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Planalto quer evitar "desgaste" de intervenção
Avaliação é que governo federal teria de responder por crise de administração sobre a qual não tem responsabilidade
Paulo Octávio, governador interino do DF e contrário à intervenção federal, diz que "não há crise institucional, o governo está funcionando"
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Palácio do Planalto avalia
que politicamente a intervenção no Distrito Federal será um
"desgaste" num ano eleitoral e
vai tentar evitá-la. Sabe, porém,
que as circunstâncias podem
torná-la inevitável.
O governo já acionou até
mesmo ministros com acesso
ao Supremo Tribunal Federal
para iniciar negociações visando evitar a decretação de intervenção no governo do DF, cujo
pedido já foi feito pela Procuradoria-Geral da República.
O ministro Nelson Jobim
(Defesa), ex-presidente do
STF, será um dos principais interlocutores do governo por
sua proximidade com o atual
presidente, Gilmar Mendes.
Além dele, também foi acionado o advogado-geral da União,
Luís Inácio Adams, para contatar outros ministros, como José Antônio Dias Toffoli.
A estratégia foi discutida ontem em reunião entre os ministros Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Luiz Paulo Barreto (Justiça). Na avaliação do governo, a intervenção
seria "um grande pepino" num
ano eleitoral, colocando sob
responsabilidade federal uma
gestão totalmente contaminada e quase fora de controle.
Uma crise que, por enquanto,
tem desgastado exatamente
um adversário na disputa presidencial deste ano, o Democratas, partido aliado do pré-candidato tucano José Serra.
O receio presidencial é que a
intervenção acabe sendo inevitável caso o governador interino, Paulo Octávio, não consiga
se firmar no cargo e seja obrigado a se afastar também. A volta
de José Roberto Arruda, preso
desde a última quinta-feira, é
considerada improvável.
Nesse caso, a estratégia será
fazer uma negociação institucional com o STF para que a decisão seja tomada depois de
montada e negociada a operação de escolha do futuro interventor. O governo acredita que
haja tempo para isso, já que o
plenário do Supremo deve analisar o caso entre o final de fevereiro e o início de março.
Dentro do STF ainda não há
um consenso sobre o assunto.
Alguns ministros avaliam que,
tecnicamente, o pedido de intervenção do Ministério Público deve ser acatado, porque Arruda feriu o princípio republicano da responsabilidade pessoal ao supostamente tentar interferir nas investigações.
Outros não concordam com
essa tese. Para eles, a quebra do
princípio republicano, alegado
pela Procuradoria-Geral da República, só caberia se Arruda
estivesse adotando posições semelhantes às de um monarca.
Há, porém, um entendimento quase consensual de que esse
será um tema que demandará
uma negociação institucional
entre os três Poderes antes de
se tomar qualquer decisão.
Por enquanto, o governo avalia que seu desempenho no episódio foi bem-sucedido. A prisão de Arruda pela Polícia Federal foi discreta e evitou causar constrangimentos.
Interino
No seu segundo dia como governador interino, Paulo Octávio (DEM) tentou passar uma
impressão de normalidade, o
que dispensaria uma intervenção. "Não há crise institucional,
o governo está funcionando",
afirmou o assessor do Executivo André Duda, dizendo falar
em nome do Palácio do Buriti.
Octávio se reuniu com secretários. Teria discutido a argumentação que o governo apresentará contra a intervenção.
Após o almoço, visitou o presidente do Tribunal de Justiça,
Nivio Geraldo Gonçalves.
Assessores de Octávio disseram que teria havido consenso
de que a intervenção é prejudicial para o DF e para a democracia. A assessoria do TJ, porém, disse que o presidente do
tribunal não manifestou juízo
de valor sobre o caso, afirmando apenas, de forma genérica,
que é uma situação séria haver
casos que exijam intervenção.
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