São Paulo, sexta-feira, 13 de janeiro de 2006

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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA

Deputado ligado a governador diz não haver justificativa para prefeito entregar cargo a PFL

Aliados de Alckmin usam "risco Kassab" contra Serra

Tom Dib/Futura Press
O governador Geraldo Alckmin, que visitou ontem escola de SP


CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Aliados do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, começaram ontem a explorar o "risco Kassab" como arma contra a candidatura do prefeito de São Paulo, José Serra, à Presidência da República pelo PSDB.
Dentro da estratégia de que a candidatura Alckmin é a "natural", tucanos com trânsito no Palácio dos Bandeirantes já tornam pública sua objeção à possibilidade de passar o comando da prefeitura para o PFL a três anos do fim de mandato. Se Serra sair, assumirá o pefelista Gilberto Kassab.
Para o secretário estadual de Educação, Gabriel Chalita, "isso é um ponto a ser refletido". "É a primeira vez na história que o PSDB assume a prefeitura. E, logo depois, abandona?", perguntou Chalita, segundo o qual "isso não tira as qualidades do prefeito José Serra, ao contrário", mas causa reação entre os militantes.
"Nunca vencemos. Na primeira vez em que o PSDB ganha, ele abre mão e entrega para outro prefeito? Isso pesa na discussão", disse o secretário, ressalvando que o problema não é com o PFL.
Participante de uma solenidade ontem ao lado de Alckmin, o deputado estadual tucano Milton Flávio foi mais duro ao refutar a possibilidade de Alckmin e Serra se enfrentarem numa prévia.
Segundo ele, a convenção está descartada porque Alckmin se consolidará em semanas. E "não há justificativa para que o Serra abandone o mandato com três anos ainda a serem cumpridos". "Respeito o Kassab, mas não vejo nele a mesma competência e experiência administrativa [de Serra], para não dizer o resto." Os dois reproduzem, segundo interlocutores de Alckmin, a linha desenhada pelo governador: da "naturalidade" de sua candidatura.
De acordo com um parlamentar ligado a Alckmin, o problema é "maior do que Kassab". Com a saída de Serra, o PFL traçaria o perfil da administração da cidade. E a estratégia do governador é mostrar ao partido que Serra não preparou uma transição.
Outro tucano afinado com Alckmin disse que o governador vai insistir na idéia de que cumpriu todas as etapas para chegar à Presidência. Ontem, ao falar da disputa interna, Alckmin afirmou que o partido chegaria a um entendimento. "Naturalmente."
Depois de rechaçar a hipótese de antecipação de sua renúncia para fevereiro, repetiu que não pressionou Serra. Confrontado com a afirmação de que Serra não poderia se declarar candidato, perguntou: "Por quê?"
Alckmin também negou os rumores de que teria feito um acordo com Serra para nunca mais lembrar publicamente que o prefeito se comprometeu a ficar no cargo até o fim do mandato. "Eu não faria isso. Nem Serra pediria."
O cuidado de Alckmin é evitar que a estratégia crie problemas com o PFL. Falando da necessidade de aliança com os pefelistas, Alckmin fez questão de elogiar seu vice, o pefelista Cláudio Lembo. "Estou extremamente satisfeito. Acho que acertei, marquei um gol, quando escolhi o professor Claudio Lembo. Um homem extremamente sério, um professor de universidade, maduro. São Paulo estará em ótimas mãos nesses oito meses", disse.
Para um de seus aliados, foi o método Franco Montoro (ex-governador de São Paulo e um dos mentores políticos de Alckmin) de fazer política: exaltar o que considera bom em si para mostrar o ruim dos outros.
Procurado ontem pela Folha, Kassab não quis se manifestar. Um dos principais aliados de Serra, o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), minimizou o problema, alegando que esse também é o caso de Alckmin. "Nos dois lados, tem problema. Ou entregamos a prefeitura ou o governo do Estado para o PFL."


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