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ELIO GASPARI
Não rias do FMI, Argentina
Saiu um livraço nos Estados
Unidos. Chama-se "E o Dinheiro Continuou Entrando (e
Saindo) - Wall Street, o FMI, e a
Bancarrota da Argentina". Seu
autor é o jornalista Paul Blustein,
do "Washington Post". Ele já escreveu "O Castigo" (editado no
Brasil), onde contou como o FMI
desgraçou a vida de centenas de
milhões de pessoas durante a crise
asiática de 1997.
O título do novo livro de Blustein saiu de duas falas do Che
Guevara no musical "Evita". Baseia-se em mais de cem entrevistas com a cúpula do FMI, a ekipekonômica argentina e os sábios
do mercado. Vai de 1991, quando
o presidente Carlos Menem equiparou o peso ao dólar, até 2002,
quando a paridade foi abandonada com o país na bancarrota e
metade da população na miséria.
Blustein mostra que a turma do
andar de cima da economia
mundial se diverte à custa da patuléia cá de baixo. Dois exemplos:
Em 1992, quando Carlos Menem era rei, o economista-chefe
do FMI, Michael Mussa, disse a
um argentino de sua equipe que
estava voltando para Buenos Aires para trabalhar com o presidente do Banco Central, Roque
Fernandez: "Diga ao Roque para
cair fora enquanto ele está numa
boa".
Em agosto de 2001, o país ia para o ralo. Glenn Hubbard, presidente do Conselho de Assessores
Econômicos da Casa Branca, estava em casa falando ao telefone
com George W. Bush. A conversa
era atrapalhada pelo choro e pela
voz de uma criança. Era Will, o filho de três anos de Hubbard. O
economista explicou ao presidente: "Ele está chorando pela Argentina".
Apesar do róseo lero-lero da
banca, a idéia da reestruturação
da dívida argentina não saiu da
cabeça dos opositores da paridade. Ela começou a ser discutida
no FMI em novembro de 2000.
Chamava-se "Plano Gamma".
Em outubro de 2001, os banqueiros tentaram transformar parte
da dívida em anéis de fumaça.
Seu arquiteto era o doutor William Rhodes, do Citibank. Nesses
dias, o FMI mandou secretamente para Buenos Aires o economista Mathew Fisher, vulgo "papa-defunto". Levava uma proposta
pela qual os credores entregariam
algo entre 30% e 40% do valor de
seus papéis. Não deu certo.
Blustein é um grande jornalista
e escritor elegante. Por mais duras que sejam suas conclusões,
não há nelas viés satanizante.
Com algum gosto, dá a palavra
ao atual ministro da Economia
argentino, Roberto Lavagna, para falar dos riscos do andar de
baixo:
"O pior momento é aquele
quando o mercado financeiro está com dinheiro sobrando. É nessa hora que os países cometem
seus piores erros".
FFFHHH 2006
Um curioso que foi atrás da
agenda e das recentes conversas de FFHH chegou a duas
conclusões:
°°°1) Ele é candidato a presidente da República.
°°°2) Junto com sua candidatura vem a promessa de que, por
sua vontade, ficará só quatro
anos. Assumiria com 75 anos e
terminaria o mandato com 79.
°°°Nesse caso, depois de chegar
ao poder em 1995 como FHC,
transformando-se quatro anos
depois em FFHH, ele poderá
reencarnar como FFFHHH em
2006. A idéia de um retorno do
príncipe para desmanchar o
instituto da reeleição seria uma
boa contribuição ao ordenamento político nacional. Pena
que tanto ele quanto Lula tenham repetido que eram contra a reeleição. Quando chegaram aos roupões de algodão
egípcio, esqueceram o que escreveram, o que leram, o que
disseram e o que pensaram.
Recordar é viver
O comissário José Eduardo
Dutra, da Petrobras, vai à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado para falar sobre
o rombo de R$ 8,3 bilhões do
fundo de pensão Petros. Será
confrontado com diversas promissórias que deixou por lá.
