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"Química" entre líderes preocupa assessores
DE WASHINGTON
No primeiro contato que Barack Obama teve com um diplomata do Brasil, ainda como
candidato a presidente dos
EUA, no ano passado, na Pensilvânia, ele disse: "Eu não pareço brasileiro?". A frase contrasta com outra atribuída a seu
antecessor, George W. Bush,
que em uma de suas primeiras
interações com autoridades
brasileiras teria perguntado se
no país também havia negros.
Apesar de o democrata ter a
vantagem do conhecimento
geográfico, o antecessor republicano contava com uma conexão pessoal com Lula que, segundo assessores de ambos os
lados, era verdadeira. Amanhã,
a grande expectativa da equipe
brasileira é saber se os dois líderes também se conectarão.
Segundo resumo dos telefonemas que trocaram em novembro e janeiro, o diálogo foi
amistoso. Ambos trazem na
biografia o fato de terem rompido barreiras históricas, o primeiro negro americano e o primeiro operário brasileiro a assumirem o cargo mais elevado
de seus respectivos países. Fora
isso, há pouco mais. Onde Lula
é espontâneo, o que agradava a
Bush, o democrata é metódico e
cerebral. Mesmo em circunstâncias mais descontraídas, é
raro ele sair do roteiro.
"Eles têm muito em comum
não só pessoalmente como em
políticas específicas, que é caso
da visão para energia", disse à
Folha Thomas McLarty, o responsável pela América Latina
sob Bill Clinton. Já Otto Reich,
que ocupou cargo semelhante
no governo de Bush, acha que o
resultado é imprevisível.
"Claro que [Obama] será
hospitaleiro, mas veja o que
aconteceu com o primeiro-ministro do Reino Unido." Ele se
refere à visita recente de Gordon Brown, que causou constrangimento pela aparição dos
dois depois do encontro, improvisada e na qual o democrata parecia distante, e alimentada pela imprensa britânica, que
viu frieza na recepção.
A começar pelos presentes
trocados: Brown trouxe um
porta-caneta feito da madeira
de uma embarcação-irmã da
qual foi feita a escrivaninha do
Salão Oval, do século 19; em
troca, Obama lhe deu uma coleção de DVDs (incluindo "Psicose"). Dias antes, o democrata
havia devolvido para a embaixada britânica o busto de Winston Churchill, que enfeitava o
Salão Oval desde o ataque de 11
de Setembro de 2001.
Agora, as apostas também
são altas. É que, além de amanhã, nos próximos dias os dois
líderes se reunirão na reunião
do G20, em Londres, no começo de abril, e no 5º Encontro
das Américas, na metade daquele mês, em Trinidad e Tobago. A química entre os dois presidentes pode ajudar a avançar
a agenda comum.
(SD)
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