro
ministro da Fazenda, Antonio
Palocci. O segundo movimento
tem sentido inverso ao anterior
e, embora pouco visível por
não ter canais de expressão, é
crescente: são os eleitores de
Lula invadidos pela perplexidade, no sentido mesmo de dúvida e espanto, incerteza e desconfiança. Entre os que acompanham as concessões no Congresso e as negociações partidárias, já mais do que perplexidade, desalento.
O sentimento que se difunde
no eleitorado de Lula provém
da radicalização de uma conveniência política. Se eleito, José Serra estaria empenhado,
para ampliar bases de apoio,
em convencer que viera para
mudar.
Lula e seu círculo imediato
parecem empenhados em convencer que vieram para não
mudar. Passado o efêmero lançamento do slogan Fome Zero,
todas as atenções e palavras do
presidente eleito e dos seus representantes dirigem-se aos interesses e pessoas que se abrigam sob o nome de mercado.
Os que não são o mercado,
nem compõem outro gênero de
empresariado, não têm merecido o favor de uma palavrinha,
sequer uma, seja de quem for
no círculo de Lula.
As dezenas de milhões que
votaram em Lula porque eram
contra a política econômica
têm que ouvir agora, indefesos
e estarrecidos, Antonio Palocci
elogiá-la, sem ao menos alguma ressalva. As classes médias,
os assalariados, os aposentados, os servidores públicos, enfim, a grande massa dos que fizeram a vitória da promessa de
mudança só têm encontrado,
nas entrelinhas das tantas falas da cúpula petista, insinuações de continuidade.
Quando não de piora, como
ficou perceptível no exemplo
mais recente, dado por José Genoino. De cada vez que se ouve
José Genoino ele é outro, mas
nem assim deixará de espantar
o eleitorado lulista sua advertência de que o futuro governo
praticará, contra o funcionalismo civil, a indigna e ilegal definição de "expectativa de direito" criada pelos neoliberais.
Que significado podem ter,
para os que votaram nas mudanças personificadas em Lula
e expressas pela PT, os entusiastas elogios de Pedro Malan
à confirmação de Antonio Palocci? Continuará tudo do
agrado de Malan e do FMI? Ou
mudará alguma coisa e, nesse
caso, o que será e como será? Os
eleitores vitoriosos não sabem.
Quem acompanha o que se
passa no Congresso só pode
concluir que o PT adotou, na
Câmara, a continuidade, agora por sua conta. O "foro privilegiado" para governantes e
ex-governantes denunciados
por crime de improbidade foi
aprovado, ontem, em caráter
terminativo, na Comissão de
Constituição e Justiça da Câmara.
Além de imoralidade explícita, cuja finalidade real é proteger os envolvidos em documentada improbidade na venda
das telefônicas, a aprovação é
inconstitucional, porque matéria da Constituição não pode
ser modificada por lei. Mas a
aprovação se deu com o assentimento do PT, como parte de
barganha que começou pelo
acerto de "transição democrática" com o maior interessado,
Fernando Henrique Cardoso, e
continuou nas negociações para a mal denominada minirreforma tributária. Não era essa
a mudança esperada pelo eleitorado de Lula da Silva.
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