São Paulo, domingo, 13 de janeiro de 2008

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Eleitor está cada vez mais atento à corrupção

Percentual do eleitorado que avalia a honestidade como muito importante num presidenciável vai de 88% para 91% de 2001 a 2007

Segundo Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, "não há espaço para alguém com imagem de corrupto se lançar à Presidência"

MARCELO BERABA
DA SUCURSAL DO RIO

A lista de candidatos à sucessão de Lula em 2010 ainda não está definida, mas os eleitores já têm algumas idéias de como deve ser o seu sucessor. É indiferente que seja homem ou mulher, rico ou pobre, mas aumentou -após três anos de escândalos, investigações policiais, CPIs e processos judiciais- a preocupação com a honestidade dos candidatos a presidente.
Em 2001, ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), 88% dos eleitores ouvidos pelo Datafolha disseram que consideravam muito importante que o seu candidato à Presidência jamais tivesse tido envolvimento em casos de corrupção. Em 2002, quando ocorreu a eleição vencida por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), este índice foi de 86%. Em pesquisa feita pelo instituto entre 26 e 29 de novembro passado, o percentual foi para 91%.
A pesquisa ouviu 11.741 brasileiros acima de 16 anos. O Datafolha quis saber que importância os eleitores atribuem a fatores como sexo, patrimônio, estado civil, religiosidade, experiência administrativa e honestidade na corrida presidencial.
Dois aspectos sobressaem no levantamento [veja o quadro ao lado]: a ênfase na honestidade e a crescente indiferença em relação ao fato de o candidato ser casado ou religioso. Não é a palavra final dos eleitores, mas são indicações que devem ser levadas em conta.

Gestores honestos
Em 2001, os eleitores ouvidos pelo Datafolha achavam igualmente muito importante o candidato não ter envolvimento com corrupção (88%) e ter experiência administrativa (87%). Agora, passados seis anos, eles dão mais importância à honestidade (91%) do que à experiência (83%). Mas os dois atributos se completam. Pode-se dizer que a maioria absoluta prefere um gestor experimentado e honesto.
Os índices de rejeição aparente à corrupção são altos em todos os segmentos e Estados pesquisados pelo Datafolha, mas há nuances. Entre os que têm nível superior de escolaridade e os mais ricos, o percentual sobe para 95%. É, curiosamente, o mesmo indicador entre os eleitores do PP -um dos partidos que mais tiveram parlamentares envolvidos nos escândalos do mensalão, mensalinho (Severino Cavalcanti) e sanguessugas.
"Honestidade e experiência administrativa são valores permanentes", analisa Marcus Figueiredo, cientista político do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro): "A idéia de não envolvimento com corrupção é um princípio desejado, o que não quer dizer que eventualmente algum envolvimento derrube um pretenso candidato".

Números contundentes
Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, avalia que os números da pesquisa são "contundentes" em relação à rejeição à corrupção e à importância de experiência administrativa: "Os candidatos que não levarem em conta estes fatores terão dificuldades. Não há nenhum candidato associado a casos de corrupção. Hoje não há espaço para alguém com imagem de corrupto se lançar à Presidência".
Para Paulino, o eleitor espera que o candidato tenha experiência, apesar de ter elegido Lula em 2002: "Mas naquela campanha, o publicitário Duda Mendonça explorou muito a idéia de que Lula teria um ministério experiente".
O cientista político Alberto Almeida, autor do livro "A Cabeça do Brasileiro" (Record, 2007), entende que o resultado do Datafolha demonstra que o currículo do candidato relacionado com a vida pública tem mais importância do que a vida pessoal: "O eleitor procura alguém que tenha mostrado serviço, que seja bem sucedido e faça o bem às pessoas".
Ele faz, no entanto, uma ponderação. Em disputas em que a reeleição está em jogo -como foi a de Lula em 2006-, o eleitor está mais atento às realizações do governo. Naquele ano, o eleitor avaliou positivamente o governo Lula, não deu tanta importância para escândalos como o do mensalão e o reelegeu. Em eleições normais, como será a de 2010, o fator pessoal tende a ter peso maior.


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