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SUCESSÃO PAULISTA
Petista diz que pobreza não é causa da violência, pede autocrítica da esquerda e se coloca contra fim da PM
Candidato, Genoino defende Rota na rua
FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Candidato pelo PT ao governo
de São Paulo, o deputado federal
José Genoino, 55, quer uma repressão mais dura à criminalidade, com a Rota (esquadrão de elite
da Polícia Militar) nas ruas de forma atuante.
"Uma política de direitos humanos não deve impedir a Rota
de agir com energia e força", diz
Genoino, para quem a pobreza
não pode ser apontada como causa única da violência.
Expoente da ala mais moderada
do PT, o deputado busca colocar
sua candidatura no centro do debate sobre a segurança pública,
bandeira normalmente associada
à direita e com a qual seu partido
não tem grande intimidade.
Ao fazê-lo, Genoino destoa do
figurino tradicional da esquerda e
de posições do próprio PT. Coloca-se contra a extinção da Polícia
Militar, diz que lugar de policial é
na rua e não para fazer assistencialismo social.
O deputado promete ainda, se
eleito governador, colocar na Secretaria de Segurança Pública alguém que fale a "linguagem da
corporação". Mostra predileção
por um policial para a pasta e praticamente descarta nomear um
jurista ou um promotor, como
costuma acontecer em governos
de esquerda. "E certamente não
será [alguém" do PT", afirma.
Ex-guerrilheiro pelo PC do B na
região do Araguaia, nos anos 70,
Genoino diz não temer que tal fato venha à tona durante a campanha. "Vou para a campanha com
o corpo aberto", diz. Com 5% das
intenções de voto, bem atrás de
Geraldo Alckmin (PSDB) e Paulo
Maluf (PPB), que lideram, o petista admite discutir a prisão perpétua. A seguir, a entrevista:
Folha - Quem o PT vê como mais
vulnerável na área de segurança
pública, Alckmin ou Maluf?
Genoino - Os dois são. O Alckmin porque está há sete anos no
governo e o balanço é trágico para
São Paulo. Há uma polícia desorientada, que perdeu a guerra para o crime. O Maluf, porque o discurso dele é o da violência impotente. Você faz barulho, mas o barulho não tem eficácia. Numa
ponta, a segurança tem de ter a repressão. Na outra, a articulação
com as secretarias sociais. Tem de
haver uma polícia comunitária,
entrosada com a população.
Quando tem um incidente grave,
ela própria chama a força, a repressão, a Rota, o Garra.
Folha - A Rota tem de existir?
Genoino - Tem de existir, mas
tem que ir para a rua a partir de
informação dirigida, de alvo preciso. De comando competente.
Folha - Esse não é o discurso do
Maluf?
Genoino - O discurso dele é o barulho. Você não pode espalhar só
a força. A força tem de ser usada
com objetivo determinado. O
Maluf faz barulho. É o discurso da
ineficiência. Se você não tiver um
bom sistema de telecomunicações, de perícia, de sistema eletrônico, a ação fica dispersa. E tem de
ter autoridade, disciplina, mão
dura para que a polícia estimule a
defesa da sociedade dizendo:
"Olha, bandido não manda".
Folha - E como conciliar autoridade com o respeito aos direitos humanos, uma bandeira cara ao PT?
Genoino - Os direitos humanos
devem presidir o governo. São
uma conquista da civilização. Presidir não significa inibir a polícia,
favorecer o bandido, o tráfico. É
possível ter uma política de direitos humanos e uma polícia eficiente. Uma boa polícia não é a
que sai batendo indiscriminadamente, mas a que age no momento certo, no lugar certo. Tem de
separar o uso da força, que é legítimo, do uso da violência, que é
sair fazendo guerra. Quero fazer
essa discussão no PT. Uma política de direitos humanos não deve
impedir a Rota de agir com energia e com força. Não pode impedir a polícia de investigar. Tudo
tem de ser feito com critério.
Folha - O governo estadual criou
o Proar [plano que tira da rua policial envolvido em morte". Caso
eleito, o sr. o manteria?
Genoino - Eu me disponho a rever esse programa. Tem coisas
positivas, mas tem negativas. Você não pode generalizar. Tem determinadas ações em que a polícia
é obrigada à autodefesa. Não é por
toda morte que o policial precisaria passar pelo programa. Você
tem de separar o que é erro, perversidade, do que é circunstância
de uma ação delicada da polícia.
Folha - Qual seria o perfil do seu
secretário de Segurança Pública?
Genoino - Tem de ter autoridade
e entender de polícia. Entender do
assunto, das regras, da formação,
da convivência com a polícia.
Folha - Tem de ser um policial?
Genoino - O importante é conhecer o assunto. Tem de entender de
armas, de tropa, de investigação.
Você não pode tratar Segurança
como outro cargo. O secretário
tem de ser do ramo. Não podemos criar a idéia de que tem de ser
sempre promotor ou jurista.
Folha - Que é uma característica
de governos de esquerda, não?
Genoino - Nós temos de reavaliar essa questão. Você não pode
ter preconceito com quem é militar, policial. Assim como a direita
tem preconceito em botar promotor ou jurista, a esquerda não
pode ter preconceito em colocar
um militar ou policial de carreira.
