São Paulo, terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

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Após suspensão de cestas, índio de 2 anos morre em MS

Número de crianças com desnutrição severa cresceu de dezembro a janeiro em reserva

Governador peeemedebista deixou de distribuir 11 mil cestas a índios; doações do governo federal estavam atrasadas havia 20 dias

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

O menino indígena Nandinho Fernandes, de dois anos e um mês, morreu no fim de semana após ser internado com desnutrição grave no Hospital Universitário em Dourados (MS), informou a Funasa (Fundação Nacional de Saúde). Ele morava numa reserva indígena habitada por 11 mil guaranis e caiuás, a 10 km da cidade.
No fim de dezembro do ano passado, havia 15 crianças com desnutrição severa na reserva. Em janeiro deste ano, eram 27, ainda conforme a Funasa.
Ao assumir o governo do Estado, o governador André Puccinelli (PMDB) suspendeu a entrega de 11 mil cestas básicas a índios. A distribuição fazia parte do programa Segurança Alimentar, mantido pelo governo anterior e suspenso devido à crise financeira do Estado.
A assessoria de imprensa do governador informou que caberia à Funasa falar sobre a morte de Nandinho. Também afirmou que foi pedido ao governo federal para assumir a assistência nas aldeias (leia texto nesta página).
A Funasa, que também distribui cestas básicas mensalmente, só voltou ao abastecimento normal -que estava atrasado havia 20 dias- na semana passada.
O órgão não relaciona a morte de Nandinho à suspensão do programa do Estado ou ao atraso na entrega das cestas, mas avalia que o aumento de crianças desnutridas pode ser conseqüência desses dois fatos.
Conforme números oficiais da Funasa, em 2004 a desnutrição causou 21 mortes de crianças menores de um ano na região sul do Estado. No ano seguinte, foram dois óbitos. Em 2006, ocorreu um caso.
Ainda em 2005, a Folha apontou que 15 crianças menores de cinco anos morreram de desnutrição nos primeiros meses daquele ano. A situação levou a Funasa a reforçar a assistência às crianças indígenas no sul do Estado.
Antônio Costa, coordenador técnico da Funasa em Dourados, afirmou que os pais de Nandinho recebem cestas de alimentos e que é necessária uma investigação para saber a causa da desnutrição.
Os pais da criança indígena morta afirmaram que não faltava comida, segundo o médico da Funasa Zelick Trajber. No entanto, o coordenador Costa disse que a mãe da criança não aceitava internar o menino.
Em novembro passado, a Funasa, que acompanha 2.200 crianças indígenas menores de cinco anos em Dourados, constatou que Nandinho estava com desnutrição moderada. No dia 31 de janeiro, ele foi internado com desnutrição grave, segundo Costa. Nandinho estava com diarréia e vômito e morreu de insuficiência renal.

Cestas básicas
O governo de Mato Grosso do Sul distribuía 1.700 cestas em Dourados. Além disso, a Funasa retomou a entrega de 2.500. No município, 8,8% (194) das 2.200 crianças acompanhadas pelo órgão estão com desnutrição moderada ou grave. Ao menos 250 estão em situação de risco nutricional.
As cestas que eram distribuídas pelo governo estadual continham 32 kg de alimentos: 10 kg de arroz, 5 kg de feijão, 5 kg de açúcar, 1 kg de macarrão, quatro latas de óleo, 1 kg de leite em pó, 1 kg de fubá, 1 kg de erva-mate, 1 kg de farinha de mandioca, 1 kg de charque, 500 gramas de goiabada, 1 kg de sal e cinco latas de sardinhas.


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