São Paulo, sábado, 13 de março de 2004

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Para Pires, em país do rouba, mas faz, Waldomiro não merece CPI

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O corregedor-geral da União, Waldir Pires, disse ontem que, "em um país habituado ao rouba, mas faz", o caso do ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência Waldomiro Diniz não é suficiente para gerar CPI. Ao falar da amizade de José Dirceu (Casa Civil) com Waldomiro, citou Jesus Cristo, "que conviveu com Judas tantos anos".
"Esse caso do Waldomiro não é caso para CPI. Levar a nação a um tumulto de ação política por causa de um funcionário que praticou ato corrupto? Em um país habituado ao rouba, mas faz, e a oligarquias que produziram todo o tipo de coisa? Isso não é possível."
Waldomiro aparece em fita de vídeo cobrando propina e contribuição de campanha de um empresário de jogos, em 2002. À época, era presidente da Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro), na gestão Benedita da Silva (PT).
Para o corregedor-geral, o governo cumpriu seu dever ao demitir o funcionário, e as investigações estão sendo feitas. "Entre isso e ter uma CPI é uma distância gigantesca. Até porque um assessor praticar atos de corrupção é uma coisa assim que, infelizmente, acontece generalizadamente. [...] E Cristo, que conviveu com Judas tantos anos? Ele tinha que saber antecipadamente?", disse.
Ainda se opondo à CPI, Pires disse que "não podemos tumultuar a vida da República em razão de um desvio de um funcionário aqui ou acolá". Cabe à Corregedoria Geral da União investigar denúncias de lesão ao patrimônio público e assessorar o presidente da República quanto ao controle interno da máquina pública.
Pires também minimizou a atuação do filho de Dirceu, Zeca Dirceu, pré-candidato do PT à Prefeitura de Cruzeiro do Oeste (PR), na liberação de verbas do Orçamento para a sua região.
"Tenho lido algumas notícias a respeito [do assunto], mas não recebi denúncia nenhuma. Não vi também fato específico de que houve tráfico de influência. Vivemos em um país com determinados costumes, temos que reformular esses costumes e ter atenção com os objetivos das atividades de cada ação pública."
Pires considerou "natural" a hipótese de o ministro ter aberto portas para seu filho no governo. "Não sei [se abriu portas], acho que não, mas é uma coisa que até se presume. É natural, o filho de fulano ou beltrano, e que alguém na sociedade imagine que possa estar tendo um ato de simpatia em relação a uma personalidade como Dirceu", afirmou Pires.


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