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Lula critica Pinochet, mas veta arquivos da ditadura
Governo não cumpriu prazo dado pelo procurador-geral para abertura de documentos
Casa Civil, responsável pelos papéis, diz que eles "estão abertos, mas com restrições para proteger de danos a imagem das pessoas"
MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em nota que
"o general Augusto Pinochet
simbolizou um período sombrio na história da América do
Sul", contudo seu governo
mantém inacessíveis os arquivos com documentos sigilosos
produzidos pelo regime militar
brasileiro (1964-1985). A União
também se esforça, na Justiça,
para impedir que novos papéis
sejam liberados.
A declaração de Lula foi feita
domingo, exatos três meses depois de o procurador-geral da
República, Antônio Fernando
de Souza, lhe enviar ofício pedindo a abertura dos arquivos.
O chefe do Ministério Público Federal estipulou prazo de
dois meses (11 de novembro)
para o presidente responder e
tomar previdências. Lula não
fez nem uma coisa nem outra
-segundo reafirmou ontem a
Procuradoria em Brasília.
Na mesma nota divulgada
anteontem, dia da morte do ex-ditador do Chile (1973-90), Lula disse que houve "uma longa
noite em que as luzes da democracia desapareceram, apagadas por golpes autoritários".
Em nome do direito democrático de conhecimento da
história, em novembro de 2005
o Comitê de Direitos Humanos
das Nações Unidas recomendou ao Brasil "tornar públicos
todos os documentos relevantes sobre abusos de direitos humanos" durante a ditadura.
A ONU deu um ano -completado em 2 de novembro-
para o Brasil "fornecer informações relevantes" e para a
"implementação das recomendações". Até agora o país não
enviou resposta nem mudou a
postura sobre acesso a informação sigilosa do Estado.
De governo para governo
O governo Lula reúne muitos
antigos oposicionistas ao regime militar. Esse perfil não implicou virada na política restritiva de Fernando Henrique
Cardoso (1995-2002).
No fim de seu segundo mandato, FHC criou lei com a figura
do "sigilo eterno" para documentos com o carimbo de "ultra-secreto". Lula mudou a lei,
porém manteve a possibilidade
de jamais haver acesso a certos
papéis, se assim as autoridades
quiserem. Com Lula, a Justiça
ordenou a exibição de documentos relativos à Guerrilha do
Araguaia. A União não concordou e recorreu.
"Para que os brasileiros vivam em paz, é preciso passar a
limpo essa história", disse Suzana Lisboa, integrante da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos. "A iniciativa precisa partir do Estado."
Em São Paulo foi criado o
Movimento Desarquivando o
Brasil. Um abaixo-assinado do
grupo exige "o fim do silêncio
imposto aos arquivos, sobretudo os do período militar".
A ministra Dilma Rousseff
(Casa Civil) anunciou a transferência de documentos para o
Arquivo Nacional. O Grupo
Tortura Nunca Mais-RJ considerou o gesto um "faz-de-conta". O TNM-RJ lembra que a
norma legal permite ao presidente desclassificar (tornar público) qualquer documento.
Entidades de defesa dos direitos humanos reivindicam
acesso aos arquivos militares.
Como as Forças Armadas asseguram que eles não existem
mais, querem que o governo informe quando, onde, e por
quem foram destruídos. O procurador-geral apresentou o
mesmo pedido a Lula.
Dilma, ex-guerrilheira torturada, é a responsável por se
pronunciar sobre arquivos. O
tema é tido como delicado pelo
governo, que teme a reação de
militares. A assessoria da Casa
Civil disse que "os arquivos estão abertos, mas com restrições
para proteger de danos a imagem das pessoas". Conforme o
governo, as Forças Armadas
sustentam não manter papéis.
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