São Paulo, domingo, 13 de março de 2005

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TRANSPOSIÇÃO

Comunidades vizinhas de açude sofrem falta de água

DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

Do alto da parede do açude do Castanhão, na bacia hidrográfica do médio Jaguaribe, no Ceará, não é possível ver o fim de tanta água. Com capacidade de 6,7 bilhões de metros cúbicos, o reservatório concentrava, na semana passada, 64,1% do total, com 4,3 bilhões de metros cúbicos.
Apesar da fartura de recursos hídricos, comunidades a menos de 30 km de distância do açude sofrem para ter acesso à água e dependem de favores políticos para manter seu abastecimento. Faltam a essa população obras que garantam a distribuição da água de forma ininterrupta.
Enquanto não chove, as 350 famílias de cinco comunidades localizadas fora da sede das cidades de Tabuleiro do Norte e de São João do Jaguaribe, a 220 km de Fortaleza, têm de esperar carros-pipa para encher cisternas construídas ao lado das casas. Na área urbana dessas cidades, há água.
O uso da água das cisternas tem de ser racionado porque o reabastecimento não acontece antes de um mês. Quando a água acaba, cada morador tem de ir à prefeitura refazer um cadastro e provar que precisa do carro-pipa.
Na comunidade de Cajueiro, em Tabuleiro do Norte, apenas a dona-de-casa Edwiges Paula Lima Souza, 41, tinha água na cisterna no dia 24 de fevereiro. Explicou que sua cisterna é abastecida pela prefeitura da cidade vizinha, São João do Jaguaribe. "Tenho título de eleitor lá e não pretendo mudar. Pelo menos a prefeitura manda água quando eu preciso."
Sua filha, Verinalda Lima Souza, 17, mora numa casa vizinha, mas havia mais de uma semana que não tinha água em sua cisterna, abastecida, como as demais, pela Prefeitura de Tabuleiro.
Enquanto não era feito o reabastecimento, ela e outros vizinhos pediam água emprestada a Edwiges para lavar, cozinhar, beber, tomar banho. "Aqui todo mundo tem de ser solidário, a gente não sabe o dia de amanhã."
Mais perto do açude do Castanhão, o assentamento Charneca, do Incra, em São João do Jaguaribe, onde moram 80 famílias, tem duas cisternas comunitárias, reabastecidas toda semana.
Há sete anos, a localidade, assim como as demais, espera a construção de uma adutora, pelo governo do Estado, para fazer chegar a água direto até as casas. Em novembro de 2004, a obra chegou a ser anunciada, mas foi suspensa.
Segundo Josias Farias Neto, da Secretaria de Desenvolvimento Local e Regional do governo do Ceará, a obra foi paralisada porque a escavação que deveria ter sido executada pela Prefeitura de Tabuleiro não foi concluída pela mudança de prefeito. "Agora fizemos novas reuniões, e a Prefeitura de São João do Jaguaribe se comprometeu a ajudar", disse.
Tanto Tabuleiro como São João do Jaguaribe estão entre os 39 municípios do Ceará que decretaram situação de emergência pela seca e que esperam ajuda federal para manter os carros-pipa.
(KAMILA FERNANDES)

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