São Paulo, quarta-feira, 13 de março de 2002

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JANIO DE FREITAS

O mesmo método

Tratar o PFL ou pefelistas com a isenção possível não é coisa que se deva fazer na imprensa brasileira. Dizer, por exemplo, que o PFL é que sabe fazer política, no sentido de condução do jogo, suscita comentários depreciativos e, quando a leviandade é transbordante, até insultos. Mas é isso mesmo: o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen, mal chegou a S. Luís, para uma reunião de comando pefelista com Roseana Sarney, houve logo uma forte revirada no impasse da candidatura ferida.
A absorção, por Jorge Murad, da responsabilidade pela origem e posse do R$ 1,34 milhão, que obceca a imprensa tão apática quando no ano passado apareceu o vasto caixa dois da campanha de Fernando Henrique, puxou um fio do nó político que atou Roseana e o PFL mesmo, agora restando ver se será suficiente para desatá-lo.
A renúncia de Murad ao cargo de secretário tem pouco sentido político e nem seria indispensável, mas está claro que pretende ser uma satisfação à opinião pública. Objetivo que não depende dos envolvidos pessoais nem do PFL, mas da mídia, o que desde logo desaconselha qualquer otimismo dos interessados.
É discutível, ou muito mais do que isso, a opinião dominante no comentarismo e no noticiário político apontando ilegalidade de Roseana, antes, e agora de Murad, pela coleta de contribuição financeira. Ela ainda não é candidata. Pode dizer que a coleta foi para financiar os gastos com o trabalho destinado a viabilizar a candidatura. E isso pode figurar, sem ilegalidade alguma, como doação pessoal ou como empréstimo, desde que assim declarado no imposto de renda.
Como estariam andando pelo país afora José Serra, Ciro Gomes e Luís Lula da Silva, não fossem as contribuições? Legais. Todos podem dizer que seus partidos estão cobrindo os gastos. Muito bem. Mas algum deles já é candidato indicado por convenção, com comitê constituído e contabilidade de despesas, para que os respectivos partidos possam cobrir legalmente suas despesas?
Cada um diga o que lhe convier, mas o método é sempre o mesmo e para todos. Se alguns são cobrados e outros não, isso fica por conta da hipocrisia política e do partidarismo que domina a mídia brasileira.
Crime contra a Lei Eleitoral e outras foi, sim, o caixa dois de Fernando Henrique: dinheiro recebido durante a campanha eleitoral, a pretexto da campanha eleitoral e que ninguém de fora do núcleo da campanha sabe onde foi parar.
Mas se sabe que existiu e que, esse sim, foi dinheirama, tão graúda que deixou um rastro indelével. Ou as impressões de um crime que não suscitou o interesse da mídia tão independente, imparcial e moralizadora.


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