São Paulo, sexta-feira, 13 de março de 2009

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"Química" entre líderes preocupa assessores

DE WASHINGTON

No primeiro contato que Barack Obama teve com um diplomata do Brasil, ainda como candidato a presidente dos EUA, no ano passado, na Pensilvânia, ele disse: "Eu não pareço brasileiro?". A frase contrasta com outra atribuída a seu antecessor, George W. Bush, que em uma de suas primeiras interações com autoridades brasileiras teria perguntado se no país também havia negros.
Apesar de o democrata ter a vantagem do conhecimento geográfico, o antecessor republicano contava com uma conexão pessoal com Lula que, segundo assessores de ambos os lados, era verdadeira. Amanhã, a grande expectativa da equipe brasileira é saber se os dois líderes também se conectarão.
Segundo resumo dos telefonemas que trocaram em novembro e janeiro, o diálogo foi amistoso. Ambos trazem na biografia o fato de terem rompido barreiras históricas, o primeiro negro americano e o primeiro operário brasileiro a assumirem o cargo mais elevado de seus respectivos países. Fora isso, há pouco mais. Onde Lula é espontâneo, o que agradava a Bush, o democrata é metódico e cerebral. Mesmo em circunstâncias mais descontraídas, é raro ele sair do roteiro.
"Eles têm muito em comum não só pessoalmente como em políticas específicas, que é caso da visão para energia", disse à Folha Thomas McLarty, o responsável pela América Latina sob Bill Clinton. Já Otto Reich, que ocupou cargo semelhante no governo de Bush, acha que o resultado é imprevisível.
"Claro que [Obama] será hospitaleiro, mas veja o que aconteceu com o primeiro-ministro do Reino Unido." Ele se refere à visita recente de Gordon Brown, que causou constrangimento pela aparição dos dois depois do encontro, improvisada e na qual o democrata parecia distante, e alimentada pela imprensa britânica, que viu frieza na recepção.
A começar pelos presentes trocados: Brown trouxe um porta-caneta feito da madeira de uma embarcação-irmã da qual foi feita a escrivaninha do Salão Oval, do século 19; em troca, Obama lhe deu uma coleção de DVDs (incluindo "Psicose"). Dias antes, o democrata havia devolvido para a embaixada britânica o busto de Winston Churchill, que enfeitava o Salão Oval desde o ataque de 11 de Setembro de 2001.
Agora, as apostas também são altas. É que, além de amanhã, nos próximos dias os dois líderes se reunirão na reunião do G20, em Londres, no começo de abril, e no 5º Encontro das Américas, na metade daquele mês, em Trinidad e Tobago. A química entre os dois presidentes pode ajudar a avançar a agenda comum. (SD)


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