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OPOSIÇÃO x GOVERNO
Presidente convidou petista para conversas até sobre a
política econômica
Lula se encontra com FHC e admite discutir propostas
ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília
KENNEDY ALENCAR
Editor do Painel
DENISE MADUEÑO
da Sucursal de Brasília
Com dificuldades em sua base de
apoio no Congresso, o presidente
Fernando Henrique Cardoso convidou Luiz Inácio Lula da Silva para discutir a política econômica e
tentar estabelecer uma nova convivência do PT com o governo no segundo mandato.
FHC e Lula conversaram e tomaram uísque por mais de duas horas, anteontem à noite, na parte íntima do Palácio da Alvorada. Foi o
primeiro encontro dos dois desde
a posse do presidente em janeiro
de 1995. O governador Cristovam
Buarque (DF) participou.
Ficou acertado um debate formal
entre o governo e o PT, possivelmente na segunda quinzena de janeiro. As assessorias econômicas
dos dois lados tentarão estabelecer
uma pauta comum.
Conforme a Folha apurou, Lula
criticou o acordo do Brasil com o
FMI (Fundo Monetário Internacional), condenou a falta de investimentos na indústria e previu
uma séria crise social em 99. A política econômica, disse, está levando o país a um "beco sem saída".
O presidente respondeu que não
tinha alternativa, que acreditava
"piamente" que fora correta a ida
ao Fundo e que a comunidade internacional entendeu que a crise
era mundial e o Brasil não poderia
quebrar.
O presidente reclamou da irreverência de sua base aliada, das cobranças dos partidos que a compõem e defendeu enfaticamente a
necessidade de uma reforma político-partidária.
Citou a votação da medida provisória das entidades filantrópicas,
nesta semana, como exemplo de
entendimentos pontuais possíveis
entre governo e oposição.
Os dois elogiaram o governador
reeleito Mário Covas (SP), que fará
uma cirurgia na segunda-feira para retirada da bexiga e foi visitado
ontem por FHC. Covas tem sido o
principal defensor da aproximação do governo com as esquerdas.
Nessa fase da conversa, FHC
agradeceu a Lula por não ter divulgado o "dossiê Caribe", sobre suposta conta que teria como beneficiários o presidente e líderes tucanos no exterior. E ambos condenaram Paulo Maluf, que tentou utilizar a papelada durante a campanha eleitoral.
Ao abrir um canal com o PT, o
presidente mostra que pode trilhar
um caminho mais independente
no segundo mandato, aceitando
inclusive discutir a até agora intocável política econômica.
Para Lula, é importante tentar
acabar com a imagem de que lidera
uma sigla que aposta no "quanto
pior melhor" e que faz oposição intransigente, sem propostas.
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FHC pediu
A iniciativa do encontro partiu
de FHC. Ele já havia telefonado para Lula no dia 10 de novembro, para agradecer sua posição no caso
do dossiê, e vinha insistindo com
Cristovam Buarque para intermediar o encontro.
O telefonema decisivo foi na noite de quinta-feira, para o celular de
Lula, que estava num seminário do
PT na Câmara. FHC disse que poderia ser um café-da-manhã ou
um encontro em São Paulo.
Lula ficou em dúvida. Consultou
ali mesmo o presidente do PT, José
Dirceu, o deputado José Genoino
(SP) e o deputado eleito Aloizio
Mercadante (SP). Os três foram reticentes. Mesmo assim, Lula marcou o encontro -que foi até a 1h30
de ontem- para o mesmo dia.
Ontem, ele comunicou sua ida ao
Alvorada para a bancada petista,
no final do seminário. Disse que
havia sido "uma conversa informal, sem agenda", que caberia ao
presidente da República divulgar
seu teor e que encontros posteriores passariam pelo partido.
A reação do Palácio do Planalto
veio do porta-voz Sérgio Amaral:
"Quem ganha é o país", disse, no
"briefing" diário.
"Se houver entendimentos entre
as diferentes correntes, nós poderemos avançar mais rápido. Sobretudo quando se trata de superar
uma crise", disse Amaral, acrescentando que o presidente "por
sua própria natureza e por convicção política sempre buscou diálogo nas mais diferentes forças políticas do país".
Lula também falou rapidamente
sobre o encontro: "Conversamos
amenidades. Àquela hora da noite,
não dava para chegar a um acordo.
Achei melhor falar sobre o Corinthians, porque a gente ganharia
mais", declarou.
Ele tentou justificar o apoio de
FHC ao manifesto dos presidentes
de países do Mercosul contra a extradição do ex-ditador chileno Augusto Pinochet. "Como chefe de
Estado, (FHC) tem muito menos
liberdade do que eu, que sou da
oposição, para se manifestar", afirmou o petista.
Para José Dirceu, "a bola agora
está com o presidente, que decidirá se vai ficar conversando apenas
com sua base aliada fisiológica ou
se quer conversar com o PT, com
os partidos de oposição e com a sociedade".
Genoino disse que "a crise é tão
grave que é até uma responsabilidade abrir o diálogo". Mercadante
considerou o encontro "positivo".
O intermediador Cristovam
Buarque comemorou: "Estamos
abrindo uma nova etapa no país.
Dialogar não é aderir".
˛
Colaborou
Renata Giraldi, da Sucursal de Brasília
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