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CONTAS PÚBLICAS
Reunidos a portas fechadas, 18 aliados do Planalto reivindicam mais espaço nas decisões econômicas
Governadores criticam MG e equipe de FHC
ELIANE CANTANHÊDE
PATRICIA ZORZAN
enviadas especiais a São Luís
Reunidos ontem em São Luís
(MA), 16 governadores e dois vice-governadores aliados ao Palácio
do Planalto criticaram duramente
a moratória mineira, sem citá-la,
mas exigiram "participação efetiva" na formulação das políticas
econômicas e sociais ditadas por
Brasília para o país.
No documento final do encontro, a "Carta de São Luís", de dez
parágrafos, eles propuseram a
criação de uma Conferência Nacional de Governadores, "para a
discussão de questões de interesse
nacional". Na reunião, fechada para a imprensa, criticaram a '"arrogância" da equipe do ministro Pedro Malan (Fazenda).
A primeira reunião da conferência será em Aracaju (SE), em 1º de
março. A anfitriã de ontem, Roseana Sarney, adiantou um dos temas:
a renegociação das dívidas dos Estados que comprometem mais de
13% de sua receita líquida mensal
com elas. Caso de três a quatro Estados (como Mato Grosso: 22%).
No discurso de abertura, Roseana defendeu: "Podemos -e devemos- debater os termos de uma
renegociação, mas no fórum adequado, que é e deve continuar sendo a consciência federativa".
Parte da "Carta" contra o governador Itamar Franco (MG) e a moratória mineira: '"A harmonia entre
a União e os Estados é a base do
pacto federativo. Tentar rompê-la
é um desserviço ao país e às instituições".
Recado para o presidente Fernando Henrique Cardoso e a equipe econômica: "A redução das taxas de juros e o tratamento justo
aos diversos Estados e municípios
são um imperativo para a retomada do crescimento econômico e o
aumento da oferta de empregos".
Segundo o documento, essas são
"condições indispensáveis para a
redução dos graves problemas sociais que impedem o nosso desenvolvimento".
Os governadores reiteraram o
apoio a FHC na adoção de medidas
necessárias ao fortalecimento do
Real e na liderança do "processo
de entendimento". O apoio, entretanto, será dado "no pressuposto
de que o governo federal examinará a situação dos Estados".
Conforme a Folha apurou, Jaime
Lerner (PR) foi um dos mais enfáticos. "Os compromissos precisam
ser honrados também pelo governo federal", disse.
José Maranhão (PB) foi o mais
enfático: '"A área econômica é inteiramente arrogante e autoritária". A
crítica foi consenso entre o grupo.
Em entrevistas separadas, durante todo o dia, os governadores
foram críticos em relação à moratória mineira, chamada de "oportunista e precipitada". Mas sempre
ressaltaram a necessidade de participar das decisões econômicas.
Não houve, porém, consenso sobre a renegociação.
'"Evidentemente ninguém está inteiramente satisfeito com uma política econômica que tem juros altos e desemprego", disse Tasso Jereissati (CE), que pertence ao
PSDB e coordenou as discussões,
realizadas no Palácio Henrique De
La Roque.
Ele afirmou que os governadores
têm o direito de discutir particularidades de seus Estados com o
FHC e a equipe econômica. Acha,
entretanto, que não devem renegociar contratos já firmados.
Hoje, por exemplo, José Ignácio
Ferreira (ES) estará em Brasília
com Malan e Clóvis Carvalho (Casa Civil). A situação do Espírito
Santo é considerada caótica: 123%
da receita líquida é consumida pela
dívida com a União e com o funcionalismo.
Ignácio enviou 11 projetos à Assembléia Legislativa e na segunda-feira passada 4 deles já haviam sido
aprovados.
Sua intenção é reduzir a despesa
em R$ 20 milhões, inclusive com a
redução proporcional de horas de
trabalho e de salários. Frisou, entretanto, que o governo federal
tem sua parcela de culpa nesse estado de coisas.
José Maranhão também defendeu a necessidade de renegociação. '"Se contratos particulares podem ser revistos quando as condições se alteram, por que não os
com a União?"
Para Dante de Oliveira (MT) há
duas prioridades: discutir um projeto de desenvolvimento nacional
e regional para o país e renegociar
outras pendências entre União e
Estados que não as dívidas.
Citou como exemplo a Lei Kandir, que reduziu o repasse de ICMS
(Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços) para os
Estados. Disse que Mato Grosso
perdeu R$ 131 milhões em 1998 por
conta dessa lei.
Lerner (PR) defendeu a criação
de um fundo de previdência para
viabilizar a folha de inativos e pensionistas como forma de garantir o
equilíbrio das contas.
Foi também um dos autores do
fórum de governadores. "Não podemos receber o encargo de decisões das quais não tomamos parte.
Afinal, elas refletem na geração de
empregos e de investimentos sociais nos Estados."
Amazonino Mendes (AM) quer
uma discussão imediata sobre as
alíquotas de importação. Condenou que as decisões sejam concentradas num "grupo de intelectuais
de Brasília".
O útimo governador a chegar foi
Albano Franco, de Sergipe, onde
FHC deve passar alguns dias de
descanso até o final da semana.
Segundo assessores do governo
do Maranhão, Albano foi ao encontro a pedido do próprio presidente.
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