MAURICIO PULS
DA REDAÇÃO

A menos de um ano das eleições presidenciais de 2010, a dinâmica política dos grotões permanece uma incógnita para a classe média das metrópoles do Sudeste. Um bom ponto de partida para entender esse segmento do eleitorado nacional pode ser encontrado no livro "Eleições na Estrada", dos jornalistas Eduardo Scolese e Hudson Corrêa, da Folha.
No segundo semestre de 2008, os dois percorreram 30 pequenos municípios para acompanhar as campanhas em andamento. A escolha das localidades não foi casual: foram visitadas aquelas que tinham alguma singularidade nacional -a menor renda per capita, a maior proporção de famílias sem luz etc. O resultado dessa jornada de 14.000 km reaparece agora em livro, em textos mais detalhados.
Apesar do avanço de algumas atividades (soja, pecuária, mineração), o que mais chama a atenção nos relatos é a importância do poder público nessas regiões. Há municípios que sobrevivem dos empregos na prefeitura, das aposentadorias e do Bolsa Família. Em tais cidades, pregar a redução do papel do Estado na economia (crítica que Lula fez a Alckmin na eleição de 2006) não é um bom slogan de campanha.
A estrutura de dominação descrita no clássico "Coronelismo, Enxada e Voto" (1948), de Victor Nunes Leal, persiste, mas sob formas cada vez mais complexas. A distribuição dos recursos federais continua favorecendo os chefes locais, mas num cenário mais diferenciado. Em Aroeiras do Itaim (PI), de 2.823 eleitores, os candidatos a prefeito não eram dos tradicionais PMDB e DEM, mas do PSB, PPS e PC do B.
A própria atuação do Estado, ao elevar a renda dos moradores, ajuda a diversificar o comércio e a produção local, criando novas demandas. Em situações de miséria extrema, "o eleitor só pede comida, água, carro-pipa, cisterna, frente de trabalho". À medida que a situação melhora, ele "pode cobrar coisas mais estruturantes, como créditos, tratores e açudes", diz uma líder sindical.
Com isso, velhos mecanismos de compra dos votos começam a perder força. Em Capitão Gervásio Oliveira (PI), o prefeito usava os carros-pipa para conquistar votos. Mas perdeu a eleição.