São Paulo, sábado, 13 de fevereiro de 2010

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Acesso de Agnelo a vídeo de propina divide PT

MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Pré-candidato do PT ao governo do Distrito Federal, o ex-ministro Agnelo Queiroz trouxe desconforto à sigla ao ser obrigado a admitir que assistiu ao vídeo do governador José Roberto Arruda (sem partido) recebendo propina antes de ser deflagrada a Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal. Ele não levou o caso às instâncias partidárias e tampouco ao Ministério Público.
O petista assistiu a três vídeos no ano passado, no Palácio do Buriti, no gabinete de Durval Barbosa -ex-secretário de Articulação Institucional de Arruda responsável pelas gravações clandestinas que trouxeram à tona o suposto esquema de corrupção no DF.
Apesar de o PT tentar tratar o caso como superado, especulações sobre a possibilidade de Barbosa ter gravado também o encontro com Agnelo sacudiram os ânimos no partido e levaram setores a defender a candidatura do deputado federal Geraldo Magela ao governo do DF. Consultas jurídicas foram feitas sobre se o episódio configuraria prevaricação de Agnelo.
Magela, que concorreu ao governo em 2002 e foi derrotado por Joaquim Roriz no segundo turno, teve seu nome envolvido no escândalo Waldomiro Diniz, sobre o suposto financiamento de campanhas eleitorais com recursos do jogo do bicho.
A direção do PT tenta controlar o incêndio para que o episódio não inviabilize a pré-candidatura de Agnelo e nem contamine o 4º Congresso Nacional da sigla, na próxima semana em Brasília, quando a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) será aclamada pré-candidata à Presidência.
Dirigentes do partido avaliam, ainda, que é um erro estratégico insuflar a divisão interna num momento em que a pré-candidatura petista deveria emergir diante da prisão preventiva de Arruda.
Segundo petistas, Agnelo foi convidado para o encontro pelo jornalista Edmilson Edson dos Santos, o Sombra, protagonista da prisão preventiva de Arruda, feita com base na acusação de que o governador tentou suborná-lo para que não prestasse depoimento.
"Não vejo nenhum problema nisso. O Agnelo não era autoridade. Se fosse deputado e não denunciasse, seria grave", diz Chico Vigilante, até a semana passada presidente do PT-DF. "Quando fiquei sabendo disso, chamei o Agnelo para conversar", conta o petista.
A confissão de Agnelo foi feita no início do mês à direção do PT, quando começaram a circular boatos em Brasília que ele fora gravado por Barbosa.
"Concordei em ir ao gabinete do [...] Durval Barbosa. É um local público e de grande movimento. Estive lá, sozinho, no meio da tarde de um dia útil, sem qualquer preocupação por estar sendo visto. Nada tinha a esconder. E agora nada tenho a esconder", explicou Agnelo no dia 25 de janeiro, em seu blog.
Ele dá justificativas ao ponto que preocupa o PT: "Dizem que [Barbosa] pode ter gravado minha presença em seu gabinete. Torço para que tenha mesmo gravado, para que fique claramente demonstrado que, ao contrário do que insinuam maldosamente adversários políticos, não tratei de nenhum outro assunto com ele e não cometi nenhum ato ilícito".
Procurado ontem pela Folha, o pré-candidato do PT não respondeu aos recados. Segundo a assessoria de imprensa de Agnelo, ele permanece pré-candidato, tem o apoio da direção do PT, e não alimentará disputas internas com Magela.
"Tenho recebido pressões, tanto internas quanto de fora do PT, para recolocar meu nome. Estou avaliando e refletindo. Se for bom para o PT não vou recusar", disse Magela. Ele acrescentou ter "certeza de que não há nada que comprometa a idoneidade moral de Agnelo".


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