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BRASIL PROFUNDO
Irmã Dorothy Stang era natural dos EUA e atuava com sem-terra; governo federal aponta ação de fazendeiro
Missionária é morta
com 3 tiros no Pará
FÁBIO AMATO
THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA
A missionária norte-americana
Dorothy Stang, 73, foi assassinada
ontem com três tiros em uma
provável emboscada ocorrida numa estrada de terra, localizada no
município de Anapu, no Pará,
próximo a Altamira (a 777 km de
Belém).
A irmã Dorothy, como era conhecida, possuía cidadania brasileira e atuava na região como
agente da CPT (Comissão Pastoral da Terra), o braço agrário da
Igreja Católica que age em conjunto com trabalhadores rurais
em defesa da reforma agrária.
Até o final da tarde de ontem a
polícia local tinha poucos detalhes do crime. Segundo informações preliminares, o assassinato
teria ocorrido por volta das 13h.
Irmã Dorothy viajava por uma
estrada de terra na companhia de
dois trabalhadores rurais quando
foi atingida pelos tiros, supostamente disparados por pistoleiros.
As duas testemunhas não foram
feridas e estariam agora sob proteção da polícia.
"As informações que temos até
agora nos levam a crer que a morte foi encomendada", disse o comandante da Polícia Militar na região de Altamira, tenente-coronel
Waldimilson Godinho.
O local do crime, informou ele,
fica em um ponto isolado, em
meio a propriedades rurais, a cerca de 30 km do centro de Anapu.
A forte chuva que atingiu a região
na tarde de ontem teria atrasado
ainda mais o trabalho da polícia.
Segundo o comandante, a região há vários anos é foco de um
conflito que envolve fazendeiros e
grileiros, de um lado, e trabalhadores rurais, do outro. Anapu
também é ponto de intensa atuação de madeireiras.
"A irmã Dorothy era uma pessoa muito visada devido à ligação
dela com os trabalhadores rurais.
Por diversas vezes oferecemos
proteção policial a ela, mas ela
nunca aceitou", afirmou Godinho. A CPT diz que a religiosa recusou a oferta porque viajava
muito e porque não gostava de
policiais ao redor dela.
O comandante disse ainda que
na semana passada recebeu da
Associação Rural de Anapu, que
reúne fazendeiros do município,
um manifesto contra a atuação da
freira na região.
A missionária era acusada de ter
financiado a compra de armas para quatro trabalhadores rurais denunciados pelo assassinato do segurança de um fazendeiro no final de 2003. Eles estão presos desde fevereiro do ano passado.
Stang respondia a processo por
co-autoria no crime.
Segundo a advogada da CPT,
Rosilene do Socorro Conceição
da Silva, não havia provas contra
a missionária. "Era mais uma armação política. Aqui no Estado
do Pará, o primeiro processo é
criminalizar as lideranças, vinculá-las a um fato criminoso, para
que elas perdam a credibilidade
diante da comunidade", afirma.
Encontro
Na semana passada, a missionária teve uma audiência com o ministro Nilmário Miranda, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Teria identificado, no encontro, o nome de pessoas que estariam recebendo ameaça de
morte na região. Segundo Nilmário disse ontem à Folha, os suspeitos pelo assassinato são conhecidos como Fogoió e Eduardo, e
teriam agido a mando de um homem chamado Dinair.
Em nota divulgada ontem, a
CPT, por sua vez, afirma que irmã
Dorothy foi assassinada por pistoleiros e acusa -baseando-se
em dados de "informantes" não
identificados- o fazendeiro Dinair Freijó da Cunha, de Anapu,
de ser o mandante do crime. A
polícia não confirma a suspeita. O
fazendeiro não foi localizado pela
reportagem no dia de ontem.
Segundo a CPT, irmã Dorothy
vinha sendo ameaçada desde que
iniciou o trabalho na cidade, em
1997. A missionária pertencia à
ordem das Irmãs de Notre Dame
de Namur e estava no Brasil desde
a década de 1960.
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