Elas remontam ao escândalo
da violação do painel da votação que cassou o senador Luiz
Estevão, em junho de 2000. Dutra era líder do PT e teria sido
avisado de que sua colega Heloísa Helena votara em favor de
Estevão. Ele negou que tivesse
recebido a informação. Se a tivesse ouvido, teria sabido que o
painel estava bichado, sem
alertar a companheira senadora e os demais colegas.
Caso de som
Definição ouvida por aí: "Lula é
o FFHH com buzina". (A piada
deve crédito ao falecido chanceler Azeredo da Silveira. É dele, nos anos 70, a frase: "O México é o Canadá com buzina".)
UniLula
Lula defendeu os gastos sociais do governo, argumentando que o Bolsa-Família
não é despesa, mas investimento. Nada mais verdadeiro, assim como os roupões
de algodão egípcio licitados
pela sua mordomia são gastos, e não investimento. Lula
disse que a confusão entre
despesa e investimento é
"um erro sociológico do
país".
°°°Ganha uma viagem de ida
a Cuba quem tiver entendido o que o presidente quis
dizer. Ganha uma viagem de
volta ao Brasil quem for capaz de explicar o que é um
"erro sociológico" e como
um país pode cometê-lo.
George Chávez
Roger Noriega, subsecretário de Estado americano para a América Latina, acusou
o presidente venezuelano
Hugo Chávez de "abandonar deliberadamente os
princípios democráticos, especialmente depois de sua
vitória no referendo revogatório de agosto de 2004".
Eremildo é um idiota e
acredita em tudo o que os
governos dizem. Lendo os
casos de terceirização dos
interrogatórios de prisioneiros e narrativas do que
acontece na prisão militar
americana de Guantánamo,
ele escreveu o seguinte:
"George Bush abandona
deliberadamente os princípios democráticos, especialmente depois de sua vitória
no plebiscito revogatório de
novembro de 2004".
Nonô 14
O primeiro-vice-presidente
da Câmara, deputado José
Tomás Nonô, subiu no salto
alto de Luís 14. Presidindo
uma sessão, cassou a palavra
de uma colega com a desenvoltura de um fiscal de camelôs. Noutra, encerrou
uma votação sem que ela estivesse concluída.
°°°Durante mais de uma década, Nonô foi um parlamentar de modos impecáveis. Parece ter se cansado.
Voar ou sanear, eis a questão
Petista federal gosta de avião,
quem gosta de esgoto é intelectual.
Em 2004, o governo Lula gastou
R$ 810 milhões em passagens e
diárias. Somando-se a esse ervanário os R$ 126 milhões do AeroLula, chega-se a um total de R$
936 milhões. Segundo o Palácio do
Planalto, nesse mesmo ano todos
os gastos do governo com programas de saneamento somaram R$
1,2 bilhão.
A diferença entre o que o pessoal
gasta em saneamento e o que consome nas viagens está em menos
de R$ 300 milhões.
O programa de saneamento ambiental urbano do Ministério das
Cidades passa fome e viaja a pé: O
Sistema Integrado de Administração Financeira, o Siafi, informa
que em 2004 foram gastos R$ 90,4
milhões de uma dotação autorizada de R$ 893,5 milhões.
Isso na rota do trabalhório. Na
do palavrório, só nos últimos quatro meses de 2004 realizaram-se 11
seminários para discutir o Anteprojeto de Lei da Política Nacional de Saneamento Ambiental.
Curiosidade: o total dos gastos
com diárias e passagens dos companheiros aninhados na Presidência da República e nos seus gabinetes foi de R$ 20 milhões. Nesse
cheque não estão computadas as
viagens do comissário José Dirceu
em aviões militares, inclusive
aquela que se destinou a abrilhantar um encontro partidário.
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