São Paulo, terça-feira, 13 de janeiro de 2004

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DANÇA DOS MINISTROS

Segundo PT, aliança é possível em mais de 1.500 municípios

Planalto vincula reforma do ministério às eleições

RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A reforma ministerial a ser promovida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva é uma operação casada com a eleição municipal. Vencer o pleito deste ano é prioridade do Planalto, que propõe aos partidos aliados um "contrato político": aliança nos municípios em que isso for possível, apoio no segundo turno onde não for e pacto de não-agressão ao governo federal onde partidos da base aliada estiverem em conflito.
O "contrato político", termo cunhado pelo presidente do PT, José Genoino (SP), foi defendido pelo ministro José Dirceu (Casa Civil) na conversa que teve domingo à noite com a cúpula do PMDB.
Segundo Dirceu, a nomeação de ministros peemedebistas não significa apenas o ingresso da sigla no governo. Trata-se de uma "aliança estratégica" que envolve a eleição de 2004.
Amanhã ou quinta-feira, Genoino se reúne com Michel Temer (SP), presidente do PMDB, para tratar da parceria entre as duas legendas. Nos cálculos do PT, será possível formalizar aliança em mais de 1.500 municípios, inclusive em algumas capitais, como São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte e João Pessoa.
Na eleição de 2000, PT e PMDB foram aliados em cerca de 700 municípios. De acordo com o ministro-chefe, as duas siglas detêm hoje 50% dos votos do país.
Genoino diz que as pesquisas a que tem acesso indicam que as duas siglas estão em primeiro e segundo lugar, respectivamente, na preferência do eleitorado.
O critério, de acordo com Genoino, será "o caráter democrático e ético das alianças". Em São Paulo, por exemplo, o PT da prefeita Marta Suplicy quer o apoio do PMDB do ex-governador Orestes Quércia.
O caráter eleitoral da reforma transpira também em outros movimentos do governo. O mais importante deles talvez seja a decisão de manter o ministro das Cidades, Olívio Dutra, no cargo.
Além da esquerda, os prefeitos das capitais governadas pelo PT, especialmente os de São Paulo, Porto Alegre e Aracaju, pressionaram pela permanência de Dutra: neste ano, a pasta terá verba superior a R$ 3 bilhões para investir em obras municipais. Trunfo do qual o PT não abre mão.
Ministro petista, Humberto Costa terá cerca de R$ 1 bilhão para investir em saúde, programas e obras que gerem empregos.

Questão de honra
Para o Planalto, é questão de honra vencer as eleições em quatro capitais governadas pelo partido (São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife) e tentar ganhar a Prefeitura do Rio. Em Porto Alegre e Recife é pouco provável a aliança com o PMDB. São dois casos que devem entrar no "pacto de não-agressão".
Em Recife, sem o PMDB, o Planalto joga as fichas no apoio de Miguel Arraes (PSB) ao prefeito João Paulo, até porque outro aliado, o PTB, terá um candidato forte: o ex-governador Joaquim Francisco. O reflexo dessa situação na reforma ministerial é a substituição do ministro Roberto Amaral pelo deputado Eduardo Campos (PE), líder do PSB na Câmara e neto de Arraes.
Em São Paulo, o PT considera bem "encaminhada" a conversa com o PMDB, mas quer mais: o PP de Paulo Maluf foi convidado para as conversas sobre a reforma. É improvável que o PP ganhe algum ministério, podendo levar, porém, cargos no primeiro escalão. Há ainda a tentativa de levar a deputada Luiza Erundina (PSB) a desistir de sua candidatura.
As chances do senador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) na reforma ministerial estão atadas à possibilidade de ele vir a apoiar a candidatura de Jorge Bittar a prefeito. É um quadro complexo, que envolve o secretário da Segurança do Rio, Anthony Garotinho. Hoje, a aliança é avaliada como difícil.

Mercadante
Um dos cenários analisados pelo presidente Lula na reforma ministerial é a nomeação do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), para a Previdência Social. O atual ministro, Ricardo Berzoini, já foi avisado de que pode voltar à Câmara ou ser deslocado para uma pasta que coordenaria as ações de política social.
A pasta foi oferecida ao PMDB, que prefere o Ministério da Integração Nacional. Será mais fácil para Lula, entretanto, que o PMDB aceite a Previdência.


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