São Paulo, segunda-feira, 13 de março de 2006

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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA

PSDB marcou para amanhã anúncio de candidato, mas pode ter que delegar decisão a diretório

Hesitação de Serra leva Aécio a transferir apoio a Alckmin

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A hesitação do prefeito José Serra desidratou o suporte partidário à sua candidatura à Presidência. Antes favorável ao lançamento de Serra ao Palácio do Planalto, o governador de Minas, Aécio Neves, tem dito a interlocutores que, "a essa altura do campeonato", o governador Geraldo Alckmin é a melhor opção do PSDB para evitar mais desgaste num momento de ascensão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Encarregado de consultar os demais governadores sobre a candidatura ideal, Aécio chega a apostar no anúncio de uma dobradinha amanhã, com Alckmin para a Presidência e Serra para o Palácio Bandeirantes. A hipótese tem sido rechaçada por serristas.
A intenção da cúpula do partido é chegar a um acordo até amanhã. Mas, mantido o impasse, a Executiva Nacional do PSDB deverá se reunir ainda amanhã, para a convocação do Diretório Nacional na semana seguinte.
Convertido em voto, o apoio de Aécio à candidatura Alckmin poderia desestimular Serra para uma disputa interna. Como uma parte expressiva do PSDB de São Paulo já defende Alckmin e Minas representa uma grande fatia do partido, Serra poderia ficar em desvantagem, caso Aécio decidisse exercer influência.
Os aliados de Serra, no entanto, afirmam que um apoio de Aécio a Alckmin não seria suficiente para derrotá-lo no diretório, fórum que está sendo cogitado para palco da disputa entre os dois.
Os serristas consultaram ontem os principais aliados do prefeito dentro da Executiva Nacional e do diretório para avaliar a possibilidade de disputa. Todos teriam estimulado o prefeito.
Na noite de sábado, Serra também ouviu seus principais aliados em São Paulo, como os secretários Aloysio Nunes Ferreira e Walter Feldman e o deputado Alberto Goldman. Os três teriam incentivado Serra a concorrer. O prefeito não tinha se decidido, sob o argumento de que não está certo se deve deixar o cargo.
"Ele só ouviu", contou Feldman, defensor da candidatura.
Os aliados de Serra ainda têm a expectativa de que Aécio seja leal à decisão do presidente do partido, Tasso Jereissati (CE), caso ele venha a apoiar o prefeito. Tasso, porém, não teria explicitado sua opinião depois das reuniões da semana passada.
Aécio, Tasso e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso -integrantes do chamado triunvirato- defendiam o nome do Serra mesmo quando as pesquisas esboçaram a recuperação de Lula. Os números mostravam que Serra era mais competitivo.
Com a insistência de Alckmin e a demora de Serra, o trio começou a manifestar preocupação com o desgaste interno e também com o risco de derrota.
Além de Aécio, FHC chegou a propor que Serra concorresse ao governo do Estado, possibilidade descartada pelos aliados do prefeito. "Estamos hoje discutindo o Serra ser candidato a presidente.O prefeito Serra não cogita ser candidato a governador . Essa hipótese não existe", reagiu Aloysio.
Segundo serristas, FHC continua defendendo a idéia, mas teria prometido apoio ao prefeito para qualquer que seja sua decisão.
Serra e Alckmin teriam programado um encontro para os próximos dias. Ontem, em suas visitas à Bienal do Livro, afirmaram que o encontro não está marcado.
Alckmin disse que "não há razão para mudança [da data]". "Espero que saia [o nome]. Mas também, se não sair, não vai acabar o mundo", disse.
O governador admitiu a hipótese de apoiar o fim da reeleição -objeto de interesse de Aécio-, desde que seja mantido o mandato de quatro anos.
Alckmin reafirmou que sua "saideira" do governo será na inauguração da estação Chácara Klabin, do Metrô. E, ao deixar a Bienal, recolheu pessoalmente, na lama, lixo da marginal Tietê.
Serra chegou à Bienal quase duas horas após a saída de Alckmin e avisou que não falaria sobre política. Estava acompanhado do neto, do genro e da mulher, Mônica. Comeu e passeou pelos estandes, mas não comprou nada.
Disse que, atualmente, está lendo entrevistas do escritor argentino Ernesto Sabato, mas ressaltou não se lembrar do nome da obra. Em 1987, Sabato concedeu ao ensaísta Carlos Catania, também argentino, 11 entrevistas, que resultaram no livro batizado com o seguinte título: "Meus Fantasmas".


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