Folha - Mas o PT tem quadros com
esse perfil para ser secretário?
Genoino - Nem tem, nem precisa
ter. O que precisa é tirar alguém
dos quadros da polícia, com competência. Não precisa ser do PT.
Aliás, certamente não será do PT.
A condição de filiado não é exigência para ser secretário.
Folha - O sr. não vai colocar um
petista num cargo dessa importância? O partido vai aceitar?
Genoino - Temos de mudar esse
conceito. O PT hoje é um partido
cada vez mais amadurecido. Em
se tratando de segurança, não pode ter critério político para nomear. Porque, na tropa, complica.
Folha - O governo gaúcho, do PT,
passa justamente por um processo
de crise de autoridade na área de
segurança. Que avaliação o sr. faz?
Genoino - Nós tivemos experiências positivas no governo petista de Brasília e temos no Acre e
em Mato Grosso do Sul. E estamos construindo uma experiência no Rio Grande do Sul com alguns pontos positivos, como a integração das polícias, de regimento. E temos tido falhas, de inexperiência. Tivemos falha no episódio [em gravação, o militante petista Diógenes de Oliveira pede ao
então chefe da polícia que tenha
menos rigor contra o jogo do bicho". Aquilo não pode ocorrer, foi
nitidamente questionamento da
autoridade. Quem é eleito não pode ter a autoridade questionada.
Folha - Quem garante que isso
não vai se repetir em São Paulo?
Genoino - Não vai. Tivemos uma
experiência negativa no episódio
gaúcho, e o PT tem de aprender
profundamente com ela. Aquilo
não aconteceria no meu governo.
De maneira nenhuma. Quem se
relaciona com a polícia é o governador ou o secretário. Qualquer
ação por fora está proibida e, se
acontecer, tem de cortar na carne.
Se você não comandar com cabresto curto, perde a autoridade
com a polícia. Nós temos de mudar a nossa cultura. A esquerda
tem o grande desafio de entender
de segurança. Tem de buscar a renovação.
Folha - Que renovação?
Genoino - Por exemplo, você não
pode trabalhar com a idéia que tivemos no passado de unificar as
polícias Civil e Militar. Temos de
ter uma visão de integração, mas
montada no tripé Polícia Civil,
Técnico-Científica e Militar. Integrada no comando central, no
banco de dados, mas com características diferenciadas.
Folha - Mas o PT não defende desmilitarizar a polícia?
Genoino - Polícia Militar tem de
ser desmilitarizada em termos de
não deixar ela ter a concepção de
guerra. Agora, ter uma estrutura
militar com hierarquia, capacidade de mobilização, de emprego,
tudo bem. O aparato militar na
segurança pública é uma exigência no enfrentamento da criminalidade moderna. Tem momentos
em que um batalhão, uma companhia são necessários.
Folha - O sr. foi guerrilheiro. Levantou-se contra o Exército e a polícia. Esse fato não poderia minar
sua autoridade sobre a polícia?
Genoino - Pelo contrário. O fato
de eu ter participado de uma fase
da resistência a um regime ditatorial e repressivo, ter mudado sem
mudar de lado e ter aprendido a
me relacionar com os militares
sem ódio e rancor mostra um
amadurecimento. Mostra também capacidade de entender de
um assunto que exige dedicação,
esforço e moderação. Exatamente
por eu ter tido essa experiência,
quando falo do assunto, a fala tem
credibilidade. Não tenho telhado
de vidro. Vamos fazer uma campanha franca, sem omitir nada.
Folha - É preciso também haver
penas mais severas, com uma reforma do Código Penal?
Genoino - Sim, para crimes hediondos. Sou favorável a aumentar o limite de cumprimento de
pena que hoje é de 30 anos.
Folha - E prisão perpétua?
Genoino - Depende do tipo de
crime, do tipo de reincidência. Estou aberto a discutir essa questão.
É preciso endurecimento do Código em alguns pontos. Na outra
ponta, você tem a prevenção. Atenua, cria um amortecedor.
Folha - O PT coloca pouca ênfase
na repressão?
Genoino - Eu quero alterar esse
discurso. Para dizer o seguinte:
criminalidade você resolve com
prevenção, investigação e repressão. Nós não podemos culpar a
pobreza pela violência. Esse é um
erro. O abandono, a falta da presença do Estado estimulam,
criam o caldo de cultura. Mas a
pobreza não é responsável. A esquerda tem de dizer o seguinte:
não abrimos mão dos direitos humanos, mas o Estado tem de ser
forte na repressão.
Folha - Com este tipo de posicionamento, o sr. não teme se igualar
a Alckmin ou a Maluf?
Genoino - Eu estou fazendo crítica radical ao tucanato e ao malufismo. Entre a falência do tucanato e o barulho do malufismo, temos de ter uma outra alternativa.
E quero ser protagonista dessa alternativa, que combina repressão
e direitos humanos, eficiência e
respeito às regras, autoridade
com visão humanista. Segurança
pública não pode ser um tema
que coloque a esquerda na defensiva. Quem tem de ir para a defensiva são Maluf e Alckmin.
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